“O Ano Jubilar tem como tema “Peregrinos de Esperança”. Somos todos peregrinos e a esperança nos anima a continuar no caminho, rumo à eternidade. O fiel deve ser considerado como um peregrino no interior de uma Igreja peregrina.”
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
“O Jubileu de 2025 junto com a dimensão essencial da esperança, deve levar-nos a uma consciência cada vez maior de que a fé é uma peregrinação e que nós, nesta terra, somos peregrinos. Não turistas ou andarilhos: não nos movemos ao acaso, existencialmente falando. Somos peregrinos.”
Em vista do Jubileu da Esperança, a Livraria Editora Vaticana publicou o livro “A fé é uma viagem”. Trata-se de uma antologia com meditações do Papa Francisco para viajantes e peregrinos, e cujo prefácio é de sua autoria.
E “o peregrino – ressaltou por sua vez aos jovens e adolescentes da União Italiana dos Cegos e Deficientes Visuais recebidos em audiência em 3 de janeiro – não é apenas aquele que caminha, mas aquele que tem uma meta, e essa meta é Jesus Cristo, que nos permite ingressar na vida nova, livres da escravidão do pecado”.
Já peregrinando neste Ano Jubilar, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão “Ciclo de Natal no tempo da Esperança Cristã”:
“A Sacrosanctum Concilium expressa o significado do ano litúrgico, da natureza do ciclo do tempo. A Igreja expõe todo o mistério de Cristo, desde o Advento até a Festa de Cristo Rei do Universo. Diz assim a Constituição litúrgica: “Distribui (a Igreja) todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor.Com esta recordação dos mistérios da Redenção, a Igreja oferece aos fiéis as riquezas das obras e merecimentos do seu Senhor, a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo, para que os fiéis, em contato com eles, se encham de graça” (SC,102).
O tempo do Natal é um tempo litúrgico rico de significado e esperança cristã. Não revivemos somente a memória de Cristo que veio na história, revestido de “trapos humanos”, assumindo totalmente a humanidade, mas o atualizamos em nossa vida concreta, no significado profundo de Cristo ter assumido a história humana e o compromisso de que o Reino de Deus se estabeleça em nossa vida, com a sua graça e a nossa abertura ao seu plano de salvação. Mas sabemos que o Reino de Deus não se estabelece em plenitude em nossa história humana, senão no Reino definitivo. E então preparamos a segunda Vinda gloriosa e triunfal de Cristo no tempo de nossa história, com expectativa cristã, assumindo o compromisso com a história humana no destino desejado por Cristo, que recapitulou tudo em sua Páscoa redentora.
O Ano Jubilar tem como tema “Peregrinos de Esperança”. Somos todos peregrinos e a esperança nos anima a continuar no caminho, rumo à eternidade. O fiel deve ser considerado como um peregrino no interior de uma Igreja peregrina. O Caderno do Jubileu número 23, – “A Igreja Peregrina rumo à plenitude”, de autoria de Achim Schütz, professor alemão de teologia fundamental e dogmática na Pontificia Universidade Lateranense, concentra-se na questão da relação entre o tempo e a eternidade. Diz o autor assim: “Desde o início, a Igreja celebrou um admirável commertium, um intercâmbio maravilhoso entre Deus e o homem que tem sua fonte em Cristo. Deus se fez homem, e quem crê nisso dentro da Igreja deve se submeter às leis de um intercâmbio sadio e humano até o fim; do contrário, deve confessar com os lábios o que está em contradição com as suas ações, os seus discursos e, provavelmente, também o seu pensamento da dignidade e do valor de cada ser. Quando o respeito vivido falta constantemente, a Igreja se torna uma realidade absurda. No plano de fundo da Lumen Gentium, o respeito poderia, na verdade, deveria ser descrito como uma virtude escatológica. Está sempre consciente da dignidade e do valor de cada ser humano; ao mesmo tempo, está bem ciente da realidade histórica, de que mesmo circunstâncias temporais favoráveis nunca serão capazes de tornar esses dois valores plenamente visíveis ou perceptíveis pelos sentidos na vida cotidiana” [1]. Segundo a Lumen Gentium, “quem não enfrenta o mundo e não o confronta ativamente, um dia se encontrará diante do juízo de ter sido um servo negligente” (LG,48) [2].
O teólogo Schütz, no Caderno do Concilio, diz que “segundo a visão cristã do homem, não é aceitável que o indivíduo se torne um andarilho sem orientação, um viajador através da existência, um homo viator. Aqueles que são enamorados somente da dinâmica do movimento, mas não conhecem um verdadeiro e próprio destino, um verdadeiro e próprio santuário para o qual viajar com constância, não colhem o núcleo escatológico do cristianismo. O ato de vagar, somente pelo gosto de mudar, é contrário à peregrinação ponderada”[3]. O cristão não anda pela vida como um “vagal no mundo” (vagamundo) sem um destino último, ou seja, estar no coração de Deus. Não andamos à mercê do destino das estrelas e astros cósmicos, teleguiados por forças estranhas. Não peregrinos à toa, sem pátria, sem meta. Somos peregrinos de esperança. Nossa esperança não decepciona. Nosso destino é a plenitude de Deus, para o qual Cristo se encarnou e veio restaurar entre nós. Cristo não veio sem um propósito, somente como turista na terra. Sua meta foi nossa salvação. Por isso, somos peregrinos dessa grande esperança cristã!”
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] SCHUTZ, Achim. A Igreja Peregrina rumo à plenitude, Caderno do Jubileu número 23, Ed. CNBB, 2023, p.24.25.
[2] Idem, p. 27.
[3] Idem, 26-27.