Dom Alí Herrera: a reparação das vítimas é condição para a justiça delas

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O secretário da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores ilustra os pontos salientes do “II Relatório Anual sobre Políticas de Tutela na Igreja Católica”, publicado na quinta-feira, 16 de outubro.

Sebastián Sansón Ferrari – Vatican News

O compromisso da Igreja com a proteção de menores e de pessoas vulneráveis continua a se fortalecer, graças à escuta e à contribuição das vítimas. Isso é destacado por dom Luis Manuel Alí Herrera, secretário da Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores, que, em entrevista ao Vatican News, aprofunda os temas centrais do II Relatório Anual sobre Políticas de Tutela na Igreja Católica, publicado na quinta-feira, 16 de outubro.

Um processo mais amplo e participativo

Esse segundo relatório, explica dom Alí Herrera, amplia significativamente a metodologia do anterior, sobretudo graças ao envolvimento de grupos de vítimas provenientes dos cinco continentes. “Nesta edição, participaram 40 grupos de vítimas da América, Europa, África, Ásia e Oceania. Eles nos ajudaram naquilo que consideramos uma das metodologias mais fecundas deste relatório anual. Eles foram o coração do processo, porque seus relatos nos permitem compreender com maior profundidade o sentido da reparação e da prevenção”. O documento também reúne informações provenientes não apenas das Conferências Episcopais, das comunidades religiosas e dos dicastérios vaticanos, mas também das nunciaturas apostólicas e dos relatórios das Nações Unidas sobre a violência contra crianças e adolescentes. “A proteção – sublinha o prelado – deve ter uma visão global e realista: é um compromisso de toda a Igreja”.

A reparação integral: ouvir, acompanhar e curar

Um dos pontos mais significativos do relatório é o conceito de reparação integral, elaborado a partir do colóquio com as vítimas e da comparação com especialistas internacionais. “As vítimas nos mostraram o que viveram em termos de reparação. Ao nos confrontarmos com um dos maiores estudiosos do assunto, o professor Smolin, desenvolvemos uma proposta concreta no relatório”. Dom Alí explica que, a partir desse caminho, a Comissão identificou várias iniciativas já iniciadas dentro da Igreja: “já foram implementadas várias propostas que levam em conta a reparação integral. As vítimas insistem: não se trata apenas de uma indenização econômica. É necessário também o linguagem simbólica da reparação, a inclusão das vítimas em todos os processos de prevenção e uma escuta mais atenta em todas as fases dos processos canônicos”. Segundo o secretário, em algumas Igrejas locais esse trabalho já está consolidado, em outras está apenas começando. “Devemos ajudar a tomar consciência do que realmente significa uma reparação integral. É um dos temas mais recorrentes nas visitas ad limina”, afirma.

Rumo a um quadro universal de diretrizes

Entre os avanços destacados por dom Alí está também a elaboração de um quadro universal de diretrizes para a proteção de menores e pessoas vulneráveis, em cumprimento ao mandato recebido do Papa Francisco por meio da constituição Predicate Evangelium. “O Dicastério para a Doutrina da Fé nos entregou diretrizes e nos disse: agora essa tarefa é de vocês. Vocês são os responsáveis pelas políticas de prevenção na Igreja”.

A Comissão, acrescenta, trabalha há três anos neste projeto: “esperamos poder oferecer em breve à Igreja um conjunto de diretrizes que indiquem princípios inegociáveis para todas as políticas de prevenção, critérios adaptáveis às diferentes culturas e indicadores mais concretos para sua implementação”. À pergunta sobre os princípios fundamentais desse quadro, dom Alí responde com firmeza: “a proteção de crianças e adolescentes na Igreja é um princípio não negociável, é uma obra fundamental. E acrescento um segundo princípio: a assistência, o acompanhamento e a escuta atenta das vítimas também são não negociáveis”.

O apoio e a continuidade do Papa Leão XIV

Dom Alí Herrera expressou especial gratidão pelo apoio constante do Papa Leão XIV, que em apenas cinco meses de pontificado recebeu a Comissão em quatro ocasiões. “Estamos cheios de esperança, muito felizes por todo o apoio que o Papa Leão nos deu. Em cinco meses, ele nos recebeu em audiência quatro vezes… Para o Santo Padre, esta é uma prioridade”. O prelado destaca a proximidade e a sensibilidade do Pontífice: “ele está ciente da necessidade de agilizar os processos canônicos. Ele sabe o quanto é indispensável um trabalho muito delicado e sério para o bem de todas as pessoas envolvidas. Nos sentimos apoiados pelo Papa Leão em todas as propostas apresentadas e sempre o encontramos atento”.

Uma Igreja que aprende a cuidar

O II Relatório Anual — conclui dom Alí — não é um documento técnico, mas a expressão do compromisso eclesial com a justiça, a escuta e a cura. “A reparação deve se tornar um capítulo fundamental das diretrizes de toda Igreja. Não basta a prevenção, nem apenas o acompanhamento das comunidades: é necessária uma reparação integral”. Com esperança, o secretário da Comissão reitera que o processo permanece aberto e pede a participação de todos: “cada passo em direção à transparência, à prevenção e à reparação é um passo em direção ao Evangelho. A proteção não é tarefa de poucos, mas missão de todos”.

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