Bento XVI apontou a Leitura Popular da Bíblia como uma das grandes contribuições da América Latina para a vida da Igreja. Na Leitura Popular renasce e reaparece a intuição profunda e muito tradicional da fé do Povo de Deus, a saber, Deus nos fala hoje e a Bíblia nos ajuda a descobrir esta fala de Deus na vida e nos acontecimentos.
A Bíblia é reconhecida e acolhida pelo povo como Palavra de Deus. Esta fé já existia antes da chegada da leitura popular da Bíblia. É nesta raiz ou tronco bem seguro da fé popular, que enxertamos todo o nosso trabalho em torno da Bíblia. É o que caracteriza a leitura que fazemos da Bíblia na América Latina. Sem esta fé, todo o processo e todo o método teriam de ser diferentes. “Não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz sustenta a ti” (Rm 11,18).
Ao ler a Bíblia, o povo das Comunidades traz consigo a sua própria história e tem nos olhos os problemas que vem da realidade dura da sua vida. A Bíblia aparece como um espelho daquilo que ele mesmo vive hoje. Estabelece-se, assim, uma ligação profunda entre Bíblia e Vida que, às vezes, pode dar a impressão aparente de um concordismo superficial, isto é, uma tentativa de harmonizar a ciência com a religião cristã. Na realidade, é uma leitura de fé muito semelhante à leitura que faziam as comunidades dos primeiros cristãos e os Santos Padres nos primeiros séculos das Igrejas.
A partir desta nova ligação entre Bíblia e vida, os pobres fazem a descoberta, a maior de todas: “Se Deus esteve com aquele povo no passado, então Ele está também conosco nesta luta que fazemos para nos libertar. Ele escuta também o nosso clamor!” Assim vai nascendo, imperceptivelmente uma nova experiência de Deus e da vida que se torna o critério mais determinante da leitura popular e que menos aparece nas suas explicitações e interpretações, pois o olhar não se enxerga a si mesmo.