Dilexi te: um chamado concreto às nossas paróquias

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Um dos pontos mais fortes do documento é a insistência de que os pobres não são apenas “objetos” de nossa caridade, mas “sujeitos” de evangelização. O Papa nos diz que “precisamos que todos nos deixemos evangelizar por eles”. Isso exige de nós uma profunda humildade.

Dom Vilson Dias de Oliveira, DC – Bispo Emérito de Limeira

Com felicidade e senso de responsabilidade, acolhemos a primeira Exortação Apostólica do nosso Santo Padre, o Papa Leão XIV, Dilexi te. O título, “Eu te amei”, é a chave de leitura: é o amor de Deus pelos mais fracos que deve ser o motor da nossa ação pastoral. Este não é um documento teórico, mas um chamado urgente à ação, um texto que nos tira da zona de conforto e nos coloca de frente com as exigências práticas do Evangelho.

O Papa Leão XIV utiliza a parábola do bom samaritano como eixo central de sua reflexão pastoral. Ele nos confronta com a pergunta de Jesus: “Com qual deles te identificas?”. Esta é uma pergunta que deve ressoar em cada um de nós, especialmente nós, pastores. Muitas vezes, como o sacerdote e o levita da parábola, estamos ocupados com as “coisas de Deus” – a liturgia, a administração, as reuniões – e corremos o risco de “passar ao largo” diante do homem caído na estrada. Em meus anos de pastoreio ativo na Diocese de Limeira, senti muitas vezes a tensão entre as justas demandas da administração e a necessidade evangélica do contato direto, de “perder tempo” com quem sofre. O Papa Leão XIV nos recorda qual é a prioridade: a burocracia deve servir à caridade, e não o contrário.

Um dos pontos mais fortes do documento é a insistência de que os pobres não são apenas “objetos” de nossa caridade, mas “sujeitos” de evangelização. O Papa nos diz que “precisamos que todos nos deixemos evangelizar por eles”. Isso exige de nós uma profunda humildade. Nós, que estamos acostumados a ensinar, somos chamados a aprender com os pobres. Eles nos ensinam a resiliência, a solidariedade e a confiança na Providência de Deus, valores que nossas sociedades opulentas muitas vezes esquecem. A verdadeira pastoral com os pobres não é um movimento de cima para baixo, mas um encontro de irmãos, onde nós também somos evangelizados.

O Santo Padre faz um diagnóstico severo do que pode adoecer uma comunidade de fé. Ele afirma categoricamente que “a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual”. E lança um alerta que deve nos fazer refletir: uma comunidade da Igreja que vive “tranquila”, sem se comprometer com a dignidade dos pobres, “correrá também o risco da sua dissolução”. Uma paróquia que não tem uma Pastoral Social atuante, que não é um hospital de campanha para os feridos da vida, pode estar cheia de pessoas, mas estará vazia de Evangelho, submersa no “mundanismo espiritual”.

Por fim, o Papa Leão XIV nos chama a gestos concretos. Em um mundo de grandes teorias, ele resgata o valor da esmola. Não a esmola que humilha, mas a esmola que é encontro, que nos faz parar, olhar nos olhos e “tocar a carne sofredora dos pobres”. Não podemos amar por procuração. Precisamos lutar por justiça, sim, mas precisamos também do contato pessoal que transforma primeiro o nosso coração. Que esta primeira Exortação do Papa Leão XIV nos impulsione a uma pastoral da proximidade, da ternura e da compaixão eficaz.

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