A ocupação de Gaza viola o direito internacional e contradiz a solução de dois Estados, afirma o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. O Gabinete de Segurança israelense aprovou o plano na noite desta quinta-feira: “Não se trata de anexação, mas de um regime militar de controle”, explicou Netanyahu, que prevê transferir a administração da Faixa de Gaza para outras forças árabes
Vatican News
“Israel deve interromper imediatamente seu plano de conquista militar completa de Gaza.” O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, confiou à rede social X o apelo urgente, mas também angustiado, da comunidade internacional após a decisão do gabinete de Benjamin Netanyahu de avançar com a ocupação da Faixa de Gaza. Este plano, que se tornou oficial na noite desta quinta-feira após uma reunião maratona de 10 horas, “contraria a decisão da Corte Internacional de Justiça que pede a Israel que encerre a ocupação o mais ligeiro possível”, continua o representante da ONU. Isso conflita com “a implementação da solução de dois Estados acordada” e, portanto, viola “o direito dos palestinos à autodeterminação”. Além disso, concluiu, “à luz de todas as provas reunidas até o momento, esta nova escalada resultará em mais deslocamentos em massa, mais mortes, mais sofrimento intolerável, destruição insensata e crimes atrozes”. Em suma, agravará ainda mais uma situação que se tornou insuportável para a população da Faixa de Gaza, exausta por 23 meses de barbárie. A ONU soa o alarme, apelando a ambos os lados do conflito para que encontrem uma forma de retornar à mesa de negociações e pôr fim imediato a uma guerra que transformou o enclave num amontoado de escombros, morte e desespero.
Gabinete israelense: sinal verde para plano de ocupação de Gaza
Mas o governo de Netanyahu tem demonstrado repetidamente sua recusa em acreditar em qualquer solução que não seja o controle total da Faixa de Gaza, também sob pressão de ministros pertencentes à extrema direita religiosa. Os vazamentos divulgados pelo entorno do primeiro-ministro israelense nos últimos dias foram concretizados esta quinta-feira no plano aprovado por maioria de votos. Este plano prevê o cerco da Cidade de Gaza e a transferência forçada de aproximadamente um milhão de moradores para a parte sul do território palestino, com o prazo simbólico, porém trágico, de 7 de outubro. Esta operação também é logisticamente complexa, pois implica o deslocamento de centenas de milhares de feridos e pessoas que necessitam de cuidados especiais e que, para se deslocarem, precisariam de apoio e assistência especiais. Telaviv, no entanto, segue em frente, estabelecendo cinco “princípios para o fim da guerra”: desarmamento total do Hamas; a devolução de todos os reféns, vivos ou mortos; desmilitarização da Faixa; controle de segurança israelense; e o estabelecimento de um governo civil alternativo ao Hamas, mas também à Autoridade Palestina, que, portanto, ficaria sob o controle de outras “forças árabes”. Não uma anexação, mas um “regime militar” de controle, diz Netanyahu.
Líder da antítese, Lapid: “Um acidente” que favorece o Hamas
O líder da antítese, Yair Lapid, chamou a decisão de “um acidente”, que levará à “morte de reféns, à morte de muitos soldados, custará dezenas de bilhões e levará a um colapso diplomático”. Em outras palavras, “exatamente o que o Hamas queria”: “deixar Israel impantanado sem um propósito”.
O choque entre o governo e as Forças de Defesa de Israel
Além da reação previsível do Hamas (“a agressão terá um preço doloroso”), a decisão também provocou acirrados confrontos verbais entre representantes dos diversos poderes institucionais. O chefe do Estado-Maior das FDI, Eyal Zamir, expressou na quinta-feira sua antítese ao plano, declarando, em resposta ao alerta do ministro Itamar Ben-Gvir para sempre cumprir as decisões políticas, que continuaria a expressar suas opiniões divergentes “sem medo” e confessando que “a conquista da Faixa de Gaza arrastará Israel para um buraco negro”. Protestos eclodiram entre as famílias dos reféns, que, além de se manifestarem nas ruas e, na quinta-feira, também em mar aberto, em uma flotilha que partiu de Ashkelon em direção à fronteira marítima com a Faixa de Gaza, acusaram Netanyahu de ter “condenado seus entes queridos à morte”.
OMS: Gaza tem a maior taxa de desnutrição infantil aguda
Enquanto isso, pessoas continuam morrendo e sofrendo de fome em Gaza. O mês de julho registrou a maior taxa mensal de desnutrição infantil aguda (12.000 crianças menores de cinco anos), com um aumento nas mortes relacionadas à falta de alimentos, relata a OMS.