De cardeal-bispo a Papa em Albano: Leão XIV e os modos de agir de Deus

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Mais de 1500 fiéis participaram da missa presidida por Leão XIV em Albano, a cerca de 2km de onde está hospedado para as férias de verão. O Pontífice recordou que de uma forma ou outra veio ao encontro da comunidade, já que em 12 de maio deveria ter tomado posse como cardeal-bispo de Albano, mas havia sido eleito Papa em 8 de maio. “O Espírito Santo decidiu de outra forma”, brincou ele, ao refletir sobre os modos de agir de Deus: hospitalidade, serviço e escuta através de Abraão, Marta e Maria.

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Andressa Collet – Vatican News

A comunidade de Albano, de pouco mais de 35 mil habitantes e a cerca de dois quilômetros de Castel Gandolfo onde o Papa termina nesta terça-feira (22/07) o seu primeiro período de repouso, era entusiasta com a presença do nobre hóspede. Para chegar à Catedral de São Pancrácio Mártir, Leão XIV fez um trajeto a pé em meio a fiéis, peregrinos e turistas reunidos na Piazza Pia, parou para cumprimentar alguns deles, inclusive doentes e idosos, com banda musical do município “Cesare Durante” fazendo a trilha sonora de fundo.



Leão XIV ao cumprimentar a comunidade de Albano Laziale, a 2km de Castel Gandolfo   (@Vatican Media)

Ao invés de cardeal-bispo de Albano, volta como Papa

Após saudar autoridades civis e eclesiásticas no sagrado da catedral, o Pontífice recebeu alguns presentes, entre eles, um cesto com produtos típicos locais e um prato de prata com o brasão da diocese, preparado para aquela que seria a sua tomada de posse como cardeal-bispo de Albano. De fato, o Papa Francisco havia nomeado o então cardeal Prevost em 6 de fevereiro deste ano como cardeal-bispo da diocese. A posse do título, prevista para 12 de maio, solenidade do padroeiro Pancrácio, acabou não acontecendo devido a sua eleição como Papa 4 dias antes, em 8 de maio. O prato de prata, agora, trouxe o brasão papal do Pontífice e a dedicatória da diocese. 

“Estou muito feliz por estar aqui hoje para celebrar a Eucaristia dominical nesta bela catedral. Como sabem, eu deveria chegar em 12 de maio, mas o Espírito Santo decidiu de outra forma. Mas estou realmente feliz e, com esta fraternidade, esta felicidade cristã, saúdo todos vocês aqui presentes.”

Um casal de jovens da diocese de Albano entregou o prato de prata comemorativo

Um casal de jovens da diocese de Albano entregou o prato de prata comemorativo   (@Vatican Media)

Hospitalidade, serviço e escuta 

A missa foi concelebrada por 80 sacerdotes que atuam no território, com a participação de 400 fiéis dentro da catedral e mais de mil deles na Piazza Pia que acompanharam através de telões. O canto de entrada da celebração foi composto exclusivamente para o Papa Leão XIV pelo maestro Grimoaldo Macchia. Na homilia, o Pontífice refletiu sobretudo sobre o Evangelho do dia (Lc 10, 38-42) que retrata quando Jesus “conheceu o serviço atencioso de Marta e o silêncio adorador de Maria”, mas além do serviço e da escuta, Leão XIV também abordou sobre a hospitalidade, quando Deus escolheu o caminho da hospitalidade quando visitou Abraão, a mulher Sara e os servos para lhes anunciar o dom da fecundidade, que o casal tanto desejava, recebendo “a promessa de uma vida nova e de uma descendência”.

A missa foi celebrada na Catedral de Pancrácio Mártir, em Albano

A missa foi celebrada na Catedral de Pancrácio Mártir, em Albano   (@Vatican Media)

Embora em circunstâncias diferentes, continuou o Papa, o Evangelho fala do mesmo modo de agir de Deus, quando Jesus se apresenta como hóspede na lar das irmãs Marta e Maria. A primeira o acolhe “com mil atenções, enquanto a outra o escuta sentada a seus pés, com a atitude típica do discípulo perante o mestre” e com a qual Jesus convida a imitar, aprecidando o valor da escuta. O Papa Leão, então, alertou que “seria errado ver estas duas atitudes como contrapostas entre si, bem como fazer comparações em termos de méritos entre as duas mulheres. Com efeito, o serviço e a escuta são duas dimensões gêmeas do acolhimento”: é relevante viver a fé com fidelidade aos deveres, mas também a partir da meditação da Palavra de Deus, através de momentos de silêncio e oração, por exemplo, “que hoje temos particular necessidade de recuperar”. E as férias, como aquelas de verão na Europa, podem ser um tempo providencial pra isso, aconselhou o Pontífice, dando lugar à escuta do Pai no tempo livre:

“Saindo do turbilhão dos compromissos e das preocupações, vamos aproveitá-los para saborear alguns momentos de sossego e recolhimento, bem como para, indo a algum lado, partilhar a felicidade de nos vermos – como acontece comigo, hoje e aqui. Façamos disto uma oportunidade para cuidarmos uns dos outros, para trocarmos experiências e ideias, para nos compreendermos mutuamente e darmos bons conselhos: isto faz-nos sentir amados, e todos precisamos disso. Vamos fazer isso com coragem.”

Serviço e escuta exigem empenho e renúncia

Leão XIV comentou, no entanto, que sabe que “tudo isso implica cansaço”. Lembrou do Papa Francisco quando, antes que a pandemia começasse, falou sobre sabermos associar tanto “estar aos pés de Jesus” como atentos ao serviço. Duas atitudes que vieram a ensinar muito durante “aquela longa e dura experiência, que ainda hoje recordamos”:

“O serviço e a escuta não são sempre fáceis: exigem empenho e capacidade de renúncia. Por exemplo, na escuta e no serviço, a fidelidade e o amor com que um pai e uma mãe orientam a sua família implicam cansaço, o mesmo acontece com o empenho dos filhos, em lar e na escola, para corresponderem aos seus esforços; é exigente nós nos compreendermos, uns aos outros quando temos opiniões diferentes, nos perdoarmos quando se erra, nos assistirmos quando se está doente, nos apoiarmos quando se está melancólico.”

Papa refletiu sobre quando Jesus "conheceu o serviço atencioso de Marta e o silêncio adorador de Maria",

Papa refletiu sobre quando Jesus “conheceu o serviço atencioso de Marta e o silêncio adorador de Maria”,   (@Vatican Media)

Só assim, com estes esforços, continuou o Papa, se constrói algo de bom na vida e nascem e crescem relações autênticas e fortes entre as pessoas. Citando Santo Agostinho, ao refletir sobre o episódio de Marta e Maria, Leão XIV enalteceu o trabalho da mulher do serviço, que sempre deve ser desempenhado “de forma irrepreensível e com caridade”, porque o cansaço de cuidar dos outros passará e o repouso chegará. Enfim, o Pontífice finalizou:

“Abraão, Marta e Maria nos recordam hoje precisamente isto: que a escuta e o serviço são duas atitudes complementares para, na vida, nos abrirmos à presença abençoada do Senhor. O seu exemplo nos convida a conciliar com sabedoria e equilíbrio, ao longo de cada dia, contemplação e ação, repouso e cansaço, silêncio e trabalho, tendo sempre como medida a caridade de Jesus, como luz a sua Palavra e como manancial de força a sua graça, que nos sustenta para além das nossas próprias capacidades.”

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