“O povo da África do Sul é orgulhosamente multicolorido, multicultural e multilíngue”: escreve, num comunicado, D. João Noé Rodrigues, bispo de Tzaneen, exortando aos fiéis a combater o fenómeno do racismo cujas consequências, provocadas no passado pelo apartheid, se reflectem ainda hoje na nação sul-africana.
Cidade do Vaticano
“Embora vivamos numa nova África do Sul democrática e não racial – afirma D. João Noé Rodrigues – todos nós trazemos por dentro as feridas do passado. Por isso, todos somos chamados a participar na luta pela cura, a justiça e a igualdade”, apesar de ela ser “uma luta complexa que requer atenção e planificação constantes dentro das organizações políticas, civis, religiosas e econômicas”.
“Qualquer vitória nesta batalha – continua o bispo sul-africano – por mais insignificante que pareça, é uma contribuição vital para a construção de uma nação verdadeiramente unida e democrática”. Do bispo de Tzaneen, vem também o convite a combater os preconceitos, sobretudo entre as velhas gerações, para todos assumirem “uma atitude sincera de respeito e inclusão, independentemente da cor ou cultura da pessoa”.
Racismo é um pecado diante de Deus
Mas é também necessária a autocrítica, escreve o prelado, porque “facilmente voltamos a cair nas velhas modalidades racistas e isto indica que ainda há muito por fazer”. “O racismo é um pecado diante de Deus” que nos criou “à sua imagem e semelhança”, reitera o prelado; é “uma terrível doença que se esconde na mente e no espírito do homem porque nega a humanidade comum a todos”. E não só: ser racista significa cometer “um crime” que deveria ser “punido por lei”.
Comunidades eclesiais lugar de cura e arrependimento contra racismo
Daí a exortação do prelado à “cura”, ou seja, à “compreensão da profunda dignidade” que cada homem tem “independentemente da cultura, da cor da pele ou da origem”. “Deus pode perdoar e curar os racistas – afirma D. Rodrigues – desde que reconheçam o seu pecado, se arrependam e procurem a salvação”. O pensamento do bispo de Tzaneen vai, em seguida, às comunidades eclesiais que “são chamadas a ser um lugar em que esse processo de cura acontece”. “A Igreja não deveria ser um lugar onde os racistas possam achar uma lar! – ressalta o prelado – Eles deveriam, pelo contrário, ser levados a confrontar-se com o Evangelho e convidados a arrepender-se”, em espírito de “conversão”.
Não à vingança, sim a acções concretas seguindo Cristo
Quanto às vítimas da discriminação racial, o prelado as encoraja a colocar a dor sofrida “na oração e fé em Jesus Cristo”, sem reprimir o sofrimento que deixa abertas as feridas do passado, com “um impacto negativo” na vida quotidiana. “Vós sabereis que estais curados – explica o bispo sul-africano àqueles que viveram em primeira pessoa episódios racistas – quando conseguirdes recordar e partilhar as experiências dolorosas da vossa vida, mas permanecendo em paz convosco mesmos. Vós sabereis que estais curados quando virdes naquelas mesmas experiências uma nova força e uma vitória pessoal, porque já nenhuma dor vos mantém como reféns”. Não à vingança, portanto – adverte, concluindo, D. Rodrigues – mas sim, a acções corretas, na sequla de Cristo, Aquele que “crucificado sem pecado nem culpa, venceu a morte”.