Morreu, este sábado, o primeiro e único Cardeal angolano, Dom Alexandre do Nascimento. Tinha 99 anos de idade, e estava internado numa das unidades hospitalares de Luanda. Dom José Manuel Imbamba, Presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) fala do legado profundo do Cardeal Nascimento, por muitos, considerado como humanista, homem da caridade e promotor da paz e reconciliação.
Anastácio Sasembele – Luanda
Até sábado 28/9, data da sua morte, era considerado como o mais idoso membro do Colégio dos Cardeais.
Nasceu no dia 1 de março de 1925, em Malanje/Angola. Completaria 100 anos de vida e 50 anos de Episcopado em 2025. A igreja angolana preparava – se para o grande jubileu.
A sua trajectória vocacional está associada à trajectória política de Angola sob domínio colonial, marcada pela luta de libertação nacional até à independência. Em função disto e de suas relações em defesa dos direitos em Angola desde 1957, a autoridade colonial portuguesa o forçou a fixar residência em Lisboa de onde voltaria dez anos depois, e onde estudou direito civil na Universidade de Lisboa.
Dom José Manuel Imbamba, Presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) fala do legado profundo do Cardeal Nascimento, por muitos, considerado como humanista, homem da caridade e promotor da paz e reconciliação.
O nome do primeiro Cardeal de Angola está associado à comunidade política, criação da Universidade Católica de Angola, reabertura da Rádio Ecclesia, Emissora Católica de Angola, bem como o retomar de várias infraestruturas importantes construídas no país.
O Presidente da República, João Lourenço, já lamentou, com “profunda consternação” o falecimento do Cardeal Alexandre do Nascimento.
Numa mensagem de condolências, o Chefe de Estado Angolano escreveu que Angola, a Pátria, perde assim um dos seus filhos mais insignes, um homem bom que consagrou grande parte da sua vida a transmitir aos seus, valores e princípios para uma vida em dignidade, de perdão e de respeito ao próximo.
E mais recentemente durante a inauguração do Complexo Hospitalar de Doenças Cardio-pulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, uma homenagem do Estado angolano a este filho da Igreja e de Angola, o Presidente João Lourenço descreve o Cardeal como verdadeiro patriota.
Estudou no Seminário de Bângalas, depois no Seminário de Malange, e posteriormente no Seminário de Luanda. Em 1948, foi enviado para estudar na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, onde obteve o bacharelado em filosofia e a licenciatura em teologia.
Ordenado padre em 20 de dezembro de 1952. Logo depois, tornou-se professor de teologia dogmática no Seminário Maior Arquidiocesano do Sagrado Coração de Jesus em Luanda e redator-chefe do jornal católico “O Apostolado”, entre os anos de 1953 e 1956.
Em 10 de agosto de 1975, foi nomeado bispo de Malanje, sendo ordenado em 31 de agosto de 1975. Em 15 de outubro de 1982, no quadro da guerra civil, foi sequestrado durante uma visita pastoral por militantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
O Papa João Paulo II apelou por sua liberdade durante o Angelus do domingo dia 31 de outubro; ele foi libertado no dia 16 de novembro seguinte.
Em 5 de janeiro de 1983, foi anunciada a sua criação como cardeal pelo Papa João Paulo II, no Consistório de 2 de Fevereiro.
Foi transferido para a Arquidiocese de Luanda em 16 de fevereiro de 1986, renunciando ao governo pastoral da arquidiocese em 23 de janeiro de 2001 como Cardeal Arcebispo Emérito de Luanda – Angola.
Perdeu o direito de participar dos conclaves aos 80 anos, completados em 1 de março de 2005.
Foi, também, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, entre 1990 e 1997.
Possui licenciaturas em Teologia pela Universidade Gregoriana (Roma) – Itália, e em Direito Civil pela Universidade Clássica de Lisboa – Portugal.
Foi eleito Presidente da Caritas Internacional em 1983 e re-eleito em 1987. Foi membro da Congregação da Propaganda da Fé, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e da Congregação para a Educação Católica. Tem várias condecorações internacionais, entre as quais o doutoramento honoris causa em Jurisprudência pela Universidade de Lisboa e a atribuição da Medalha de Ouro Assembleia da República Portuguesa (ano 2000), como reconhecimento da sua acção na defesa dos direitos da pessoa humana.
A convite do Representante Especial do Secretário-geral da ONU, esteve presente em vários acontecimentos históricos referentes ao processo de paz angolano, designadamente em Lusaka (1994) e Bruxelas (1995).
Tem várias obras publicadas, entre as quais:
– “Do Homem sem Fé – suas possibilidades e limites – segundo Francisco Suarez” (ensaio);
– “Sobre o bonito e a ética – Carta aos novos”;
– “Como li o Livro de Rute – comentário exegético” (1981);
– “A experiência constitucional da Itália moderna” (1968);
– “Caminhos de Esperança” (1992);
– “Livro de Ritmos” (poesia) e,
– “Discursos e Imagens” (2002).