COP30, Belém: uma nova página no livro das respostas globais à crise climática

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A conferência internacional sobre o clima abriu suas portas em Belém, um local simbólico para um aniversário simbólico, dez anos após a adoção do Acordo de Paris e vinte anos após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto.

Silvonei José – Belém

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva abriu ontem, segunda-feira (10/11), os trabalhos da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) agradecendo aos moradores de Belém, cidade que sedia o evento até 21 de novembro. “Nas próximas duas semanas, Belém será a capital do mundo”, disse Lula, reconhecendo a decisão “complicada, mas necessária” de convocar a conferência no coração da Amazônia, não apenas para que os líderes pudessem realmente compreender a realidade do “bioma mais diverso da Terra, com quase cinquenta milhões de pessoas e 400 povos indígenas”, mas também para garantir que aos moradores  sejam deixadas as infraestruturas criadas para hospedar os líderes.

A conferência internacional sobre o clima abriu suas portas em Belém, um local simbólico para um aniversário simbólico, dez anos após a adoção do Acordo de Paris e vinte anos após a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto. Após a cúpula de líderes internacionais realizada na semana passada na cidade, a atenção se volta agora para os delegados que realizarão negociações e assumirão compromissos sobre os principais itens da agenda.

E há vários assuntos a serem discutidos nos próximos dias, em um leque entre metas ambiciosas e compromissos concretos que, no atual contexto geopolítico, corre o risco de comprometer a esperança de combater efetivamente a real ameaça das mudanças climáticas.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o anfitrião do evento que reúne mais de 150 delegações, já reiterara o apelo por ações concretas nos últimos dias, após anos de discussões e poucas decisões implementadas. Chega de conversa, chega de desfiles, o que queremos ver são fatos, enfatizou ele. Uma abordagem compartilhada por muitos, mas difícil de ser implementada.



COP30   (AFP or licensors)

Os seis temas principais da COP 30 são: transição energética, industrial e de transportes; gestão de florestas, oceanos e biodiversidade; metamorfose da agricultura e dos sistemas alimentares; adaptação e resiliência para cidades, infraestrutura e água; desenvolvimento humano e social; financiamento e implementação. As discussões verão os protagonistas se confrontarem, em um embate de objetivos entre os países mais poluidores e as nações mais vulneráveis ​​e afetadas pelo aquecimento global, frustradas pela falta de assistência financeira.

O apoio financeiro é uma das questões fundamentais que dominarão a agenda dos delegados, tendo em mente a edição anterior, que terminou com os países desenvolvidos comprometendo-se a fornecer US$ 300 bilhões anualmente em financiamento climático — em comparação com os mais de US$ 1 trilhão solicitados pelos países em desenvolvimento — e prometendo contribuir com US$ 1,3 trilhão anualmente até 2035, provenientes de fontes públicas e privadas.

Espera-se que a COP30 solicite mais detalhes sobre este ponto, com os países em desenvolvimento também apontando para a falta de financiamento para ajudar os estados vulneráveis ​​a proteger suas populações dos impactos climáticos, principalmente a elevação do nível do mar.

A questão das emissões continuam sendo um tema relevante, com a ONU continuando a soar o alarme, alertando que o aquecimento global continua seu curso após atingir um novo recorde em 2024. As previsões sugerem que o mundo está prestes a ultrapassar o limite crítico de 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais dentro de alguns anos.

Nos termos do Acordo de Paris, os países signatários são obrigados a expor metas mais ambiciosas do que as anteriores para a redução das emissões de gases de efeito estufa a cada cinco anos, mas a maioria das nações não cumpriu o prazo de fevereiro para anunciar seus compromissos nacionais (NDCs – Contribuições Nacionalmente Determinadas). Até o momento, apenas 79 dos 194 países cumpriram o prazo, e a perspectiva é bastante decepcionante.

Portanto, dez anos após o Acordo de Paris, a cidade de Belém se torna a capital mundial do clima, acolhendo a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP30, dando início a uma nova página no livro das respostas globais à crise climática. Esta COP – e é a intenção dos organizadores – quer acelerar a implementação do Acordo de Paris, restaurar a confiança no multilateralismo e conectar as metas climáticas à vida das pessoas, um desafio mais do que nunca, urgente.

COP30

COP30

O dia da COP 30

Ontem, primeiro dia da COP30 os temas da adaptação e tecnologia. Bancos multilaterais de desenvolvimento e parceiros lançaram novas ferramentas e modelos de financiamento para transformar planos de adaptação em projetos escaláveis e viáveis. Um pacote bilionário de inovação agrícola foi anunciado para apoiar agricultores de regiões vulneráveis em seus processos de adaptação à mudança do clima. Líderes do governo, do setor privado e digital lançaram o Green Digital Action Hub, uma plataforma global para acelerar a metamorfose digital de forma inclusiva e sustentável.

Outras iniciativas incluem o AI Climate Institute, tecnologias de descarbonização digital e avanços na transparência de dados sobre emissões do setor de TIC, ajudando os países a usarem a tecnologia para alcançar suas metas climáticas. Em síntese, o primeiro dia de trabalhos da COP30 mostrou como inovação e adaptação caminham juntas para proteger, conectar e empoderar pessoas em todo o mundo.

Todos os dias uma Coletiva de Imprensa da Presidência da COP30. Após a abertura oficial, na manhã de ontem, o Presidente da COP30, Embaixador André Corrêa do Lago, e o Secretário Executivo da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Simon Stiell, falaram aos jornalistas credenciados.

Não quero adoçar a pílula. Ainda temos muito trabalho a fazer, disse Sitell, acrescentado que precisamos avançar muito, muito mais ligeiro tanto na redução das emissões quanto no fortalecimento da resiliência. Ele instou as nações participantes da COP30 a acelerarem os esforços para reduzir as emissões e manterem viva a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus. “Reclamar não é uma estratégia. Precisamos de soluções”, acrescentou Stiell.

O presidente Lula na abertura criticara duramente os negacionistas afirmando que “a mudança climática não é mais uma ameaça futura. É uma tragédia do presente”. O presidente então criticou duramente aqueles que rejeitam as evidências científicas e “espalham medo, atacam instituições, a ciência e as universidades”. “É hora de infligir uma nova derrota aos negacionistas”, disse ele.

Ainda nos trabalhos desta segunda-feira tivemos a reunião de líderes de bancos multilaterais, governos e setor privado para discutir soluções inovadoras que ampliem os resultados de adaptação climática, destacando boas práticas e identificando barreiras e facilitadores, como coordenação governamental e uso otimizado de financiamentos concessionais.

As mudanças climáticas estão intensificando as perturbações nas economias, sociedades e ecossistemas, afetando mais fortemente os mais pobres e vulneráveis. Apesar do crescente reconhecimento da urgência, a quantidade e a qualidade do financiamento para adaptação permanecem significativamente abaixo das necessidades globais.

Barco Hospital

Barco Hospital   (© Mauro Nayan Gomes)

Igreja Católica na COP30

A Arquidiocese de Belém está recebendo, desde o último dia 4, diversas delegações internacionais da Igreja Católica que participam da COP30 e dos eventos promovidos pela Arquidiocese entre 11 e 16 de novembro. Ao longo desse período, cerca de 120 participantes ficarão hospedados em casas de retiros e paróquias da Arquidiocese, entre eles, o Secretário de Estado da Santa Sé (que participou da Cúpula sobre o Clima), o Núncio Apostólico no Brasil, oito cardeais, nove arcebispos, 26 bispos, além de padres e leigos de países como Itália, Peru, Índia, Nigéria, Congo, Colômbia, Sérvia, Filipinas, Ruanda e delegações brasileiras.

Como parte dessa programação os bispos realizarão, nesta terça-feira (11/11) uma visita aos barcos-hospitais Papa Francisco e São João XXIII, que estão ancorados no porto hidroviário de Icoaraci até o dia 12.

A presença das embarcações integra as ações da Igreja Católica para oferecer atendimento humanitário e serviços de saúde durante a COP30. Mais de 80 profissionais de saúde atuam de forma voluntária nos barcos, realizando exames laboratoriais, mamografias, tomografias, ultrassonografias, cirurgias de média complexidade, odontologia, oftalmologia, entre outros atendimentos especializados.

 

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