Num estádio de futebol em Curitiba ou na Sala Paulo VI, no Vaticano: as recordações de descendentes de poloneses que encontraram João Paulo II, “um exemplo de proximidade”, como bem recordou hoje o Papa Francisco. A resposta dos brasileiros? Homenagens como a música “A bênção, João de Deus” e ensinamentos levados pra vida: “sempre que possível, dê um sorriso a um estranho na rua, pode ser o único gesto de amor que ele verá no dia”.
Andressa Collet – Cidade do Vaticano
Um aniversário solene aquele do centenário de nascimento de São João Paulo II, comemorado nesta segunda-feira, 18 de maio. Data para celebrar a “proximidade” junto ao povo, um dos traços do Papa polonês relembrado por Francisco, na missa de ação de graças na Basílica de São Pedro. Era “um homem de proximidade”, enalteceu ele, “não um homem separado do povo”, mas que rodou o mundo para achar o seu povo, “fazendo-se próximo”, disse o Pontífice.
No Brasil, por exemplo, esteve por quatro vezes: três viagens apostólicas oficiais e uma passagem rápida, quando só fez escala, com direito a discurso. Em 1980, quando visitou o país pela primeira vez, já era metade do ano, inverno e de muito frio no Sul, como em Curitiba/PR, uma das cidades percorridas pelo então Pontífice.
Corrida improvisada por uma bênção
No Estádio Couto Pereira, João Paulo II fez um pronunciamento para um público de 60 mil pessoas, entre elas, a jovem Loiva Cristina Centenaro, na época com 14 anos de idade. Ela estava numa excursão de gaúchos e representava o Grupo Folclórico Polonês de Erechim/RS, o Jupem, fundado por dois religiosos poloneses há 52 anos. Ela lembra que estavam vestindo trajes típicos da Polônia, semelhantes àqueles do palco, de um grupo local que apresentava danças polonesas e foi convidado a receber a bênção do Papa:
“Entramos na fila… A gente foi pulando, descendo correndo das cadeiras onde a gente estava, adentramos o campo, pulando a cerca e conseguimos ingressar na mesma fileira em que os dançarinos estavam, como se tivéssemos feito parte também do mesmo grupo que dançou. Era uma noite muito fria de inverno, estávamos ‘tiritando’ de frio. Mas quando eu tive oportunidade de chegar na frente do Papa, eu esqueci tudo! Ao receber a bênção dele, foi uma coisa muito gratificante, simplesmente passou o frio. Foi um momento incrível!”
A bênção, João de Deus
Já nessa primeira visita de João Paulo II ao Brasil, em 1980, uma canção de boas-vindas se consagrou como um “hino brasileiro” em homenagem ao Papa: “A bênção, João de Deus”, do compositor Paulo Roberto (confira no cabeçalho da reportagem, um vídeo compartilhado no YouTube pelo Ministério de Música Fonte de Adoração, com cenas de JP II sonorizadas com a música-tema e, ao final, entoada por uma multidão de fiéis). A canção era repetida por brasileiros em todas as demais visitas do Papa polonês ao país e por quem ia encontrá-lo no Vaticano. Maria Vanda Krepinski Groch, então presidente do Grupo Jupem, remente à lembrança de um encontro dos jovens com João Paulo II numa Audiência Geral, na Sala Paulo VI, em 1996:
“No encontro com inúmeras delegações do mundo inteiro, como era seu habitual, com emoção e muita felicidade, o Jupem repetiu o que ele ouvira em Porto Alegre, em 1980, em uma das suas três viagens apostólicas ao Brasil: ‘A bênção, João de Deus’ e ‘Ucho, ucho, ucho, o Papa é gaúcho’. Muita emoção com ele cantando junto e, sempre sorrindo, a sua marca.”
No ano seguinte, em 1997, Vanda, que é filha de imigrantes poloneses, teve uma segunda oportunidade de achar João Paulo II. Dessa vez, numa audiência privada na residência de férias dos Papas, em Castel Gandolfo, na região metropolitana de Roma. Ela conta, “numa profunda reflexão de fé e de ensinamentos”, que as duas ocasiões mudaram a vida dela, deixando um “significado permanente”:
“São João Paulo II recebia delegações também no domingo à tarde, na sua residência de verão, em Castel Gandolfo. Na audiência, em homenagem ao gosto dele pelas montanhas, levamos ‘ciupagas’, uma espécie de bengala que se usa na dança de Podhale, que é uma dança das montanhas da Polônia – justamente um dos locais preferidos por ele. E, ao vê-las, apontou para elas e perguntou, em polonês, com visível surpresa: ‘Co to robi tutaj?’, isto é, ‘o que isto faz aqui?’. Foi emocionante a benção que ele deu a cada um de nós. Éramos em 10 e disse pra mim, afagando a face: ‘Ty, polka’, isto é, ‘tu, polonesa’.”
A proximidade e o sorriso
Esse é o exemplo de proximidade citado pelo Papa Francisco em referência a São João Paulo II, ao estar sempre “próximo dos grandes e dos pequenos, dos de perto e dos de distante, sempre próximo, se fazia próximo”, disse Bergoglio na missa desta segunda-feira (18), em homenagem ao Papa polonês. Segundo Vanda, outra marca inesquecível de João Paulo II era o sorriso, um legado para a sua vida pessoal:
“Ele conseguia transformar as pessoas com sábios ensinamentos em diferentes campos: política, religião e cultura no mundo inteiro. Para os poloneses, maior significado ainda tem a sua vida e a sua obra. Para a comunidade polônica no exterior, sabemos que a religiosidade foi um dos fatores da união, da sobrevivência e do progresso, porque zelava pela língua, pela escola, pela cultura. E São João Paulo II é homenageado com parques, praças, monumentos, escolas, museus, locais culturais em todo o Brasil, além de muitas poesias e músicas falando da sua mensagem de amor e paz. E um dos ensinamentos que pratico é o de sempre cumprimentar todas as pessoas, não importando se as conheço ou não. As palavras de JP II: