A palavra eutanásia tem sido utilizada de maneira confusa e ambígua, pois tem assumido diferentes significados conforme o tempo e o autor que a utiliza. Várias novas palavras, como distanásia, ortotanásia, mistanásia, têm sido criadas para evitar tal situação. Contudo, tal proliferação vocabular, em vez de auxiliar, tem gerado alguns problemas conceituais.
A distanásia é a morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento. Alguns Autores assumem a distanásia como sendo o antônimo de eutanásia. Novamente, surge a possibilidade de confusão e ambiguidade. A qual eutanásia estão se referindo? Se for tomado apenas o significado literal das palavras quanto à sua origem grega, certamente são antônimas. Se o significado de distanásia for entendido como prolongar o sofrimento, ele se opõe ao de eutanásia, que é utilizado para abreviar tal situação. Porém, se for assumido o seu conteúdo ética, ambas convergem. Tanto a eutanásia quanto a distanásia são tidas como sendo eticamente inadequadas. Ora, o dever de prolongar a vida a qualquer custo não tem raízes clássicas. Aliviar o sofrimento do paciente, diminuir a violência de suas doenças e recusar tratar aqueles que estão completamente tomados por suas doenças, reconhecendo que em tais casos a medicina não pode fazer nada.
A ortotanásia é a atuação correta diante da morte. É a abordagem adequada diante de um paciente que está morrendo. A ortotanásia pode, dessa forma, ser confundida com o significado inicialmente atribuído à palavra eutanásia. A ortotanásia poderia ser associada, caso fosse um termo amplamente adotado, aos cuidados paliativos adequados prestados aos pacientes nos momentos finais de suas vidas. A ortotanásia permite, ao doente que se encontra em fase final de vida ou de sua doença, enfrentar com naturalidade este fato real do nosso ciclo natural. Portanto, “a eutanásia é o morrer corretamente, humanamente, é como recuperar a dignidade do ser humano na última fase da sua vida, especialmente quando ela for marcada por dor e sofrimento”.
A mistanásia é também chamada de eutanásia social. Leonard Martin sugeriu o termo mistanásia para denominar a morte miserável, fora e antes da hora. De acordo com esse autor, dentro da grande categoria de mistanásia quero focalizar três situações: primeiro, a grande massa de doentes e deficientes que, por motivos políticos, sociais e econômicos, não chegam a ser pacientes, pois não conseguem ingressar efetivamente no sistema de atendimento médico; segundo, os doentes que conseguem ser pacientes para, em seguida, se tornar vítimas de erro médico; e terceiro, os pacientes que acabam sendo vítimas de má-prática por motivos econômicos, científicos ou sociopolíticos. A mistanásia é uma categoria que nos permite levar a sério o fenômeno da maldade humana.
É difícil não concordar com Junges: “A morte infeliz (mistanásia) do mundo dos pobres questiona o morrer docemente amparado (eutanásia) de alguns socialmente privilegiados”.