“A nível local, na Arquidiocese da capital gaúcha, haverá ainda duas etapas neste ano de caminhada sinodal, mas que deve existir constantemente na caminhada eclesial. Até o dia 20 de outubro todas as paróquias da Arquidiocese devem repetir esse mesmo trabalho realizado de escuta sinodal, respeitando o conteúdo e método, conforme realizado como laboratório na assembleia do clero, com grupos de seis membros.”
Pe. Gerson Schmidt* – Porto Alegre
O Clero da Arquidiocese de Porto Alegre realiza, nesse final do ano de 2013, três grandes momentos específicos de sinodalidade, nos projetos arquidiocesanos de pastoral, por etapas, dentro da modalidade que tem sugerido o tempo da Pandemia, numa caminhada sinodal. Os encontros agora são essencialmente presenciais. A primeira etapa aconteceu dia 21 de setembro, no Seminário Menor São José, reunindo todo o clero arquidiocesano, buscando o caminho de uma Igreja sinodal, no espírito requerido pelo Papa Francisco. O tema geral das três etapas é a sinodalidade: Igreja comunhão, participação e missão. “Os sinais característicos de uma Igreja sinodal é o “colóquio no Espírito”, pois é a maneira particular de uma Igreja sinodal proceder. O objetivo é discernir a vontade de Deus e assim animar o discernimento comunitário”, descreve Pe. Ilário Flach, coordenador arquidiocesano de Pastoral na Arquidiocese de Porto Alegre.
Na reunião do clero Arquidiocesano, além de assuntos pastorais relevantes, aconteceu um aprofundamento sobre Sinodalidade e Liturgia, assessorado pelo liturgista Pe. Luciano Massulo, no impulso do Congresso Internacional de Liturgia, ocorrido recentemente na PUCRS, tendo em vista também a Terceira Edição do Missal Romano no Brasil, a ser oficialmente lançada no Advento próximo. Dom Jaime referendou que “as aclamações intermediárias das preces eucarísticas, introduzidas no Brasil, não são opcionais, mas fazem parte da liturgia”. Antes do meio dia, houve celebração Eucarística, presidida pelo arcebispo Metropolitano Dom Jaime Spengler, lembrando o seu aniversário de 10 anos à frente da Arquidiocese. A missa foi concelebrada por bispos e sacerdotes, dentro já da indicação da Terceira Edição do Missal Romano para o Brasil, que entrará oficialmente em vigor no Advento próximo.
Cronologia do Sínodo
Em 10 de outubro de 2021, o Papa Francisco convocou toda a Igreja para o Sínodo com a seguinte pergunta: “como se realiza hoje, a diferentes níveis (do local ao universal) aquele “caminhar juntos” que permite à Igreja anunciar o Evangelho, em conformidade com a missão que lhe foi confiada; e que passos o Espírito nos convida a dar para crescer como Igreja sinodal?”. Nas Igrejas Locais(dioceses), de Outubro de 2021 até agosto de 2022), por meio do Documento Preparatório e Vademecum, realizaram-se diversas escutas nas missas, universidades, escolas, PopRua, grupos paroquiais, CRB, site, pastorais ambientais (hospitais, políticos, juristas, empresários etc.).
A Arquidiocese de Porto Alegre concluiu o processo sinodal com a aprovação e entrega da Síntese Geral em Assembleia Arquidiocesana no dia 16 de julho de 2022. Nas Conferências Episcopais (agosto de 2022 até outubro de 2022), por meio do DEC – Documento da Etapa Continental, houve o envio à secretaria do Sínodo em Roma um Instrumentum Laboris.
Em outubro próximo haverá o sínodo em Roma. Em toda a Igreja universal, os católicos são convidados à oração e vigília, no dia anterior ao Sínodo. Acontecerá na véspera o que é chamado “Together” – Vigília ecumênica de oração, sobretudo em Roma, no dia 30 de setembro de 2023. (Informações: https://together2023.net/pt/home-portuguese/). A Primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (Roma, outubro de 2023), o Retiro em 01 a 03/10 e Missa de abertura no dia 04/10. A grande temática é clara: “Por uma Igreja Sinodal: uma experiência integral em Comunhão, missão, participação – três questões prioritárias para a Igreja sinodal”. O tema em pauta acontecerá nos dias 09 a 21 de outubro, preparando para conclusões e propostas nos dias 23 a 28/10. O sínodo em Roma será concluído com a Missa de encerramento no 29/10. A Segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos acontecerá em Roma, novamente em outubro de 2024.
Metodologia Sinodal
Em Roma, o sínodo terá uma metodologia: oração, celebração, colóquio no Espírito e sessões plenárias com propostas para os próximos passos. Essa experiência que acontecerá em Roma no Sínodo foi vivida no encontro do clero de Porto Alegre. Na tarde do dia 21 de setembro, o clero arquidiocesano se reuniu em grupos de seis padres para a experiência da escuta sinodal.
O espírito de colóquio é permitir que os participantes falem e ouçam e assim torna-se uma expressão de liturgia e oração. “O método sinodal não é debate ou discussão. Não uma reunião de parlamento, onde as divergências terminam em votação que divide entre maiorias e minorias. Não é uma instância de decisão”. É uma instância de escuta , pois “uma Igreja sinodal é uma Igreja que escuta).É chamado de “método sinodal” e é melhor compreendido por sua analogia com a assembleia litúrgica. A tradição antiga nos diz que um Sínodo é “celebrado”: ele começa com a invocação do Espírito Santo, continua com a profissão de fé e chega a determinações partilhadas para garantir ou restabelecer a comunhão eclesial. É um método para discernir o que é um capricho pessoal, desejo ou opinião, do que é a voz do Espírito Santo, indicando para onde Ele quer nos conduzir. A etimologia da Palavra grega “colóquio”(Diá + logos: através da palavra) nos ajuda a compreender o processo. O Espírito Santo é o autêntico protagonista, pois de passa da escuta dos outros à escuta do Espírito. “Parte do desejo de ouvir a voz do Espírito e abrir-se à ação livre d’Aquele que, como o vento, sopra onde quer (cf. Jo 3,8). Gradualmente, o colóquio entre irmãos e irmãs na fé abre espaço para o consenso, ou seja, para a concordância conjunta com a voz do Espírito (concordar com o Espírito)”, reflete a coordenação de pastoral.
Passos para a Escuta
Foi encaminhada a preparação do processo da escuta, tal qual acontecerá em Roma, nos dias do Sínodo. Como acontece? Por meio de quatro passos:
1. Preparação prévia: oração, reflexão pessoal e da meditação. Supõe que se entregue antes uma pauta ou as perguntas que vão nortear o discernimento. Assim daremos uns aos outros uma palavra ponderada e orante, não uma opinião improvisada.
2. Ao redor da mesa (grupos de 6 pessoas), deve haver a escolha de um cronometrista e um relator.
3. Oração:
4. Três rodadas de conversa: todos falam e todos escutam, com o tempo de dois minutos por pessoa em cada rodada:
a. Primeira rodada: cada um partilha sua própria experiência, relida em oração durante o período de preparação. Os outros ouvem, sabendo que cada um tem uma contribuição valiosa a oferecer e se abstêm de debates ou discussões. Fazer anotações enquanto os outros falam, ajuda.
b. Segunda rodada: cada um toma novamente a palavra, não para reagir ou se opor ao que ouviu, ou para reafirmar sua própria posição, mas para expressar o que, a partir de sua escuta, o tocou mais profundamente, o que o desafiou mais fortemente e onde percebeu o Espírito Santo fazer ressoar a sua voz?
c. Terceira rodada: que pontos-chave surgiram (consensos, intuições e tensões)? Que passos o Espírito Santo está nos chamando a dar juntos?
O trabalho na tarde da dinâmica sinodal, no Seminário São José e lar de Retiros, foi dirigida pelo coordenador de Pastoral Pe. Ilário Flach. “Não deverá haver um relatório enumerando os pontos mais mencionados. Muitas vezes a profecia se apresenta como uma voz marginal e divergente. Não ignorar a importância dos pontos em que surgem divergências. O relator faz as anotações e as apresenta ao grupo, perguntando se isso contempla tudo o que foi falado”, disse Flach, lembrando que nesse processo não é o lugar de resolver as divergências. “O foco está em ouvir. Muitas vezes a instância de escuta não é a instância decisória. Frequentemente as divergências apenas mostram o que ainda carece de um maior amadurecimento. Além do mais, muitas delas se resolvem com um pouco mais de estudo, uma vez que já existe uma palavra oficial sobre isso”, comentou ainda. Por fim, o relator posta as conclusões do grupo acessando o formulário pelo QR Code oferecido. Essa rica experiência laboratorial, exercitada pelos sacerdotes e bispos nesse dia, deverá ser repetida nas paróquias e conselhos Pastorais de cada comunidade.
Etapas arquidiocesanas
A nível local, na Arquidiocese da capital gaúcha, haverá ainda duas etapas neste ano de caminhada sinodal, mas que deve existir constantemente na caminhada eclesial. Até o dia 20 de outubro todas as paróquias da Arquidiocese devem repetir esse mesmo trabalho realizado de escuta sinodal, respeitando o conteúdo e método, conforme realizado como laboratório na assembleia do clero, com grupos de seis membros. As conclusões anotadas serão levadas para as reuniões de área/vicariato, para a partilha e a síntese posterior. Cada vicariato e área pastoral da capital já tem sua data marcada para reunir os dados e sínteses. As conclusões dessa etapa, serão levadas pelos seus respectivos representantes, para a reunião do Conselho Arquidiocesano de Pastoral. Dia 25 de novembro, no Colégio São Francisco, em Porto Alegre, haverá a Assembleia Pastoral do Clero e Coordenadores de CPPs de toda a arquidiocese, onde haverá também a constituição e nomeação do Conselho Arquidiocesano de Pastoral (CAP) para encaminhamento do Plano Arquidiocesano de Pastoral, segundo todo esse processo sinodal local e novas orientações do Sínodo de Roma e CNBB.
*Pe. Gerson Schmidt – Jornalista e assessor da Rádio Vaticano