A Conferência dos Frades Menores do Brasil e Cone Sul (CBMByConoSur) realizou uma missão envolvendo frades de todas as 12 entidades que a compõem: 9 no Brasil e as outras na Argentina, Paraguai e Chile. Foi a primeira vez em sua história uma missão do gênero e o lugar escolhido foi a Amazônia Brasileira.
Frei Gustavo Wayand Medella
Pela primeira vez em sua história, a Conferência dos Frades Menores do Brasil e Cone Sul (CBMByConoSur) realizou uma missão envolvendo frades de todas as doze entidades que a compõem: nove no Brasil, duas na Argentina-Paraguai e uma no Chile. O lugar escolhido foi a Amazônia Brasileira, na Diocese de Cruzeiro do Sul, no Acre, extremo Noroeste do Brasil. Foram ao todo 18 frades, a maioria dentre os Secretários para Evangelização e Missão das entidades, além de outros frades convidados e do atual Presidente, Frei Fernando Aparecido dos Santos, Custódio da Custódia do Sagrado Coração de Jesus, com Sede em Franca, no interior de São Paulo. Cruzeiro do Sul é a segunda cidade em população do Estado do Acre. A área da Diocese é composta por diferentes municípios, numa imensa extensão de terra e grandes cursos de água que compõem as principais interligações para as Comunidades mais distantes. As grandes distâncias e a pouca infraestrutura para transporte e comunicação, além das questões socioambientais, estão entre os grandes desafios para a Evangelização na Região.
Os frades chegaram no dia 18 de junho, véspera do feriado de Corpus Christi, em voo proveniente de Brasília, com escala em Rio Branco (AC). Foram acolhidos pelo Bispo Diocesano, Dom Flávio Giovaneli e, nos dois primeiros dias, além de participar da Procissão do Santíssimo Corpo de Cristo, puderam conhecer um pouco da realidade do município-sede da Diocese. A cidade se destaca por algumas ladeiras íngremes e pelo grande número de motos que circulam pelas ruas. A presença dos rios também é notável e, no tempo de cheia, algumas áreas são alagadas. Por isso, muitas casas já são construídas sobre palafitas, pequenos troncos de madeira que dão mantém a moradia suspensa do chão. Nestas épocas, os moradores destas regiões precisam trocar as motos, carros e bicicletas por canoas.
Na sexta-feira, dia 20 de junho, os missionários se dividiram em grupos menores de dois ou três e foram enviados a diferentes realidades. Alguns pegaram um bom trecho de estrada em condições difíceis, outros tiveram de lançar mão de transporte fluvial, em canoas e barcos, outros ainda se utilizaram de quadriciclos para vencer a lama e o buraco das trilhas de acesso mais complicado. Nada disso lhes tirou a felicidade. Puderam conhecer e participar do dia a dia do povo simples, caminharam e visitaram muitas casas, especialmente de pessoas doentes e acamadas. Conheceram comunidades ribeirinhas e tribos indígenas. Puderam contribuir na formação de lideranças, nas celebrações litúrgicas e na administração dos sacramentos. Passaram cerca de uma semana nos campos de missão e voltaram com muitas histórias para contar, lições aprendidas e algumas picadas dos insetos da Floresta.
Além de todo o trabalho de campo, os missionários também tiveram um tempo de qualificada e fraterna convivência com o Bispo e diversos presbíteros do clero local, cultivando um espírito de mútua pertença eclesial e senso de colaboração. Para o Bispo Diocesano, Dom Flavio, a presença Franciscana na Diocese é motivo de felicidade e de muita esperança:
“Para nós foi uma bênção, porque tivemos vários dias de animação em diversas comunidades. Também vivemos um tempo de profunda renovação espiritual, tanto para a Diocese quanto para os frades que, desde início, vieram ao nosso encontro com a intenção de se doar e também de receber”, explicou.
A programação foi bastante intensa e incluiu ainda encontros formativos em diferentes áreas, visitas a escolas, hospitais e outras unidades de saúde, participação dos novenários em diferentes comunidades, presença na Rádio e outros meios de comunicação da Diocese, momentos de passeio e lazer para conhecer alguns pontos turísticos da região. Eventos envolvendo a juventude também fizeram parte do programa: houve encontros específicos para esta faixa etária, uma atividade de Evangelização em praça pública e uma Caminhada Franciscana que marcou o encerramento da Missão. A repercussão das diferentes atividades nas Redes Sociais e a participação ativa dos jovens ligados à Pastoral da Comunicação (PASCOM) também foram marcas deste tempo missionário. Na opinião do jovem Zaqueu de Oliveira Rocha, da Paróquia Nossa Senhora da grandeza, a presença dos frades deixou uma marca de felicidade na Diocese: “Eles nos ensinaram muitas cantigas e também nos apresentaram a História de São Francisco. Vivemos uma experiência incrível”, declarou.
Na homilia da Missa de encerramento, celebrada ao fim da Caminhada Franciscana, na Matriz da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no dia 29 de junho, Solenidade de São Pedro e São Paulo, Frei Fernando, presidente da CFMByConoSur, destacou os bons frutos que os frades já estavam colhendo a partir da experiência missionária: “Como franciscanos, irmãos menores, com nossa presença alegre, simples e comprometida, desejamos ser testemunhas do Reino mesmo nos lugares mais longínquos, mas não menos importantes. Pois, a esperança não é ilusão, é decisão. É ver o invisível, confiar no improvável, insistir no bem. Com vocês aprendemos mais ainda a semear e a colher esta esperança com paciência e fé, obedecendo até mesmo os cursos e o tempo dos rios, vossas riquezas. (…) De uma coisa estejam certos, para nós, os frutos já começam a despontar por tudo que isso significou em nossas vidas, e significará para as nossas entidades e para a nossa Conferência do Brasil e Cone Sul”, declarou.
Como gesto de gratidão, os frades preparam um breve vídeo a partir de lembranças e impressões guardaram deste tempo de missão, cujo texto dizia: “Na terra onde o Sol dorme mais tarde, nós descobrimos que a esperança não cochila. Ela segue companheira, silenciosa e fiel, dirigindo os pés e o coração de um povo que, tendo muito ou pouco, sabe repartir o que tem. A mesa, o teto, a estrada, a canoa, a felicidade e, é claro, a esperança. Nestes quase quinze dias aqui na Diocese de Cruzeiro do Sul, nós podemos dizer que tomamos um verdadeiro “Banho de Evangelho” por onde passamos. As visitas, bênçãos, encontros, celebrações, viagens e refeições serviram para confirmar em nós a certeza de que quem caminha junto caminha melhor e chega mais distante. Encontramos uma Igreja viva, valente, generosa e disposta a superar os desafios com criatividade e empenho. Nosso tempo de missão está chegando ao fim. Sei que parece repetitivo, mas precisamos mais uma vez dizer: sem dúvida, vamos embora levando conosco muita coisa boa, bem mais do que deixamos. Diante de tantas bênçãos, o que não poderíamos esquecer de deixar, é a nossa imensa e profunda gratidão à amada Diocese de Cruzeiro do Sul”.
As missões da Conferência em Cruzeiro do Sul nasceram de um sonho que foi construído a partir de muito colóquio e integração, sempre com espírito orante e muito discernimento. Além de Dom Flávio e Frei Fernando, também compuseram a comissão organizadora Frei Edgar Alves, da Província do Santíssimo Nome, Secretário de Evangelização de Conferência até março deste ano, e Padre Benedito Ferreira, Ecônomo da Diocese de Cruzeiro do Sul. A missão foi concluída in loco. No entanto, pelas manifestações intensas de ambas as partes, dos frades e do povo de Cruzeiro do Sul, muitos frutos ainda devem vir pela frente.