Dom Oriolo: a Igreja missionária em movimento

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A Igreja, em sua essência missionária, é convocada a ir além das fronteiras do templo, abraçando um movimento contínuo de acolhimento que compromete toda a comunidade eclesial.

Dom Oriolo – Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

A primeira vez que a expressão “movimento” ligada à missão da Igreja despertou minha atenção foi em maio de 2015, ao receber das mãos de Dom Walmor, arcebispo de bonito Horizonte (MG), um exemplar da revista “Arquidiocese em Movimento”. A revista era, de fato, um reflexo do dinamismo da arquidiocese: repleta de fotos, mensagens, artigos e relatos de ações pastorais. Ao observar seus conteúdos, percebi que ela ia além. Sua proposta não só era clara, mas extremamente eficaz em atrair, conectar e reter a atenção das pessoas, conduzindo-as a uma experiência cristã mais profunda com o bom Deus.

A revista “Arquidiocese em Movimento” com sua proposta de atrair, conectar e reter é altamente eficaz e prática. Ela oferece um mapa de ação que qualquer comunidade pode adotar para ser mais proativa, visionária e evangelizadora. Essa tríade missionária que apresenta uma arquidiocese em movimento, ultrapassa a normalidade da ação evangelizadora e a torna uma Igreja missionária. Ela inspira, capacita e sustenta a força do movimento num organismo dinâmico e proativo. Ao detalhar como atrair corações para a fé, conectar fiéis em relacionamentos profundos e comunitários, e reter o discipulado, por meio de uma formação contínua, bem como pela qualidade dos artigos e um sentido de pertença, a revista eleva e manifesta a dinâmica de uma Igreja missionária.

A Igreja, em sua essência missionária, é convocada a ir além das fronteiras do templo, abraçando um movimento contínuo de acolhimento que compromete toda a comunidade eclesial. Tal movimento se fundamenta em dois eixos inseparáveis: a cristologia e a eclesiologia. Cristo se identificou com o estrangeiro, o necessitado, os pequeninos e afirmou que o critério pelo qual seremos julgados é acolhê-lo no menor dos seus irmãos (cf. Mt 25, 35-46). A Igreja, por sua vez, deve ser a lar do acolhimento, um sinal de maternidade que reconhece a presença de Jesus na pessoa do outro. A Igreja, como mãe acolhedora, é chamada a transcender seus limites físicos e estruturais estando em movimento para lançar as sementes do Verbo.

O estar em movimento gera inovação, pois processa novas informações e permite que insights e soluções aflorem naturalmente. O movimento afasta a manutenção, injetando força e otimismo na exploração de novos caminhos e projetos. A missão em si é um ato criativo, que exige a busca constante por novas linguagens e métodos para comunicar a mensagem eterna em contextos em constante mudança (cf. EG 28-33).

O movimento é a condição para manter a percepção aguçada e atenta ao ambiente. Estar em campo permite capturar tendências, sinais e oportunidades que seriam imperceptíveis para quem está pronto. Além disso, gera familiaridade com a incerteza, tornando a adaptação a transformações e reversões de rota muito mais fácil e menos ameaçadora. A Igreja em movimento é resiliente e ágil, sempre pronta a aprender e se ajustar ao que o Espírito e a realidade indicam.

O estar em movimento é a força propulsora que garante a vitalidade de projetos e ambições. É o que transforma problemas em soluções e garante que as chances não sejam perdidas por inércia. É no enfrentamento dinâmico dos obstáculos que se encontra o verdadeiro desenvolvimento e a evolução da comunidade. A inércia leva ao desgaste; o movimento, à vida.

Assim, inspirados pela revista da Arquidiocese de bonito Horizonte, podemos organizar a dinâmica pastoral, nas diversas instâncias da vida eclesial, preocupando-nos em atrair fiéis, valorizando a dimensão comunitária e levando o Evangelho aos afastados, demonstrando a relevância da Boa-Nova. A atração exigirá sair do templo, praticar a escuta ativa das pessoas e promover a participação dos fiéis em desafios práticos. Assegurada a participação, é necessário fortalecer os laços com o acolhimento que compromete, a misericórdia pastoral e as celebrações. Esse caminho permitirá, que cada pessoa se sinta pertencente, valorizada e corresponsável pela missão da comunidade eclesial.

Uma Igreja missionária em movimento é também a proposta do grande missionário Paulo, que convertido, entregou sua vida e a colocou em contínuo movimento para que a Boa-Nova fosse acolhida por judeus e pagãos, conforme atestam os Atos dos Apóstolos (cf. At 13-28). Fundando comunidades, sempre as orientou que levasse a salvação até os extremos da terra, segundo ordem recebida do Senhor (cf. At 13,47).

Neste sentido, é muito atual e relevante o ensinamento do papa Francisco na exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG), pedindo a conversão pastoral e missionária e uma Igreja em saída, ele propõe uma Igreja que, na simplicidade e sem ostentação, acolha a todos, sem distinção e saia em direção aos outros para chegar às periferias humanas (cf. n. 20-49). E proclama: “somos chamados a esta nova saída missionária” (EG 20).

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