Em entrevista à emissora de TV canal Orbe 21, da Arquidiocese de Buenos Aires, o Papa Francisco, com seu jeito simples, expressou que, “O Jubileu é um tempo de Renovação Total, de Perdão. Às vezes tenho medo de que o Jubileu se assemelhe a um turismo religioso. O Jubileu, para vivê-lo bem e, de alguma forma, consertar um pouco as histórias pessoais, neste aspecto, é um momento de perdão, um momento de felicidade, um momento de recomposição de tantas coisas, pessoais e sociais.
Diác. Adelino Barcellos Filho – Diocese de Campos/ RJ.
Esta sincera inquietude do Sumo Pontífice nos provoca ou nos induz a não “ficarmos no raso” e aprofundarmos alguns aspectos relevantes, sublinhados em negrito em sua fala. A abertura da Porta do “Céu” (Santa) aqui na terra, no dia em que celebramos solenemente o Natal (Nascimento do Salvador) nos revela que, todo católico que se preza, com suas respectivas famílias, não celebra o “aniversário” de Jesus e sim, a Sua realidade invisível e atuante na Trindade Santa, desde o início da Criação, até o agora “a Palavra se fez Carne e habitou entre nós” (João 1).
Tremendo Mistério Revelado, a Encarnação de um Deus que “aniquila a Sua Divindade” e assume a nossa humanidade, ferida mortalmente pelo pecado, abraça a Cruz de Pleno Amor, desde o presépio “entre palhas e trapos”, Resgate, Recondução e Renovação de toda a lar Comum. A proposta Jubilar de Esperança aponta para a vivência de um tempo da Graça do Senhor (tempo de Esperança, Fé e Solidariedade), através do experienciar a Misericórdia e o Perdão, enquanto há tempo.
Representa um período de indulgência (significa remissão da pena temporal pelos pecados perdoados na Confissão; bem como, Clemência, Misericórdia, Compaixão, Compreensão, Bondade, Benevolência, Benignidade, Doçura, Piedade); ou seja, “período de perdão dos pecados dos fieis”. O Perdão de Jesus Cristo recebido, após arrependimento sincero, contrição perfeita, no Sacramento da Reconciliação (Confissão = Bênção específica da Unção Sacerdotal) recebido, há o Perdão de todos os pecados: “Deus perdoa tudo”; contudo, as consequências dos pecados, necessitam ser reparadas.
A tradição de abrir a Porta Santa tem 600 anos e foi iniciada pelo Papa Martinho V, em 1423. Hoje, direcionada aos católicos que estão em um movimento interior como peregrinos de Esperança: desejosos do fortalecimento no Amor, na vivência Familiar e na Comunhão com Deus, rumo à Pátria Celestial. O nosso cérebro é movido por imagens e caso cultivemos o hábito de buscar “boas notícias”, “boas novas”, Ευαγγέλιο (evangelho), seremos transformados por Deus, em Sua Bondade, em Sua Verdade e Vida. A maldade é barulhenta, violenta, sórdida e fingida, contudo, a Bondade é Silenciosa e Constante (como no presépio de Cristo).
Mesmo assim, estamos inseridos em uma realidade social extremamente negativa, pessimista, onde as más notícias, guerras, tragédias, vergonha pública, causam muito mais “ibope” do que as oportunidades salvíficas e de verdadeira felicidade. Ao ponto de gerar “como resposta do organismo do ser humano atual, uma estimulação aversiva, física ou mental, cuja função é preparar o sujeito para uma possível luta ou fuga”. A Sabedoria Infinita denomina esta realidade como medo: “não Tenhais medo!”; e, os neurologistas atribuem ao medo como “uma fase de indeterminação, que é a angústia”.
Anterior ao medo está a fobia que “paralisa, impede que se relacione com o objeto de seu medo”. É genuinamente compreensível o medo que aflige o Coração do Papa Francisco, em relação ao Ano da Graça do Senhor (Jubileu de Esperança) de se tornar uma realidade de “turismo religioso”. O turismo religioso é uma capacidade de agir, de se movimentar para realizar um tipo de turismo motivado “pela fé e pela devoção, e que envolve a participação em eventos religiosos ou a visita a locais sagrados, onde o turista busca uma ‘conexão’ com o religioso, com o sagrado”, como agregação cultural, de lazer, entretenimento, curiosidades, atividades externas.
Enquanto que, os processos, que representam o esforço de colaboração pessoal e intransferível, visam atingir o objetivo do Jubileu de Esperança que é a interioridade da indulgência jubilar.
A CNBB publicou o texto da Penitenciária Apostólica que estabelece as prescrições para que os fieis possam usufruir das “disposições necessárias para poder obter e tornar efetiva a prática da Indulgência Jubilar” (Spes non confundit (a Esperança não engana), 23): “visita piedosa à ‘Porta Santa’, individualmente ou em grupo; a dedicação de um período adequado à adoração eucarística e à meditação, concluindo com o Pai-Nosso, a Profissão de Fé (Credo) em qualquer forma legítima e invocações a Maria, Mãe de Deus.”
“Além do mais, no primeiro ponto são citadas as participações na Santa Missa, na Celebração da Palavra de Deus, na Liturgia das Horas, na Via-Sacra, no Rosário Mariano, no hino Akathistos (cantado de pé) ou numa Celebração Penitencial.”
É interessante ressaltar que, em um dos locais de peregrinação católica onde Santa Joana D’Arc foi morta se encontra um escrito testemunhal que pode nos ajudar “o túmulo dos herois mártires da Fé está no coração dos vivos”; ou seja, a Vida é um Ciclo cheio de Amor, que espera a nossa correspondência, mesmo que alguns não acreditem mais, estejam desiludidos, do total esforço heroico de se deixar transformar pelo Amor e pela Verdade; tendo em vista que, ‘a minha condição de pecador, não me dá o direito de pecar’: “vai e não peques mais, para que não aconteça coisa pior” (João 5).
Nada é pior do que vir a perder a Salvação, conquistada pelo alto preço do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, na Cruz: “Tenho Sede”.
E Vós, Santa Maria Mãe de Deus, Virgem do Silêncio, ó Mãe querida de Misericórdia e Esperança, aquece os nossos corações com o Amor fervoroso do Vosso Filho e das Almas redimidas pelo Seu Sangue, para que estejamos prontos a participar na Sua Obra de Salvação através do Sacrifício dos Vossos Sagrados Corações que aguardam os nossos, na Eternidade Feliz. Assim seja!
Feliz Ano Novo da Graça do Senhor!
Formação do autor: http://lattes.cnpq.br/0897881564299806