A mediação da Malásia, dos EUA e da China foi fundamental. Agora a paz precisa ser assegurada. O risco do nacionalismo e de um conflito radicado na identidade dos dois países do sudeste asiático é alto
Vatican News
Tailândia e Camboja chegaram a um cessar-fogo e assinaram um acordo em Putrajaya, na Malásia. A reunião de segunda-feira entre o primeiro-ministro cambojano, Hun Manet, e o primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, ocorreu sob a égide do primeiro-ministro malaio, Anwar Ibrahim. Os confrontos entre Bangcoc e Phnom Penh duraram apenas seis dias, mas abalaram todo o sudeste asiático.
O papel da Malásia, China e Estados Unidos
Isso é demonstrado, em primeiro lugar, pela contribuição crucial da Malásia, presidente anual da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), mas, acima de tudo, líder regional que mais uma vez confirma seu papel como mediadora em conflitos armados. Esse esforço também foi apreciado por potências regionais como o Vietnã, que o descreveu na manhã de terça-feira como um “ponto de virada significativo”, e Bangladesh. A contribuição de duas grandes potências, China e Estados Unidos, também foi significativa durante as negociações, demonstrando a centralidade do sudeste asiático e a necessidade de conter potenciais novos cenários de guerra. Pequim expressou seu apoio à moderação regional, enquanto Washington, por meio do presidente Donald Trump, afirmou ter “salvado milhares de vidas” ao alavancar o comércio. A lar Branca já havia condicionado as negociações tarifárias com Bangcoc e Phnom Penh à obtenção de um cessar-fogo pelas partes.
Um conflito breve, mas intenso
Toda a região foi abalada pelos números de um conflito que, embora de breve duração, resultou em pelo menos 38 mortes e aproximadamente 300.000 deslocados. Somam-se a isso duas questões importantes, tanto bélicas quanto éticas, que emergiram esta semana: a acusação da Tailândia de que o Camboja plantou novas minas antipessoal ao longo da fronteira e a acusação do Camboja de que Bangcoc usou munições de fragmentação. Esses fatos comprovam a brutalidade com que pode eclodir um conflito que, embora localizado, nem por isso deixa de ser potencialmente trágico.
A incógnita do nacionalismo
Isso também devido a um aumento do nacionalismo, de que falam continuamente diversas fontes locais. Dom Olivier Schmitthausler, vigário apostólico de Phnom Penh, declarou à mídia vaticana dias atrás que “um forte sentimento de nacionalismo está crescendo entre a população cambojana. Eles apoiam o governo, apoiam o exército e dizem estar prontos para lutar”. A Conferência Episcopal Tailandesa também reiterou isso em um comunicado de 26 de julho, destacando “os perigos do nacionalismo extremo, que pode levar a graves divisões e conflitos, minando a dignidade humana e dificultando esforços genuínos para uma resolução pacífica” do conflito.
O risco de uma paz instável
Essa situação humana e social se soma a uma disputa por uma fronteira geograficamente limitada, mas enraizada na história e na identidade dos dois países – basta pensar no simbólico templo de Preah Vihear – e no colonialismo ocidental, ameaçando, assim, minar o cessar-fogo. Já na manhã desta quarta-feira, o exército tailandês acusou o Camboja de violar os acordos, alimentando a agitação nas áreas de Phu Makua e Sam Taet, o que levou a uma troca de tiros entre as duas partes que continuou pela manhã. Pouco depois, realizou-se uma reunião entre os comandantes das forças armadas dos dois países para iniciar o cessar-fogo: as partes comprometeram-se a cessar as hostilidades, interromper a movimentação de tropas e reforços, cooperar na repatriação de feridos e mortos e estabelecer uma equipe de coordenação conjunta de quatro membros de cada lado. Espera-se que o Camboja e a Tailândia construam confiança mútua para pôr fim a este longo conflito.