Dom Edosn: “Vamos, na ação evangelizadora, a exemplo do voar das aves e pássaros em formato de “V”, criar processos simultâneos, em sinergia, trabalhar em equipe a fim evitarmos o que Papa Francisco nos alerta: “o risco de uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho”.
Dom Edson Oriolo – bispo da diocese de Leopoldina (MG)
Muitos pássaros, principalmente as aves migratórias, quando voam, em bando, formam um “V”. Essas aves nunca voam sozinhas. As formações em “V”, de acordo com cientistas, ajudam os pássaros a conservar suas energias para chegar ao destino. Quando iniciam o voo, são as mais experientes e velhas que vão à frente e conseguem manter o ritmo em alta velocidade. Elas batem as asas e formam atrás um vácuo que ajuda as outras a plainar as suas asas e economizar esforços para voar. A ave que está à frente, ao cansar, vai para trás e assim, sucessivamente, vão alternando a liderança. Um outro detalhe pesquisado é que, quando uma cai, duas deixam o bando e ficam observando, de distante, a que caiu, aguardando a se recuperar ou morrer. Após a recuperação ou a morte, integram-se a outro bando e continuam o destino com ou sem a que caiu.
Esse cenário da criação nos propõe elementos básicos para uma ação evangelizadora na contemporaneidade. Acredito que três princípios básicos podem nos enriquecer com essa logística do voar das aves em bando: sinergia, trabalho em equipe e processos simultâneos.
A sinergia entre as aves: observando os bandos de aves ou pássaros que voam em formato de “V” percebemos os esforços simultâneos, a harmonia, o sincronismo, a cooperação e as operações bem associadas. Jesus, ao chamar os apóstolos, convidou pessoas que sabiam trabalhar juntas para ajudar na sua missão. Eram pescadores e também sócios: “Tiago e João eram sócios de Simão Pedro” (Lc 6,10). Eles usavam “redes para pesca” (Lc 6, 4). Nada de cada um pescar com sua vara e anzol. Tinham que estar juntos para preparar, cuidar, jogar e puxar a rede. Nada faziam sozinhos. Pescadores experientes não começam uma pescaria eficaz e produtiva sem que as redes sejam inspecionadas pelo grupo e estejam em ordem. A ação evangelizadora deve ser um apostolado em sinergia para que ninguém se perca, saindo pelos rombos. Mesmo quando alguns se afastam devemos ir atrás (cf. Lc 15, 4). Um objetivo realizado com várias partes comprometidas, um dependendo da ajuda do outro e uma ação em prol do bem comum.
O trabalho em equipe: é um segundo princípio para dinamizar a “ação evangelizadora” em todos os níveis diocesano, paroquial e comunitário. As aves cruzam os céus sempre em grupo e nunca sozinhas. Elas podem revezar na liderança onde a resistência dos ventos é maior, fazendo com que não se cansem tão ligeiro. Elas são mais produtivas, atingem o objetivo mais rapidamente e se esforçam menos, quando cruzam o céu juntas e nunca sozinhas. Juntas, elas se protegem mutuamente, mesmo sabendo que, quando uma cai, duas deixam o bando e seguem pondo-se a vigiá-la à distância. O segredo para que a ação evangelizadora possa produzir frutos é o trabalho em equipe. A evangelização pensada em equipe é, assim, instrumento essencial para todo o processo e não apenas para levantamento de metas e desenvolvimento de métodos.
O trabalho em equipe é fundamental na integração de projetos, mentalidades, propostas criativas, dinâmicas e na superação de todo o medo e desânimo que possam surgir. Um apoiando o outro! Temos que trabalhar em equipe, mas sem apologia e discursos vazios. Precisamos de uma verdadeira práxis relacional (eu-tu-outros), mesmo sabendo que os ventos mudam e temos que estar juntos.
Simultaneidade: é o terceiro princípio para oxigenar a ação evangelizadora inspirando-se no formato “V” do voo das aves. As aves voam em conjunto porque, melhorando a aerodinâmica, conseguem quebrar a resistência do vento mais facilmente. Necessitamos trabalhar em sincronia na diversidade dos dons. Na ação pastoral, as coisas acontecem de maneira rápida e ao mesmo tempo concomitante. Todos devem estar comprometidos com o mandato missionário de Jesus Cristo. Assim como as aves se revezam na liderança, quando a resistência do vento é maior e se cansam mais ligeiro, assim devem ser nossas lideranças nas pastorais, movimentos etc. Cientes nesses processos simultâneos de evangelização teremos condições de valorizar e respeitar as forças vivas das nossas dioceses, paróquias, comunidades eclesiais missionárias, pastorais, movimentos e associações.
Vamos, na ação evangelizadora, a exemplo do voar das aves e pássaros em formato de “V”, criar processos simultâneos, em sinergia, trabalhar em equipe a fim evitarmos o que papa Francisco nos alerta: “o risco de uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce felicidade do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem” (A felicidade do Evangelho, n. 2).
“Não deixemos que nos roubem a comunidade! ” (idem, n. 92).