Lendo a Bíblia a partir da experiência pessoal e comunitária, produz-se uma iluminação mútua entre Bíblia e vida. O sentido e o alcance da Bíblia aparecem e se enriquecem à luz do que se vive e sofre na vida, e vice-versa.
Para que se produza esta ligação profunda entre Bíblia e vida, é relevante: a) Ter em vista as perguntas reais que vêm da vida e da realidade sofrida de hoje; aqui aparece a importância de o estudioso da Bíblia ter convivência e experiência pastoral inserida no meio do povo; b) Descobrir que se pisa o mesmo chão, ontem e hoje; aqui aparece a importância do uso da ciência e do bom senso tanto na análise crítica da realidade de hoje como no estudo do texto e do seu contexto social; c) Ter uma visão global da Bíblia que envolva os próprios leitores e leitoras e que esteja ligada à situação concreta das suas vidas.
A interpretação que o povo faz da Bíblia é uma atividade envolvente que compreende não só a contribuição intelectual do exegeta, mas também todo o processo de participação da Comunidade: trabalho e estudo em grupo, leitura pessoal e comunitária, teatro, celebrações, orações, enfim, tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que, de qualquer maneira, merece louvor. Aqui aparecem a riqueza da criatividade popular e a amplidão das intuições que vão nascendo.
Para uma boa interpretação, é muito relevante o ambiente de fé e de fraternidade, através de cantos, orações e celebrações. Sem este contexto do Espírito, não se chega a descobrir o sentido que o texto tem para nós hoje, pois o sentido da Bíblia não é só uma mensagem que se capta com a razão e se objetiva através de raciocínios; é também um sentir, uma consolação, um conforto que é sentido com o coração, para que, pela perseverança e pela consolação que nos proporcionam as Escrituras, tenhamos esperança.
(3ª Parte do Artigo de Dom Félix sobre a Leitura Popular da Bíblia)