Escola de afetos – Vatican News

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No artigo assinado por Pe. Maicon Malacarne, a reflexão inspirada em Leão XIV sobre a “escola dos afetos” que precisa ser sempre uma “escola do amor” que não deixa de ser um amor eterno: “o amor é a máquina para diminuir o passo do mundo hiper acelerado. O amor é a máquina para organizar o abecedário dos afetos. O amor – continua o Papa Leão, citando Santo Agostinho – é o caminho para ‘retornar ao coração’”.

Pe. Maicon A. Malacarne*

Giacomo Leopardi, um dos grandes poetas italianos, escreveu no seu ciclo de Aspásia “que se a vida é desprovida de afetos e erros gentis, é uma noite sem estrelas no meio do inverno”. Nós somos os nossos afetos. Privados de afetos, a escuridão nos atravessa. No entanto, não basta identificar, é preciso organizar, discernir e orientar os afetos, para que não sejam atrofiados ou confundidos com as tentações do nosso tempo. Trata-se de empreender um caminho de leveza e de humanização da afetividade. 

O Papa Leão XIV se encontrou, nesta terça-feira, 24, com os seminaristas de diversas partes do mundo para celebrar o Jubileu dos Seminaristas no Vaticano. Durante a meditação, citando algumas vezes o Papa Francisco, de maneira especial a Encíclica Dilexit nos – sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus – o Pontífice motivou os Seminários a se transformarem em “escolas de afetos”.

Considero esse um convite fundamental. Por muito tempo, negligenciamos os afetos, além das emoções e dos sentimentos como questões menos importantes, na contramão da racionalidade e do pensamento. A verdade é que – com custo alto – estamos descobrindo que não se trata de antítese, mas de reciprocidade. Qualquer formação, seja religiosa ou laica, precisa ser, necessariamente, um espaço de acolhida dos afetos, na qual as emoções e os sentimentos sejam integrados no discernimento dos projetos de vida e no amadurecimento das consciências.

A “escola de afetos”, lembra o Papa Leão, diz respeito a aprendizagem do amor. É preciso aprender a amar e isso só é possível através de encontros, de vínculos, de reciprocidade, de “tempo perdido” em estar junto, convivendo em família, com os amigos, com a comunidade eclesial e, até mesmo, com a “ameaça” dos desconhecidos. A santa hospitalidade que aprendemos dentro da lar de Abraão e de Sara (Gn 18,1-15) e que atravessa toda a Sagrada Escritura, continua sendo a melhor e mais urgente morada para cultivar a afetividade.

Se é verdade que o amor é feito de encontros que rompem o risco narcisista da imagem no espelho (Jacques Lacan) e que todos esses encontros atravessados pelo amor buscam a sua repetição, a sua continuidade, a “escola dos afetos” precisa ser sempre uma “escola do amor” que não deixa de ser um amor eterno. O amor é a máquina para diminuir o passo do mundo hiper acelerado. O amor é a máquina para organizar o abecedário dos afetos. O amor – continua o Papa Leão, citando Santo Agostinho – é o caminho para “retornar ao coração”.

* professor de Teologia ética e pároco da Paróquia São Cristóvão – diocese de Erexim/RS

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