A fidelidade à Igreja, à Tradição e ao Magistério é tão relevante para a interpretação da Bíblia quanto a raiz para a árvore. Sem a raiz, a árvore morre. Apresentarei aqui normas hermenêuticas (normas de interpretação) que, ao longo dos séculos, animaram e orientaram a leitura da Bíblia na Igreja. São como que um resumo dos critérios que devem orientar a leitura e a interpretação da Bíblia. Estas normas foram tiradas, em grande parte, do Documento Conciliar Dei Verbum e das encíclicas papais.
A fé de que a Bíblia é Palavra de Deus é o que mais caracteriza a leitura cristã da Bíblia. É por ser Palavra de Deus que a Bíblia tem aquela autoridade. A Palavra de Deus, porém, não está só na Bíblia. Deus também fala pela vida, pela natureza, pela história. A leitura da Palavra escrita da Bíblia ajuda a descobrir a Palavra viva de Deus na vida.
Existe uma ligação entre Criação e Salvação, pois ambas são fruto da Palavra de Deus. Deus que cria e conserva todas as coisas pelo Verbo, oferece aos homens nas coisas criadas um perene testemunho de si mesmo. Santo Agostinho ensina que Deus escreveu dois livros. O primeiro livro é a criação, a natureza, a vida. O segundo livro é a Bíblia, inspirada por Ele para nos devolver ‘o olhar da contemplação’, para que possamos ler e interpretar melhor o Livro da Vida e da Criação divina.
Por ser Palavra de Deus, a Bíblia, quando lida e interpretada naquele mesmo Espírito em que ela foi escrita, comunica a luz e a força deste mesmo Espírito aos que a leem. Por isso, a Palavra de Deus tem força para realizar o que transmite.