A Igreja sempre se preocupou em responder a esta nobilíssima vocação de ser portadora da Boa-Nova e sacramento universal de salvação (cf. LG 48).
Dom Oriolo – Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG
A Igreja tem a missão de evangelizar. Desde o seu início, ela reconhece a necessidade de anunciar a Boa-Nova, conforme a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15).
Jesus Cristo é a própria Boa-Nova, o Evangelho vivo. Ele e a Igreja sempre se dedicaram a cuidar das pessoas para que possam viver plenamente. Os documentos Redemptoris Missio (cf. n. 21) e Evangelii Gaudium (cf. n.19) afirmam que a evangelização ocorre em obediência ao mandato missionário e que o Espírito Santo confere força aos apóstolos para levar a Boa-Nova aos confins da terra.
A Igreja sempre se preocupou em responder a esta nobilíssima vocação de ser portadora da Boa-Nova e sacramento universal de salvação (cf. LG 48).
Estamos vivendo em um novo modus vivendi, no mundo off-line e no on-line. O mundo off-line é a vida presencial e desconectada, tudo o que fazemos fisicamente sem internet. Já o mundo on-line é a vida conectada, realizada pela internet, uma realidade digital. Estamos em constante balanço entre a realidade física e a digital. Diante disso, já se fala que o nosso desafio atual é superar essa dicotomia off-line e on-line, a vida digital e a face a face. Muitos já não falam em on-line e off-line, mas sim em vida on-life (união da vida humana e social em suas diversas expressões, sejam elas em espaços digitais ou físicos).
A expressão on-life foi criada pelo filósofo da informação, o italiano Luciano Floridi. Ele afirma que, ao usarmos demasiadamente as diversas tecnologias digitais, estamos nos perdendo entre as fronteiras dos mundos on-line e off-line. É difícil nos desconectarmos do off-line porque estamos a todo momento no on-line. Mesmo desligando o celular, o tablet e os computadores eles nos controlam constantemente com movimentos, vozes, toques e orientações. Vivemos uma vida hiperconectada em que não sabemos mais se estamos on-line ou off-line, mas sim on-life.
Nesse contexto, a missão da Igreja é clara: anunciar esse Evangelho em toda a realidade on-life que se apresenta, fazendo-o presente nos espaços digitais e físicos da vida contemporânea, com as ferramentas digitais. A profundidade do encontro com Jesus define a altura da nossa conduta.
Assim sendo, frente à vida on-life e em confronto com a missão de viver e anunciar o Evangelho pela Igreja, necessitamos de uma evangelização escalável. O termo “escalável” provém de “escalabilidade”, cuja raiz latina scala, significa escada. Este conceito está intimamente ligado ao marketing de negócios escaláveis. Embora tenha sido popularizado na década de 40, sobretudo no universo da tecnologia e da computação, para descrever a capacidade de um sistema crescer, expandir-se ou lidar com o aumento contínuo da demanda, seu significado evoca um avanço progressivo. Portanto, somos chamados a refletir: a nossa estratégia de evangelização é realmente “escalável”? Estamos construindo processos e métodos que, como uma escada, permitem que o Reino de Deus cresça e alcance multidões de maneira cada vez maior e mais eficiente?
Na Sagrada Escritura, encontramos expressões que exigem de nós a aplicação das leis da linguística para fazer emergir o autêntico sentido das palavras. Assim, também temos a liberdade de utilizar uma infinidade de ferramentas (palavras, imagens, ideias, sentimentos e até mesmo ferramentas de gestão de pessoas) para auxiliar no conhecimento da fé. Podemos, dessa forma, criar processos eficazes para a vivência do Evangelho e desenvolver ações estratégicas para que a mensagem do Evangelho alcance a inteligência e os corações das pessoas.
A ideia de escalabilidade abre horizontes para fazermos a experiência mística que nos pode levar a diversos patamares de acesso à experiência cristã de Deus. “Jacó, depois de ter lutado com Deus, sonha com uma escada por onde os anjos de Deus sobem e descem entre o céu e a terra” (Gn 28,12-13). Os apóstolos foram enviados a diferentes regiões em uma sequência progressiva: Jerusalém, Judeia, Samaria e os confins da terra (cf. At 1,8). São Paulo lembra que, enquanto crianças, nos alimentamos com alimentos apropriados; quando adultos, temos que nos alimentar com algo mais substancioso (cf. 1 Cor 3,2). A Carta aos Hebreus compara o crescimento espiritual à alimentação, usando a metáfora de leite e alimento sólido. O leite é para crianças e o alimento sólido é para os adultos (Hb 5,13-14).
A Igreja, ao integrar a tecnologia, não abandona o foco pastoral. Ao utilizar as tecnologias digitais como instrumento da escada evangelizadora, a Igreja cumpre fielmente o chamado de Cristo, ampliando o alcance da Boa-Nova, fazendo com que Cristo seja anunciado em todas as realidades humanas, inclusive na on-life. A verdadeira evangelização escalável é aquela que, utilizando a tecnologia como plataforma de lançamento, se amplia em alcance e eficiência sem perder de vista o cuidado essencial da pessoa imagem e semelhança de Deus.
Concluindo, a vida onlife não é um obstáculo, mas o novo campo de missão da Igreja, onde a Pastoral do Encontro se renova. Fazendo de Jesus Cristo, a Boa-Nova em pessoa, o centro da vida onlife na contemporaneidade, a evangelização torna-se escalável. Diante dessa realidade hiperconectada, a missão exige um planejamento que, usando a tecnologia como escada, transforme a conexão digital em um caminho para o encontro pessoal e transformador com Jesus. Assim, a Igreja alcança uma expansão inteligente e eficiente, sem jamais perder o foco no cuidado individual, atendendo às necessidades espirituais das pessoas tanto no mundo virtual como no físico. No físico, há contato físico onde se capta os anseios das pessoas através dos diversos sentidos e no mundo virtual requer um outro tipo de sensibilidade.

