O Presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim, Dom Marcelin Yao Kouadio, disse em entrevista à Agência Fides a propósito das emigrações, que os Países africanos são imensamente ricos, mas os seus habitantes não podem desfrutar destas riquezas, e os nossos jovens são obrigados a ir morrer no cemitério que se tornou o Mediterrâneo.
Cidade do Vaticano
“Os primeiros missionários da Sociedade das Missões Africanas (SMA) chegaram à Costa do Marfim em 1895. Somos, portanto, uma Igreja relativamente jovem”, disse em entrevista à Agência Fides o Bispo de Daloa e Presidente da Conferência Episcopal da Costa do Marfim, Dom Marcelin Yao Kouadio.
A Costa do Marfim é ainda “terra de missão”?
Atualmente temos 15 dioceses com 4 províncias eclesiásticas, e toda a hierarquia é toda ela composta por Bispos vindos do clero diocesano da Costa do Marfim. Mas, certamente, ainda acolhemos missionárias e missionários estrangeiros pertencentes a diversas congregações religiosas (sobretudo femininas) e institutos de vida apostólica. Portanto, ainda somos uma Igreja “em terra de missão”. A nossa problemática é como passar desta condição para uma Igreja missionária.
O que pode ajudar esta passagem?
Do meu ponto de vista, é preciso ter em consideração a chamada “tríplice autonomia”. Em primeiro lugar, a autonomia do pessoal envolvido no trabalho apostólico, por meio de uma pastoral vocacional bem organizada, dirigida às gerações jovens. E depois a autonomia cultural, através da inculturação da fé: como valorizar a cultura local, que tem os seus valores, na dinâmica do anúncio do Evangelho. Na cultura tradicional do nosso povo existem fatores como a crença em Deus, o Ser Supremo; o reconhecimento do mal feito e do pecado; a crença na vida depois da morte; o sentido da vida comunitária. Finalmente, a autonomia financeira de todas as nossas dioceses. A nível nacional criámos um fundo católico nacional que está a ter bons resultados. Estamos terminando de construir a construção de uma cidade financiada por este fundo. É uma cidade com diversas casas para alugar em vista à criação de fundos para a Igreja.
Como se realiza o colóquio com as outras comunidades de crentes no seu País?
Num contexto como o da Costa do Marfim, se deve falar de colóquio inter-religioso, porque ainda existem os seguidores da religião tradicional africana e existem os muçulmanos. O colóquio ecuménico, pelo contrário, diz respeito às relações com as Igrejas protestantes. Na Costa do Marfim foi criada uma espécie de aliança entre comunidades de crentes pela paz, trazendo juntos sobretudo os nossos irmãos protestantes e os muçulmanos. Neste momento, como Conferência Episcopal, estamos presentes como observadores. Existe também o Fórum Nacional das Confissões Religiosas onde estão presentes todas as confissões do País, e onde juntamente com todos os outros líderes religiosos promovemos iniciativas para a paz e a coesão social, sobretudo durante o período crítico das eleições.
Em 2023, a primeira nacionalidade de imigrantes a chegar à costa italiana é da Costa do Marfim, até agora quase 8.000 pessoas. O que nos pode dizer sobre isso?
O fenómeno da emigração é uma realidade infeliz na medida em que os Países africanos, como a Costa do Marfim, são imensamente ricos. Mas os seus habitantes não podem desfrutar destas riquezas. Só para darmos um exemplo, a Costa do Marfim é o maior produtor mundial de cacau. Mas quem o cultiva na Costa do Marfim não se pode dar ao luxo de comprar “o bom chocolate” anunciado na vossa publicidade na Europa. Somos o terceiro maior produtor de café no mundo, sem contar o ouro, diamantes e muito mais ainda. E o mesmo vale para os outros Países africanos. Os seus filhos são obrigados a ir morrer naquele cemitério que se tornou o Mediterrâneo. É uma tragédia. Diz-se que vivemos num mundo globalizado. Diz-se que o mundo é uma grande aldeia, mas a mobilidade de que se fala é muitas vezes de sentido único. Existem alguns que podem ir em todo o lado mesmo sem visto, mas muitos outros que não se podem movimentar. A Igreja procura sensibilizar os jovens sobre os riscos de partir. Durante a última Quaresma orientei um retiro com 12 mil jovens onde abordamos o tema.