Cardeal dom Geraldo Majella: descanse em paz!

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No dia 26 de agosto de2023, o Cardeal Dom Geraldo, após longa enfermidade, entregou a Deus sua vida marcada por muitas lutas, ideais e sonhos. Suas lutas tiveram as mesmas características: sua paixão por Jesus Cristo, seu amor à Igreja e seu desejo de semear no coração de todos as sementes do Evangelho.

Dom Murilo S. R. Krieger, scj – Arcebispo Emérito de São Salvador da Bahia

Em abril de 1978, ao ser nomeado bispo pelo Papa São Paulo VI – viria a ser ordenado três meses depois, justamente no dia e na hora em que esse Papa faleceu –, o então sacerdote Pe. Geraldo Majella Agnelo precisou escolher um lema. O lema episcopal sintetiza um duplo olhar: o primeiro, para o passado, e indica quais foram, até ali, as motivações principais na vida do novo bispo; o outro olhar é voltado para o porvir e antecipa o que ele procurará ser e viver. Pe. Geraldo assumiu como lema: “Caritas cum Fide” (A caridade com a fé).

Ao longo de seu episcopado, o Cardeal Majella muito falou e escreveu sobre a caridade, lembrando sempre que o amor descrito pelo apóstolo Paulo na primeira carta aos Coríntios “é, antes de tudo, um amor de doação”, um “lembrete do essencial… [na vida] dos seguidores de Cristo Jesus” (artigo em A Tarde, 01.02.2004). Sua visão de fé ficou explícita num outro artigo (“O despertar da Fé”), em que afirmava: A fé “é uma percepção da realidade do mundo espiritual, um encontro pessoal e transformador com Cristo vivo, hoje”. Somos cristãos “não só pelo simples fato de termos uma convivência íntima com o Filho de Deus, mas porque o colocamos como centro da nossa história e da nossa existência, porque temos fé em sua Palavra de libertação e porque tomamos Jesus como nosso Pastor, único e definitivo e, com ele, desejamos viver sem jamais nos separarmos da graça”.

Passaram-se os anos, e o mineiro de Juiz de Fora, depois de estar à frente da Diocese de Toledo – PR (1978-1982) e da Arquidiocese de Londrina – PR (1982-1991), foi trabalhar em Roma, como secretário da Congregação (hoje: Dicastério) para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (1991-1999). Dali iria para Salvador (1999), onde exerceu seu pastoreio até me dar o báculo de pastor (2011). Durante esse último período, foi nomeado Cardeal (2001) e viveu quatro anos entre Salvador e Brasília (2003-2007), quando Presidente da CNBB. Por ocasião do cardinalato, ao rever sua caminhada, confessou: “Sempre fui pego de surpresa pelas nomeações às quais fui submetido, especialmente pelo Papa Paulo VI e João Paulo II. Entretanto, aprendi, desde seminarista, que devemos servir ao povo de Deus com amor. Nossa missão só tem sentido como diaconia do amor”.

Pode-se descrever uma pessoa a partir do que ela fez – e o Cardeal Dom Geraldo muito trabalhou; pode-se descrevê-la tendo como base o depoimento dos que a conheceram – e desse nosso irmão, multidões poderiam dar testemunho; pode-se também apresentá-la a partir das ideias que difundiu – e Dom Geraldo muito escreveu. Semanalmente, desde sua posse em Salvador (1999), até se tornar emérito (2011), procurou “Semear Esperança” (título de um artigo de 16.11.2003 e, posteriormente, de um livro com seus textos de 2003 e 2004). Em suas crônicas, ele exercia o que ele mesmo chamou de “paternidade episcopal”.

No dia 26 de agosto de2023, o Cardeal Dom Geraldo, após longa enfermidade, entregou a Deus sua vida marcada por muitas lutas, ideais e sonhos. Suas lutas tiveram as mesmas características: sua paixão por Jesus Cristo, seu amor à Igreja e seu desejo de semear no coração de todos as sementes do Evangelho. A partir daí, entende-se o que ele escreveu, quando a Arquidiocese de São Salvador da Bahia celebrou seus 450 anos de criação (2001): “Sinto que há uma busca verdadeira de Deus no coração dos homens e das mulheres de nosso tempo. Sinto que estamos caminhando para um mundo novo, embora ainda convivamos com as imperfeições da sociedade hodierna. Só conseguiremos chegar ao porto seguro se colocarmos as velas do nosso barco a favor dos ventos. Jamais poderemos desanimar diante das dificuldades, pois os primeiros cristãos, suplantando todas as dificuldades das primeiras horas, nos legaram um tesouro que jamais poderão nos roubar: o tesouro da fé, da esperança e do amor”.

Deus lhe dê o descanso eterno, Cardeal Dom Geraldo!

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