Na manhã deste sábado deverá ser apresentado um novo texto no plenário, em busca de um consenso.
Silvonei José – Belém
As negociações climáticas da COP30 em Belém, que envolvem mais de 190 países, foram oficialmente prorrogadas na noite de ontem, sexta-feira, após duas semanas de conversas infrutíferas, sem qualquer consenso à vista sobre a questão do petróleo, gás e carvão. Tanto que a União Europeia, pressionada a oferecer garantias aos países em desenvolvimento, discute abertamente a possibilidade de deixar Belém “sem um acordo”, o que seria para os especialistas uma derrota para esta primeira conferência climática da ONU na Amazônia.
A presidência brasileira da Cúpula, que começou em 10 de novembro, recebeu na tarde de ontem uma série de países, grandes e pequenos, numa tentativa de resolver a situação: China, Índia, Arábia Saudita, países europeus, o grupo africano, Japão, Honduras…
As discussões se concentram na minuta de acordo apresentada na parte da manhã com uma grande omissão: ela não contém as palavras “combustíveis fósseis”, muito menos a criação do “roteiro” exigido por pelo menos 80 nações europeias, latino-americanas e insulares. Essa coalizão informal, que inclui a Colômbia, líder na luta contra a “proliferação” de petróleo, protestou imediatamente.
“O que está sendo discutido atualmente é inaceitável”, declarou o Comissário Europeu para a Ação Climática, Wopke Hoekstra, para quem “estamos realmente diante de um cenário sem acordo”. Quem se opõe? Índia, Arábia Saudita e Rússia, juntamente com economias emergentes, declarou Monique Barbut, Ministra da Transição Ecológica da França.
As negociações também dizem respeito à ajuda financeira e técnica para países pobres, que está sendo bloqueada pelos países desenvolvidos, afirmam alguns participantes das discussões.
“Não nos deixemos distrair por todo esse ruído. Em qualquer negociação climática, sempre haverá acusações. Vamos nos concentrar no essencial: acesso à energia para os mais pobres, segurança energética para todos e sustentabilidade energética para o planeta”, disse Arunabha Ghosh, enviado da Índia para o Sul da Ásia na COP30.
O projeto de acordo prevê “esforços” para triplicar o financiamento para adaptação às mudanças climáticas em países pobres, mas os países ricos relutam em abrir seus cofres novamente após a COP29, que os comprometeu por dez anos.
Para a ministra do Meio Ambiente da Colômbia, Irene Vélez Torres, a COP30 não pode terminar sem um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
Negociadores europeus e representantes do grupo árabe se reuniram ontem com o presidente da COP Correa do Lago. Ele enfrenta a árdua tarefa de conseguir que 194 países e a União Europeia, signatários do Acordo de Paris, cheguem a um consenso sobre a adoção do plano, como é regra nas COPs.
A ideia de um “roteiro” para acelerar a eliminação gradual do petróleo, carvão e gás, em grande parte responsáveis pelo aquecimento global, surgiu da frustração com a falta de ações concretas em relação ao compromisso de sua eliminação gradual, assumido na COP28, dois anos atrás. Em um ano geopolítico turbulento, com muitos países ocidentais se afastando das questões climáticas, poucos esperavam que esse assunto voltasse à tona. Mas o presidente brasileiro Lula o reviveu no início da cúpula e o trouxe de volta à discussão durante sua visita na quarta-feira, fortalecendo o movimento anti-petróleo.
A presidência brasileira apresentou nesta sexta-feira a versão mais recente do acordo da COP30, excluindo qualquer menção à proposta de estabelecer um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
Enquanto isso, um grupo de 39 países, incluindo nações europeias, latino-americanas, asiáticas e pequenas ilhas, criticou veementemente a falta de ambição do acordo em uma carta enviada à presidência da COP30. Reclamações também partiram de grupos ambientalistas e cientistas, que criticaram a ausência da expressão “combustíveis fósseis” no documento.
Na manhã deste sábado deverá ser apresentado um texto no plenário, em busca de um consenso.

