Dom Vital: A encarnação do Verbo

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Nós desejamos um Feliz Natal com o Senhor Jesus que se fez pessoa humana para nos elevar até à divindade.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Nós estamos festejando o grande acontecimento divino e humano, que é o santo Natal, mistério tão próximo e infinito, o nascimento de Jesus em nossa realidade humana e pecadora, na qual o Senhor se fez carne e veio habitar no meio de nós (cf. Jo 1,14). Ele foi anunciado pelos patriarcas, os profetas no sentido do Messias que devia vir a o mundo, o Salvador da humanidade. Veremos a seguir este mistério a partir dos santos padres, os primeiros escritores do cristianismo.

O sentido da encarnação do Verbo

Santo Ireneu de Lião, bispo do século III afirmou diante dos gnósticos, negadores da encarnação, que o Senhor assumiu a carne humana, isto é a realidade humana em tudo menos o pecado cfr. Hb 2,17). O Verbo de Deus recebeu de Maria a geração da recapitulação de Adão. Se os primeiros seres humanos foram tirados da terra e modelados pelo Verbo de Deus, mas que caíram no pecado e na morte, era necessário que este mesmo Verbo, efetuando em si a recapitulação de Adão e de todos os seus descendentes, tivesse geração semelhante à dele. Desta forma não houve uma segunda obra modelada porque foi salva a primeira pelo Verbo encarnado que modelou a primeira obra humana[1].

Ele se fez carne (cf. Jo 1,14)

Diante do argumento que Jesus não tomou nada de Maria, nada da carne humana, Santo Ireneu levantou a pergunta no sentido de que ‘Como isso seria possível não viver a realidade humana, o Verbo que veio do Pai’? O Bispo de Lião colocou a contrariedade do argumento gnóstico que se Ele não recebeu de nenhum ser humano a substância da sua carne, Ele não se fez pessoa humana, nem Filho do Homem. Portanto, se Ele não se fez o que nós éramos, não tinha importância nem o valor do sofrimento e do padecimento pela qual Ele teve que passar na sua paixão, morte de cruz para chegar à grandeza da ressurreição. Mas nós acreditamos que Ele se fez carne (cf. Jo 1,14) porque Jesus tomou carne de Maria, assumindo toda a realidade humana, com as suas alegrias, dificuldades, problemas, esperanças, espalhando o amor de Deus entre o povo e os seus discípulos. Ele recapitulou em si toda a vida humana, salvando a obra de suas mãos[2].

A encarnação e a eucaristia

Tertuliano, Padre da Igreja, Norte Africano, dos séculos II e III deu importância à encarnação do Verbo de Deus diante também dos gnósticos que negavam a presença do Senhor na eucaristia, na cruz do sofrimento e da dor de Jesus. O fato era que Jesus desejou ardentemente comer a Páscoa, porque de fato era a sua Páscoa e seria indigno se Deus tivesse desejado alguma coisa que não fosse a sua carne. Por isso, ao tomar o pão disse Jesus que era o seu corpo, figura do seu próprio corpo (Lc 22,19). Como era o seu corpo, não foi uma coisa vazia a sua morte de cruz, de modo que no pão tomado por Ele, estava o seu corpo dado para nós e para a nossa salvação[3].

A encarnação, a cruz e a eucaristia

Tertuliano afirmou também que Jesus Cristo iluminou todas as figuras antigas e realizou todas as promessas feitas a seu respeito. Ele chamou o pão o seu corpo e explicou o significado do pão, verdadeiro alimento para a vida eterna. Da mesma forma falou do cálice (cfr. Lc 22,20) e estabeleceu o pacto selado com o seu sangue derramado ao longo de sua paixão e morte confirmando a sua substância corpórea. Desta forma o sangue não podia ser de nenhum corpo que não fosse de carne. Jesus derramou o seu sangue em vista da redenção humana[4].

Jesus Cristo encheu o mundo

Santo Agostinho, Bispo de Hipona, Norte da África, séculos IV E V afirmou que Jesus Cristo encheu o mundo, pois Ele era o seu Criador junto com o Pai e o Espírito Santo. Desta forma, ao se encarnar Ele não encontrou lugar na hospedaria, mas Ele foi colocado numa manjedoura (cf. Lc 2,7) e Ele se fez nosso alimento. Dois animais se acostaram no presépio: o boi que conheceu o seu patrão e o burro a manjedoura, o coxo de seu Senhor (cfr. Is 1,3). O bispo convidava os seus fiéis a observar a realidade do Verbo de Deus feito carne, na maior humildade, para não se envergonhar de ser um jumento do Senhor, porque foi esse animal que conduziu Jesus para a entrada de Jerusalém. É bom fazer lembrança do jumento conduzido ao Senhor (cf. Lc 19,34-35) ninguém se envergonhe disso, porque somos nós que devemos carregar o Senhor, achar-se com Ele. Nós somos convidados a viver a graça da encarnação do Verbo de Deus, feito carne para a nossa salvação[5].

Nós desejamos um Feliz Natal com o Senhor Jesus que se fez pessoa humana para nos elevar até à divindade. Somos irmãos e irmãs uns aos outros para viver a felicidade do Natal, do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo, do encontro com o Senhor Jesus na eucaristia, na sua palavra de salvação e em todas as pessoas de nossas famílias, comunidades, sobretudo aquelas mias necessitadas. O Natal possibilite vida nova para todos nós aqui e agora e um dia na eternidade.

[1] Cfr. Ireneu de Lião, III,21,10. São Paulo; Paulus, 1995, pg. 349.

[2] Cfr. Idem, III,22,2. In: Idem, pgs. 350-351.

[3][3] Cfr. Tertulliano. Contro Marcione, IV, cap. 40,1-5. In; Gerardo di Nola. Monumenta Eucharistica. La Testimonianza dei Padri della Chiesa. Roma: Edizioni Dehoniane. 1994, pg. 128.

[4] Cfr. Idem, pgs 128-129.

[5] Cfr. Agostino d`Ippona. Sermone 189,4. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa. Milano: Paoline, pg 396.

Fonte

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