A revelação e a experiência de Deus são fruto, ao mesmo tempo, da graça divina e do esforço humano. De um lado, a revelação que Deus faz de si mesmo provoca nossa colaboração e participação e exige observância da Aliança. De outro lado, faz-nos participar dos bens divinos que superam inteiramente a capacidade da mente humana. Eficiência e gratuidade, luta e festa, natureza e graça, se misturam na caminhada conflituosa em direção a Deus. Este olhar libertador, nascido de Deus, liberta e abre o sentido da Bíblia.
Para nós cristãos, Jesus é o centro, a plenitude e o objetivo da revelação que Deus vinha fazendo de si desde o AT. Os livros do AT adquirem e manifestam sua plena significação no NT e, por sua vez, o iluminam e explicam. Sem o AT não se entende o NT; sem o NT não se entende o AT.
A experiência viva de Jesus na comunidade é a luz nova nos nossos olhos para poder entender todo o sentido do AT. Cristo está como que do nosso lado, olhando conosco para o AT, clareando-o com a luz da sua presença.
Tudo isto tem uma atualidade muito grande. Não se trata somente de descobrir como as primeiras comunidades cristãs souberam achar as figuras de Jesus no AT. Trata-se, sobretudo, de fazer hoje o que elas fizeram, a saber: descobrir como o nosso “antigo testamento”, isto é, a nossa história pessoal e comunitária, está sendo empurrada pelo Espírito de Deus para a vida plena em Cristo. A conversão para Cristo tira o véu dos olhos e faz entender o sentido da Bíblia e da vida.
De um lado, a Bíblia ajuda a entender e a aprofundar aquilo que estamos vivendo em Cristo. De outro lado, nossa vida e nossa prática nos ajudam a entender melhor o sentido cristológico da Escritura. Antigamente, este sentido era chamado de ‘sentido espiritual’, isto é, o Espírito nos ajuda a descobrir o sentido que o texto antigo tem para nós hoje. Também era chamado ‘sentido simbólico’, pois unia a vida e a Bíblia.