Iluminada pelo Espírito do Sínodo, a Diocese de Palmas-Francisco Beltrão caminha firmemente para que a sua práxis evangelizadora seja expressão viva de uma Igreja em saída, sinodal e missionária, comprometida com o anúncio do Evangelho.
Professora Dra. Alzirinha Souza
A construção do Plano de Ação Evangelizadora (PAE) da Diocese de Palmas-Francisco Beltrão foi uma experiência profundamente eclesial e sinodal, marcada pelo espírito de comunhão, participação e missão. Este processo se desenvolveu ao longo de três anos intensos de escuta, encontro e discernimento comunitário, envolvendo toda a Igreja diocesana — cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, ministros ordenados, movimentos, pastorais e serviços de evangelização.
Iluminada pelo Espírito do Sínodo, a Diocese caminha firmemente para que a sua práxis evangelizadora seja expressão viva de uma Igreja em saída, sinodal e missionária, comprometida com o anúncio do Evangelho e com a metamorfose da realidade à luz do Reino de Deus. Essa experiência confirma que o caminho sinodal é o próprio caminho da Igreja: uma Igreja que aprende a ouvir, a dialogar e a discernir em conjunto. Neste contexto meu trabalho assumiu o papel de favorecer processos de comunhão e de organização pastoral, mais do que oferecer respostas prontas. Foi um serviço ao discernimento coletivo, um acompanhamento no amadurecimento das decisões e na construção de consensos orientados pela fé e pelo amor ao Evangelho, que associado ao fazer teológico, resultou na escritura do texto do PAE, que foi aprovado na Assembleia Diocesana de Pastoral realizada no último sábado 18 de outubro de 2025 – Festa Litúrgica de São Lucas.
Inspirado pelo processo Sinodal convocado pelo Papa Francisco, o caminho trilhado pela Diocese buscou mais do que elaborar um documento: pretendeu viver um verdadeiro exercício de caminhar juntos, redescobrindo a identidade missionária da Igreja e fortalecendo os laços que unem as diversas expressões do Povo de Deus. Cada etapa foi pensada de modo participativo, desde as primeiras assembleias paroquiais e forâneas até as sínteses diocesanas, sempre valorizando a escuta recíproca e o discernimento comunitário à luz da Palavra de Deus e dos sinais dos tempos.
Como assessora, pude testemunhar e colaborar com um processo vivo, dinâmico e, sobretudo, encarnado na realidade local, coordenado pelo Pe. Vagner Raitz e por D. Edgar Ertl. Os dados analisados demonstraram que as comunidades expressaram com sinceridade suas alegrias e desafios, suas esperanças e inquietações diante das transformações sociais, culturais e religiosas do nosso tempo. O método da escuta e do colóquio revelou a riqueza da fé que habita nas diversas realidades da Diocese e mostrou a necessidade de fortalecer a corresponsabilidade na missão evangelizadora. Uma verdadeira fotografia da realidade local.
A construção do PAE, portanto, não foi apenas técnica ou administrativa; foi um verdadeiro exercício espiritual e pastoral, no qual se buscou compreender o que o Espírito Santo diz à Igreja de Palmas-Francisco Beltrão. O resultado é um Plano que nasce do chão da vida, das comunidades e das experiências pastorais concretas, orientado para uma Igreja que se faz próxima, acolhedora, missionária e profética.
Tal como o Processo Sinodal do Sínodo para a Sinodalidade, a Diocese vive, neste momento, a etapa mais significativa e desafiadora de seu caminho evangelizador: a implementação do Plano de Ação Evangelizadora (PAE), onde as letras deverão sair do papel e adquirir a realidade e o sonho pastoral se transforma em compromisso concreto com a missão. Esta etapa representa o amadurecimento da caminhada sinodal, pois é na ação que se verifica a autenticidade do caminho percorrido.
As ações e prioridades pastorais indicadas no PAE não surgiram de decisões isoladas, mas brotaram das demandas e clamores identificados durante o processo de escuta do Povo de Deus. Foram ouvidos os “Grupo Focais”, focais propostos pelo Sínodo da Sinodalidade — clero e religiosos/as, adolescentes, jovens, idosos, educadores, profissionais da imprensa e pessoas com deficiência —, cujas contribuições expressaram a vitalidade e a diversidade de dons presentes na Diocese. Mergulhando em águas mais profundas e com o desejo de construir um Plano verdadeiramente encarnado na realidade local, a escuta foi ampliada para incluir também os chamados “Grupos de Fronteira” — realidades humanas e sociais que desafiam a pastoral e interpelam a Igreja a ser cada vez mais acolhedora, dialogal e samaritana. Entre essas realidades destacam-se: casais em nova união e novas formas de família, novas tecnologias e cultura digital, migração, ecologia integral, ecumenismo e colóquio inter-religioso, recomeçantes na fé e a articulação entre fé e política à luz da metodologia da práxis reversa, é dizer, a partir da realidade se construirão os caminhos de trabalhos com os Grupos de Fronteira, que representam espaços onde a Igreja é chamada a testemunhar o Evangelho com proximidade, escuta e misericórdia.
Para garantir a continuidade, unidade e corresponsabilidade na execução do PAE, a Diocese está se organizando através da criação das Comissões Diocesanas para os Grupos Focais e de Fronteira. Estas comissões em conjunto com as Pastorais, os Movimentos e todos os Serviços de evangelização existentes na Diocese, terão a missão de animar, acompanhar e formar o conjunto das comunidades, paróquias e organismos diocesanos, promovendo a comunhão entre os diversos serviços e garantindo que cada ação evangelizadora se realize de modo articulado e participativo.
Assim, a dinâmica de implementação do Plano não se reduz a aplicar projetos prontos, mas visa formar e envolver todos os batizados na missão comum da Igreja. Para tanto, será essencial o respeito ao cronograma proposto que toca a organização prévia, formação, para chegar à concretização propriamente dita. É um processo formativo e pastoral, que convida cada discípulo missionário a se reconhecer sujeito ativo da evangelização.
Ao final deste processo, ao qual tive o privilégio de contribuir com a análise Teológica para construção de uma nova práxis diocesana, permanece a convicção de que a evangelização é sempre fruto da escuta e do encontro, e que o Plano de Ação Evangelizadora (PAE) será fecundo na medida em que continuar a ser vivido em chave sinodal — aberto, participativo e movido pela esperança de uma Igreja que caminha unida, a serviço da vida e do Reino de Deus.
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Alzirinha Souza. Leiga, Teóloga. Doutora em Teologia pela Université Catholique de Louvain (Bélgica). Mestre em Teologia pela Universidade San Dámaso (Madrid Espanha). Graduação em Teologia pela PUC/SP. Professora e pesquisadora do Instituto São Paulo de Ensino Superior ITESP. Assessora da Comissão do Laicato CNBB. Coordenadora do Observatório Eclesial Brasil.

