“Num contexto social e cultural marcado pelo conflito e pelo narcisismo, precisamos aprender a amar e fazê-lo como Jesus”, disse o Papa Leão XIV num encontro com seminaristas de todo o mundo, neste Jubileu 2025.
Rui Saraiva – Portugal
Neste Ano Santo, no Vaticano, teve lugar o Jubileu dos Seminaristas. No dia 24 de junho, na Basílica de S. Pedro, Leão XIV reuniu-se com seminaristas de todo o mundo, acompanhados pelos seus formadores.
Na sua meditação, o Papa começou por lhes dizer que têm de ser corajosos. “Não tenham medo”, afirmou. Assinalou que um Seminário deve ser uma escola dos afetos que aprenda a amar como Jesus.
Escola dos afetos para aprender a amar como Jesus
“O seminário deve ser uma escola dos afetos. Hoje de modo especial, num contexto social e cultural marcado pelo conflito e pelo narcisismo, precisamos aprender a amar e fazê-lo como Jesus. Assim como Cristo amou com coração de homem, vocês são chamados a amar com o Coração de Cristo!”, disse o Santo Padre.
O Papa Leão convidou os jovens seminaristas a invocarem com assiduidade o Espírito Santo, ouvindo as vozes da natureza e da arte.
“Convido-vos a invocar frequentemente o Espírito Santo, para que Ele forme em vós um coração dócil, capaz de captar a presença de Deus, também ouvindo as vozes da natureza e da arte, da poesia, da literatura e da música, bem como das ciências humanas”.
Na sua reflexão, o Papa Leão lembrou também os desafios da cultura, como por exemplo a inteligência artificial, mas acima de tudo acentuou que no perfil de um seminarista, deve estar presente a obrigação de saber escutar o grito dos pobres e dos oprimidos, tal como fazia Jesus.
“No rigoroso compromisso do estudo teológico, saibam também ouvir com mente e coração abertos as vozes da cultura, como os recentes desafios da inteligência artificial e das redes sociais. Acima de tudo, como fazia Jesus, saibam ouvir o grito muitas vezes silencioso dos pequenos, dos pobres e dos oprimidos e de tantos, sobretudo jovens, que procuram um sentido para a sua vida”, sublinhou Leão XIV aos seminaristas, durante o Jubileu.
Formação nos Seminários feita por homens e mulheres
A propósito deste encontro jubilar do Papa Leão XIV com os seminaristas de todo o mundo, assinalamos aqui a voz e a intervenção, na Rádio Vaticano e no Vatican News, de dois assíduos colaboradores da Rede Sinodal em Portugal e com empenho específico na formação nos Seminários: a professora Sofia Salgado e o padre Sérgio Leal.
A docente de gestão na Universidade Católica Portuguesa colabora com o Seminário Maior do Porto lecionando a disciplina de administração paroquial aos alunos do 6º ano e em declarações em outubro de 2024, considera ser muito relevante que a formação nos Seminários seja feita por homens e mulheres.
“É muito relevante que a formação dos seminaristas seja feita por homens e mulheres e era relevante que a vivência deles fosse num contexto de homens e mulheres. Por todas as razões e mais algumas. Porque nós temos que aprender a saber estar a saber conversar, a identificar a diferença e a complementaridade. E não acho que seja isolando homens e mulheres que alguma coisa vá ficar melhor. E não encontro nada no Evangelho que me diga que assim deva ser. Jesus escolheu só homens para seus apóstolos, mas são mulheres que estão no anúncio e no discernimento de identificar a ressurreição”, assinala a docente da Universidade Católica.
Sinodalidade na formação do clero
O padre Sérgio Leal que já foi prefeito do Seminário Maior do Porto e doutorou-se em Teologia Pastoral na Pontifícia Universidade Lateranense defendendo uma tese com o título “Pastores para uma Igreja em saída”, em entrevista publicada em abril de 2024, assinala que, no âmbito do caminho sinodal da Igreja, “é preciso pensar e repensar um novo modo de ser pastor hoje”, em particular, “o modo como olhamos o ministério ordenado”.
“É preciso pensar e repensar um novo modo de ser pastor hoje. Se o repensar da sinodalidade coloca em causa o nosso modo de evangelizar hoje, o modo como a Igreja responde à realidade contemporânea e se em tantos lugares isto necessita de uma renovação urgente, tanto mais no modo como olhamos o ministério ordenado. A hierarquia não é de prescindir, no contexto de uma Igreja sinodal. Portanto, aqui estamos todos de acordo, de que o ministério ordenado, o ministério hierárquico, é fundamental para a construção da Igreja sinodal. É o modo como Deus e o próprio Jesus constitui a Igreja, escolhe doze, mas tem como interlocutor primeiro as multidões: uma Igreja que se destina a todos e de onde alguns são escolhidos para o exercício de um ministério de serviço à comunidade. E é este repensar do ministério pastoral hoje que é fundamental. De percebermos que o clericalismo, tantas vezes motivado pelo clero ou até motivado pelos leigos que vivem, muitas vezes, na dependência do clero e de uma pastoral clericocêntrica, tem de achar um fim o mais ligeiro possível, para que se sublinhe aquilo que neste Sínodo fica tão sublinhado: o protagonista da ação da Igreja é todo o povo de Deus. Aquilo que acontece no Concílio Vaticano II, na Lumen Gentium de modo claro. O primeiro capítulo do texto sobre a Igreja, a Lumen Gentium é a Igreja como Mistério, o segundo a Igreja como Povo e depois, só a partir daí, se começa a falar da constituição hierárquica, dos leigos, dos religiosos. Isto é, antes de olharmos aquilo que nos distingue em funções, serviços e ministérios na Igreja, olhamos para a Igreja no seu todo, como povo que somos. E mais do que decidirmos pela Igreja, é decidirmos como Igreja. E aqui o ministério ordenado tem necessariamente que se repensar”, afirma o sacerdote.
O sacerdote português considera que o processo sinodal que a Igreja está a percorrer “implica uma inadiável conversão dos processos de formação”, em particular, do clero. “É necessário que esta formação para a sinodalidade passe pelo exercício concreto da sinodalidade”, diz o padre Sérgio Leal.
“Este caminho sinodal que a Igreja está a fazer implica uma inadiável conversão dos processos de formação. E de formação no seu todo. É necessário que esta formação para a sinodalidade passe pelo exercício concreto da sinodalidade. Por isso, dizemos que numa paróquia para que haja de facto uma formação de todos para a sinodalidade importa criar e valorizar os diferentes conselhos e estruturas de sinodalidade, criar eventos e momentos e processos que sejam sinodais na paróquia onde as pessoas sentem-se envolvidas a participar e aí desenvolvam essas competências sinodais. E se isto é necessário no todo da Igreja como formação, mais ainda naqueles que têm uma função de liderança decisiva no modo como as paróquias se estruturam. Infelizmente, ainda muitas vezes a paróquia vive à imagem do seu pároco, porque é ele que tem a missão de presidir a essa comunidade e está bem, ele tem a missão de presidir ao discernimento comunitário, de presidir à tomada de decisão, mas que envolva todos. E para isso é necessária uma renovada formação que começa na formação inicial dos seminários até à formação permanente do clero e só assim podemos ver um modelo de pastor mais incarnado no tempo em que vivemos”, declara o sacerdote.
Laudetur Iesus Christus