A espiritualidade dos leigos se alimenta da Palavra de Deus e dos sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Confissão. Antes de tudo vivam uma “espiritualidade encarnada”. Não podemos querer um Cristo sem cruz. Por outro lado, existe a tentação de uma espiritualidade intimista e individualista, e o exagero do devocionismo, do demonismo e das “revelações privadas”. “Não servem propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário” (Papa Francisco).
Santa Teresa de Calcutá vivenciou uma espiritualidade encarnada. Ela compreendeu que, para a espiritualidade ser relevante, é necessário que se encarne a realidade na qual a pessoa vive, que seja uma espiritualidade inserida no coração da miséria. Ela lia a Sagrada Escritura a partir da vida e a vida a partir da Sagrada Escritura. Os mais emblemáticos textos da Sagrada Escritura e que mais falavam e provocavam uma verdadeira revolução no modo de ser e de viver de Santa Teresa de Calcutá eram: “eu estava com fome e me destes de comer; estava com sede e me destes de beber; eu era forasteiro e me recebestes em lar (…) todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 31-46)
Diante da dor e do sofrimento, ela se fazia presente. Sua presença falava mais do que as palavras. Onde o sofrimento clamava por sua presença, ela lá estava. Vejam: ela não esperava ser chamada. Seu campo missionário eram as ruas da cidade. Não podia ficar de braços cruzados por um único segundo, pois, afinal, o sofrimento, a dor e a fome sempre requerem urgência. Não consigo imaginar melhor adoração a Deus do que trabalhar em seu nome pelos pobres, com os pobres.
A regra que podemos aprender com Santa Teresa de Calcutá é bem simples: “quanto mais esvaziarmos a nós mesmos, mais deixaremos espaço para Deus preencher!” Para amar, é preciso sair de si mesmo e atravessar as fronteiras do egoísmo que nos impede de partilhar o que somos e o que temos. Com um sorriso no rosto ela podia afirmar: “amo muito minha gente, mais do que a mim mesma” e completava: “Cristo vê através dos meus olhos, Cristo fala através das minhas palavras, Cristo trabalha com minhas mãos, Cristo caminha com as minhas pernas, Cristo ama com meu coração”. Ela não se pertencia. Não mais vivia, era Cristo que vivia nela.
“Quando um pobre morre de fome, não é porque Deus se esqueceu dele, e, sim, porque nenhum de nós se preocupou em oferecer a ele o que necessitava. Recusamos atuar como instrumento do amor nas mãos de Deus”. Não existe fé isolada da solidariedade! Ela é vivida relativamente às outras pessoas.
Às vezes, Senhor, meu amor pelas pessoas é reduzido a meras palavras. Ajuda-me a sair da minha zona de conforto e ir ao encontro de cada pessoa que necessite de amor e solidariedade! Assim seja.
Por Dom Félix
Fonte: Artigo “A Amizade com Jesus na Palavra e na Eucaristia” (14ª Parte).