Entrevista com Domenico Rossignoli, pesquisador da Universidade Católica do Sagrado Coração de Milão, na Faculdade de Ciências Políticas sobre a iniciativa Economy of Francesco 2020 (Economia de Francisco) . “Devemos ter a coragem de redescobrir a essência mais relevante da economia”
Amedeo Lomonaco – Vatican News
Na próxima quinta-feira, 19 de novembro, abre-se os três dias da Economy of Francesco (Economia de Francisco), a iniciativa lançada pelo Pontífice aos jovens economistas e empresários para promover um processo de mudança global. Domenico Rossignoli, pesquisador da Universidade Católica responde uma entrevista ao Vatican News para falar sobre a iniciativa confirmando que “a base de uma economia saudável é a fraternidade”.
Domenico Rossignoli: O apelo do Papa foi respondido por muitos jovens de todo o mundo com entusiasmo. Não apenas economistas, mas também empresários e simples jovens que, na sua vida diária, querem fazer algo para contribuir ativamente para mudar a economia.
O que significa mudar a economia?
Domenico Rossignoli: Tentamos pensar sobre isso de muitas maneiras diferentes. Dentro deste grande ambiente, que é “Economia de Francisco”, nos dividimos em 12 aldeias temáticas para trabalhar sobre estes temas. Coordenei, inicialmente junto com a Irmã Alessandra Smerilli, a aldeia “Trabalho e Cuidado”. Nos perguntamos o que significa para um mundo mais inclusivo e fraterno poder combinar o trabalho, uma dimensão essencial, com o cuidado pelo afeto, pela própria dimensão pessoal, mas também pelo meio ambiente e pela criação. O homem tem muitas dimensões e todas devem conviver quando interage no sistema econômico com outras pessoas e com a criação.
Concretamente como isso é possível?
Domenico Rossignoli: Não há uma resposta definitiva para esta pergunta muito difícil. O que temos tentado fazer é pensar em possíveis propostas e soluções. Por exemplo, tentar refazer áreas onde a Igreja, com sua sabedoria milenar, poderia nos dar alguma indicação a partir do Magistério do Papa Francisco, mas também da recuperação, por exemplo, de toda a tradição franciscana. Junto com um jovem frade, frei André, elaboramos uma reflexão a partir dos textos franciscanos para tentar compreender os elementos essenciais deste pensamento com respeito ao trabalho. E intitulamos este estudo “a graça do trabalho”: em São Francisco e nos pensadores posteriores, vemos como trabalhar é um dom, uma graça. E por esta razão nosso compromisso para o porvir, como cristãos e jovens, deve ser o de tornar o trabalho realmente possível para todos e não apenas em termos de acesso, mas também de dignidade.
Como é possível deixar de fazer o “trabalho irmão”, como diria São Francisco, nesta época de pandemia?
Domenico Rossignoli: Começando por São Francisco – esta não é uma resposta definitiva – penso que o tema fundamental é redescobrir nosso lugar neste mundo. E olhando para o exemplo de São Francisco, que se relacionou com os outros e com a criação em termos de fraternidade, a luz e o farol que nos guia devem ser para nos reconhecermos como filhos do mesmo Pai. Deus que nos amou, nos criou e nos deu este mundo. E este deve ser o objetivo que nos guia. Isso significa que, diante das dificuldades, devemos multiplicar nossos esforços de inclusão para que aqueles que têm menos possam ser ajudados a alcançar níveis mínimos de subsistência. E isto, por exemplo, com formas de inclusão universal, com a possibilidade de acesso ao trabalho em formas que sejam flexíveis e não precárias. Também estamos recebendo ajuda nesta questão de pessoas ligadas ao mundo profissional e que vivem o trabalho no dia-a-dia. Entre os convidados, estará Francesco Baroni, Country Manager do Gi Group: ele falará sobre este mesmo tema, sobre como combinar flexibilidade e sustentabilidade para que esta flexibilidade não se torne precária.
O desafio, como fez São Francisco, é tirar toda a mundanização e remover todas falsidades até da economia e voltar autenticamente ao essencial…
Domenico Rossignoli: Penso que este é o cerne da questão, tendo precisamente a capacidade e a humildade intelectual de reconhecer qual é o fundamento mais profundo da economia: o de tentar entender como homens e mulheres que habitam este mundo, possam viver juntos na mesma lar e quais são as regras que tornam a vida nesta lar bela e utilizável a todos. Este é o coração de todo raciocínio econômico. Devemos ter a coragem de redescobrir a essência mais relevante da economia, a de dizer a nós mesmos como viver juntos, todos nós, da melhor maneira possível. E fazendo desta economia algo que nos impele a construir um mundo onde os recursos possam ser utilizados para o bem de todos e não apenas de alguns.