Entre os muitos encontros no âmbito da COP30, tivemos nestes dias um dedicado ao aspecto inter-religioso realizado pela REPAM, Rede Eclesial Pan-Amazônica. Dom Nereudo enfatiza a importância da união de religiões pelo bem comum e a centralidade da vida. Sônia Mota, pastora da Igreja Presbiteriana Unida a necessidade de denúncias contra crises climáticas e alianças fundamentalistas.
Silvonei José – Belém
A verdadeira fé deve se traduzir em ações concretas e a autenticidade é essencial para que cada religião avalie se suas práticas correspondem aos seus ensinamentos. Dom Nereu espera que, ao final da COP30, haja um mundo mais fraterno, solidário e justo, com mais cuidado pela vida e pelo planeta.
Entre os muitos encontros no âmbito da COP30, tivemos nestes dias um dedicado ao aspecto inter-religioso realizado pela REPAM, Rede Eclesian Pan-Amazônica. Um dos participantes foi Dom Nereudo Freire Henrique, bispo auxiliar da Arquidiocese de Olinda e Recife. Rádio Vaticano – Vatican News conversou com ele:
Dom Nereudo, essa experiência de poder se sentar com pessoas de diversos pensamentos, com religiões que se unem pela fé para um bem comum, que é o homem, mas naturalmente numa visão que faz com que a centralidade da vida seja relevante.
Primeiro é um motivo de felicidade e também renovação da esperança. Aqui na COP nós encontramos pessoas do mundo inteiro. Vários países, várias culturas, várias línguas e com um único propósito. E aqui a nossa experiência, concluída agora há pouco, várias experiências religiosas, mas todas com a mesma direção. Cuidar da vida e cuidar do planeta na linguagem do Papa Francisco da lar Comum. Então, eu creio e recordei São Tiago. Ele disse que a fé sem as obras, não tem sentido. Então, quando nós estamos reunidos aqui procurando renovar o propósito de cuidar do planeta e da vida, significa dizer que nós estamos, quem sabe, mais próximos da autenticidade. Porque é contraditório falar no nome de Jesus, dizer que está convertido, dizer que aceitou, mas não consegue cuidar do próximo e não consegue cuidar da lar comum. Então, me parece que aqui é o momento de renovação. A renovação da esperança é o momento de confirmar a nossa caminhada em prol da vida, no anúncio do Evangelho, no seguimento a Jesus.
A fé é um elemento aglutinador de tudo isso?
Ah, sim. A fé possibilita uma ação concreta. Então, não adianta eu dizer que tenho fé. A fé, ela é visível. Porque quando eu tenho fé, eu não acredito no ressuscitado, aquele que carregou a cruz, eu vou estar aprendendo com ele. Eu sempre costumo lembrar que o discípulo é aquele que está sempre aprendendo. E o discípulo está sempre encaminhado. Por isso, nós somos peregrinos de esperança.
Qual contribuição as religiões podem dar, então, a um discurso como esse da COP30?
A grande contribuição é a autenticidade. É cada um fazer uma avaliação da sua própria vida. Cada religião deve fazer também uma avaliação para ver se o que nós estamos anunciando e o que nós estamos vivendo corresponde com a palavra de Deus.
E Dom Nereu, o que espera dessa COP30?
Espero que possamos, ao seu termo, termos um mundo mais fraterno, mais solidário, com mais justiça, com mais cuidado com a vida humana e com o planeta.
Nós também conversamos com Sônia Mota, pastora da Igreja Presbiteriana Unida e diretora da SESI, Coordenadoria Ecumênica de Serviço, que destacou a importância da mensagem de esperança na COP30, enfatizando a necessidade de denúncias contra crises climáticas e alianças fundamentalistas.
Sônia, a participação na COP30, que mensagem, e também o que é que vocês vieram trazer?
Nós viemos trazer uma mensagem também de esperança. Claro que nós estamos enfrentando talvez a maior crise climática de todos os tempos, nós temos consciência disso. Queremos trazer a nossa voz profética de denúncia de tantos desmandos e inclusive as alianças fundamentalistas que têm acontecido, não é? Com a aliança política, econômica e religiosa, afetando povos e comunidades tradicionais nos seus territórios. Mas também, para além disso, viemos trazer uma mensagem de esperança, principalmente para as comunidades de fé. Nós estamos em posições privilegiadas. Porque as diversas tradições de fé, elas alcançam as pessoas em seus territórios. E a fé é um elemento extremamente relevante para todas as pessoas, ou pelo menos para a grande parte das pessoas. E eu acho que você utilizar a sua fé para estar a serviço de uma causa tão relevante como a defesa da lar comum, isso é extremamente relevante, isso é extremamente bíblico e divino.
Onde é que entra a fé nesse conceito?
A fé entra quando você se compreende como parte da boa criação de Deus e que você está aqui, não para explorar, mas para sermos jardineiros e jardineiras, cuidadores e cuidadoras da lar comum e que nós estamos integrados em todo esse ecossistema. Nós não somos coroa da criação, nós não estamos aqui para sermos aqueles entes que desfrutam sem cuidar. Então, acho que a fé entra nesse conceito. Compromisso de vida que nós temos com a boa criação de Deus e conosco mesmo.
E o compromisso que a gente vê aqui também com a participação de tantas pessoas de religiões diferentes.
Diferentes, com certeza. Nessa nossa caminhada inter-religiosa, nós temos aprendido que o grito da terra, que o grito da natureza, que o grito das pessoas, dos seres humanos sofrendo todos esses impactos da natureza, este grito faz ecoar, em toda a tradição de fé, independente daquela que você professa e até mesmo naqueles que dizem que não professam fé nenhuma. Porque este grito da natureza atinge a nossa vida e, quando atinge a nossa vida, a gente independe de religião, a gente quer preservar essa lar comum, porque nós não temos o plano B.


