O prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, em conversa com a imprensa vaticana, compartilha a preocupação e a profunda indignação expressas por Leão XIV em seu discurso na plenária da Roaco. “As pessoas assistem, impotentes, à devastação que se espalha como fogo. O Oriente cristão é uma terra de mártires: há perigo de extinção.”
Federico Piana – Vatican News
A famosa obra do pintor espanhol Francisco Goya, intitulada “O sono da razão produz monstros”, resume bem a preocupação que emerge do discurso proferido por Leão XIV em 26 de junho, por ocasião da plenária da Reunião das Obras de Ajuda às Igrejas Orientais (ROACO). O prefeito do Dicastério para as Igrejas Orientais, cardeal Claudio Gugerotti, presidente da Roaco, está convencido disso. Em entrevista à imprensa vaticana, ele enfatizou como as palavras do Papa são programáticas e intensas. Revelam uma profunda indignação por tudo o que está acontecendo no mundo. “Tem-se a percepção de que as pessoas estão perdendo o que construíram ao longo dos séculos do ponto de vista do pensamento: a liberdade, o direito da pessoa, os direitos internacionais e humanitários. Parece que tudo está desaparecendo, e o Papa afirma isso claramente.”
Política da elite
“Eis o sono da razão que faz nascer monstros inquietantes”, acrescentou o prefeito: “Esta humanidade permanece impassível assistindo à sua própria autodestruição. Algumas vozes emergem, mas a política continua seu caminho. É preciso dizer, porém, que não é mais uma política do povo, mas se transformou numa política da elite: pessoas que se arrogam o direito a uma função de liderança além das regras”. O discurso do Papa, explicou Gugerotti, oferece a possibilidade de compreender como atualmente os argumentos da pequena cabotagem e das perspectivas curtas não são suficientes quando a humanidade não é mais capaz de usar a razão profunda: “As pessoas assistem impotentes à devastação que se espalha como fogo. E quando o poderoso do dia é repreendido por violar os direitos internacional e humanitário, ele não responde como se dissesse: não me interessa. Então, como podemos pensar em colóquio?”.
Terra de mártires
Uma situação de incomunicabilidade em que se encontra também o Oriente cristão, que por sua natureza é uma terra de mártires. “E sempre foi assim”, confirmou o cardeal. “É uma terra de mártires que continua sendo vítima do martírio. Este sistema de violência obriga os cristãos a fugir, eliminando-os efetivamente da sua terra: e eles são um dos fundamentos culturais, sociais e políticos dessas mesmas terras.” Há outras questões que atormentam o coração do prefeito: quanto tempo durará este martírio? Quanto tempo teremos de assistir impotentes à matança de pessoas que estão rezando? A violência sem limites é apenas o resultado do fundamentalismo religioso ou esconde um propósito político? “Tínhamos a ilusão”, disse ele, “de que com o fim da perseguição soviética os cristãos poderiam obter um espaço tranquilo para viver. Mas não é o caso. A percepção que esses cristãos têm é de que não são desejados, tolerados, na sua própria terra.”
Perigo de extinção
O perigo que Gugerotti vislumbra no horizonte é o da extinção dos cristãos. A presença das Igrejas Orientais é muito antiga, a mais próxima das origens do cristianismo. “O risco é o de perder um tesouro constituído de Padres da Igreja, hinos, orações e tradições. Eles não podem ser substituídos: no corpo de Cristo haverá um vazio, mas também haverá um vazio na cultura da humanidade”. Assim, em sintonia com o pensamento de Leão XIV, Gugerotti pede ao mundo que desperte, que comece a despertar aquela razão adormecida há muito tempo. “Não podemos mais — admitiu — nos perder em nossas pequenas lutas de poder, não podemos mais manipular a história para obter tudo o que queremos. De todas as minorias, a cristã é a mais esquecida, a mais ameaçada de morte. No entanto, entre os fiéis, a esperança ainda está viva, diferentemente de nós que os observamos de fora”.
Ecumenismo da caridade
Apesar das guerras e da opressão, da violência e da dor, a Roaco trabalha incansavelmente para criar pequenos oásis de esperança, reconstruindo onde possível e implementando o colóquio ecumênico. Uma dimensão que assume uma importância estrutural porque, como afirmou o cardeal, tem como objetivo “remover o escândalo do cristianismo dividido. E a solidariedade histórica que hoje, por necessidade, se estabelece entre as Igrejas é um convite claro a uma comunhão que até agora não conseguimos alcançar através da reflexão teológica”. Em essência, um ecumenismo de ajuda e caridade.