Divulgada declaração da Conferência Episcopal Eslovena sobre os abusos cometidos pelo jesuíta Ivan Rupnik. Os bispos se comprometem a uma maior transparência e tolerância zero para com todas as formas de violência e, ao mesmo tempo, exigem que seja feita uma distinção entre atos “inadmissíveis” e o extraordinário trabalho do religioso no campo artístico e teológico.
Antonella Palermo – Vatican News
Dor, consternação, proximidade às vítimas e compromisso a uma maior transparência em relação à violência física, sexual, psicológica e espiritual. Foi o que a Conferência Episcopal Eslovena expressou a unanimidade na Declaração dos Bispos Eslovenos sobre a descoberta dos abusos e das violências do padre Mark Ivan Rupnik SJ, apresentada na tarde desta quinta-feira (22/12) em Ljubljana, nas instalações da Galeria Druzina, e que contou com a presença do presidente da Igreja Católica Eslovena, dom Andrej Saje, e do arcebispo de Ljubljana, o Metropolita Stanislav Zore.
Consternação e condenação de todas as violências
“Grande dor e consternação” são os sentimentos com os quais os bispos eslovenos declaram estar acompanhando “a descoberta de abusos de vários tipos por parte do padre Rupnik, perpetrados durante um longo período de tempo”. Os abusos, especificam os bispos atuais, dos quais eles “tomaram conhecimento através da mídia”. “Uma vez que os superiores da Companhia de Jesus confirmaram a verdade dos fatos, condenamos todas as violências psicológicas, sexuais e espirituais cometidas pelo padre Rupnik, bem como os graves abusos no Sacramento da Reconciliação”, afirmam eles. Também declaram que apoiam os superiores da Companhia em seus “esforços na busca da verdade e da justiça”. Então a ênfase: “A culpa nunca é das vítimas! Nós estamos do lado delas. Expressamos a elas nossa compaixão e proximidade e nos comprometemos a ajudá-las. Também expressamos nosso apoio a toda a comunidade eclesial”.
A tristeza pelos fatos que permaneceram desconhecidos por tanto tempo
Os prelados locais lamentaram “porque, durante tantos anos”, declararam, “estes atos inadmissíveis permaneceram desconhecidos, causando tanto sofrimento às vítimas e a seus entes queridos”. Lamentamos o fracasso dos responsáveis em tomar as medidas necessárias e a ocultação dos atos de violência sexual e espiritual, assim como o abuso de poder e autoridade, não só no caso do padre Rupnik, mas também em todos os outros casos, tanto na Eslovênia como em outros lugares”. Os bispos dizem estar tristes porque há décadas as vítimas não foram ouvidas. “Qualquer abuso de poder e autoridade espiritual para exercer violência sobre as pessoas ao seu cuidado”, sublinharam, “é um ato inadmissível que deve ser condenado”.
Compromisso com a transparência e tolerância zero
Daí o compromisso “a uma maior transparência e tolerância zero à violência física, sexual, psicológica e espiritual. Embora alguns fatos estejam, do ponto de vista jurídico, agora prescritos, eles continuam a ser “detestáveis e condenáveis”. Os bispos eslovenos dizem que querem fazer “o que for possível para seguir mais de perto o que ocorre em nossas comunidades eclesiais, para que no porvir não ocorram mais abusos de autoridade por parte de pessoas em posições de responsabilidade na Igreja”.
O pedido às vítimas para denunciarem
E assim como fizera nos dias passados em nome da Companhia de Jesus padre Johan Verschueren, delegado do prepósito geral Arturo Sosa e superior maior para as Casas Internacionais, os prelados eslovenos também apelam às vítimas do padre Rupnik para que se dirijam às autoridades competentes (por exemplo, ao endereço varuh@jezuiti.si), “para que seja possível – eles esperam – de maneira mais completa, à verdade e a um julgamento objetivo”. Além disso, pedem a todas as outras vítimas de atos de violência dentro das comunidades eclesiásticas – mesmo aqueles cometidos por outros agressores – que se apresentem. “Pedimos a todos que denunciem todos os abusos e violências”. Ao mesmo tempo, também pedimos paciência para que possamos fortalecer nossas estruturas de prevenção e ajuda, realizar todos os processos previstos e continuar o trabalho de formação e conscientização em torno da questão das violências sexuais e espirituais. Só através do compromisso comum é que podemos quebrar o muro de silêncio, que esconde os perpetradores, e deter este mal”.
Distinguir os atos inadmissíveis do trabalho artístico e da reflexão teológica
A Conferência Episcopal Eslovena conclui a declaração enfatizando novamente que, tendo a notícia dos abusos por parte do padre Rupnik chocado a opinião pública mundial, de certa forma, também a sociedade em geral é vítima de suas ações. Recordando a reputação do padre Rupnik como “artista excepcional” e “sábio guia espiritual, que marcou a vida de muitas pessoas e comunidades”, os bispos se questionam sobre o aspecto que se refere a eventual renúncia ao trabalho cultural do jesuíta. Conscientes da consternação que habita nos corações de muitos, pedem para “distinguir entre seus atos inadmissíveis e condenáveis, e seu extraordinário trabalho tanto no campo da arte do mosaico quanto no campo da reflexão teológica”. Sem dúvida’, concluem, ‘todos estes fatos são uma grande prova de nossa fé e confiança em Deus’.
Juntos em busca da verdade
“Que estas dolorosas descobertas se tornem uma ocasião para a purificação e renovação da Igreja”, são ainda as palavras dos bispos eslovenos. “Convidamos todos a juntarem-se a nós na busca da verdade e na criação de uma visão de nosso porvir comum”. Enfim, uma referência ao próximo Natal no qual Jesus vem para nos salvar e purificar: “Ele vem em nossas escuridões”. Ele vem a ser a luz dos homens. Não permitamos que as forças das trevas e do mal prevaleçam”.