O sacerdote, de 94 anos, serviu na emissora de 1974 a 1988. Ainda hoje são utilizadas duas ferramentas criadas por ele para o trabalho dos editores: as previsões e o guia cabasário. O guia que recebeu o seu nome, é preparado para cada viagem apostólica e contém dados e descrições de lugares e eventos. Atualmente, ele é editado pelos meios de comunicação do Vaticano e distribuído também aos vaticanistas.
Tiziana Campisi – Vatican News
Faleceu no dia 31 de julho, em Loyola, na Espanha, o padre jesuíta Félix Juan Cabasés, 94 anos, que foi responsável pela Redação Central da Rádio Vaticano de 1974 a 1988. A data coincide com o dia da memória litúrgica de Santo Inácio, fundador da Companhia de Jesus. Nascido em 5 de novembro de 1930 em Aoiz, Navarra, na Espanha, entrou na Companhia de Jesus em 18 de setembro de 1945, fez seus votos perpétuos vinte anos depois e foi ordenado sacerdote em 26 de julho de 1961. O seu confrade, padre Federico Lombardi, ex-diretor geral da Rádio Vaticano e atual presidente da “Fundação Vaticana Joseph Ratzinger – Bento XVI”, descreveu-o à mídia do Vaticano como um homem “de grandíssima laboriosidade, muito atencioso e também fiel no relacionamento com as pessoas”.
A ideia do “Serviço de documentação” na Rádio Vaticano
Padre Lombardi recorda que Cabasés tinha muitos interesses em diversas áreas, “grande capacidade de trabalho” e “notáveis dotes de escritor”. Estudou Sagrada Escritura no Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, nos anos Sessenta, e lecionou na Universidade de Deusto, em Bilbao, que é administrada pelos jesuítas. Também escreveu para a revista espanhola “Mensajero”. Nos anos Setenta, foi enviado pelos superiores para Roma, para trabalhar na Rádio Vaticano em tempo integral, continuando a colaborar com várias outras publicações. “Cabasés continua sendo o grande construtor de um sistema de documentação para a informação de atualidade”, explica o padre Lombardi. “Ele estudou de forma muito atenta como as agências trabalhavam e como a informação de atualidade era fundamentada. Na emissora pontifícia, ele organizou uma redação central, que depois se tornou o ‘Serviço de Documentação’. Nela, uma equipe preparava documentos e subsídios que eram disponibilizados a todas as redações linguísticas, que na época eram mais de trinta”.
As previsões
“Ainda restam dois instrumentos desta organização que “permanecem válidos até hoje”, destaca o presidente da Fundação Ratzinger. O primeiro é o “Serviço de previsões” dos principais acontecimentos atuais da cena internacional, da Igreja e da Santa Sé, que é confiado a um editor encarregado de atualizar constantemente um boletim específico. “Este serviço, feito de forma meticulosa e confiável, através da coleta contínua de informações, era a base para a programação da atividade de informação da Rádio Vaticano, inclusive para o porvir”, esclarece Lombardi. Foi uma ferramenta tão inteligente e bem elaborada que até mesmo todos os vaticanistas desejavam recebê-la, pois era absolutamente útil para prever e se preparar com antecedência, para obter informações e documentações, realizar entrevistas e cobrir bem os acontecimentos que eram previsíveis”.
O “cabasario”
O segundo instrumento “acabou até mesmo associado ao seu nome na história da informação vaticana”, pois foi “uma invenção sua”. Trata-se do “cabasario”, um guia elaborado para cada viagem papal, que servia para documentar as visitas pastorais do Papa e acompanhá-las da melhor forma. “Estávamos na época de João Paulo II, com inúmeras viagens longas e complexas, que eram realmente uma parte essencial de seu pontificado e de sua forma de governar a Igreja”, recorda o jesuíta. “E Cabasés inventou um fascículo que descrevia o andamento de cada visita apostólica do Papa, com base no programa oficial e em fontes confiáveis. Aliás, ele podia consultar diretamente o padre Tucci (que de 1982 a 2001 organizou as viagens do Pontífice ao exterior, ndr), que também estava na Rádio Vaticano”.
Cronologicamente, no “cabasario”, “estavam todos os acontecimentos, mas enriquecidos com informações: dizia-se quais eram os locais, os edifícios onde os eventos ocorreriam, quem seriam as principais pessoas que o Papa encontraria, os chefes de Estado e assim por diante, com dados sobre cada um, e depois havia o “programa detalhado das liturgias e outras informações”. “Uma ferramenta muito precisa, continuamente atualizada — destaca Lombardi novamente —, que estava nas mãos de todos, a começar pela comitiva do próprio Papa, e que ajudava a acompanhar com atenção e a preparar muito bem a informação sobre cada evento”.
Grande profissionalismo a serviço da Igreja
Lombardi também destaca “a capacidade de organizar meticulosamente um pouco de tudo, mas também de oferecer aprofundamentos muito detalhados” e, além disso, “a precisão e a confiabilidade de sua documentação, de seu serviço”. “Não acredito ter conhecido nenhuma outra pessoa com tanta capacidade e precisão, digamos, científica”, observa padre Federico. “Ele havia estudado com grande profundidade como se faz um jornalismo sério nos dias de hoje e era um grande profissional a serviço de uma missão”. Depois de terminar o trabalho na Rádio Vaticano, Cabasés lecionou na faculdade de Ciências Sociais da Universidade Gregoriana. Em seguida, retornou à Espanha e foi designado para Loyola, “onde fica a lar original de Santo Inácio com todas as lembranças de sua família e de sua conversão”. Ali, ele se dedicou a documentar e a explicar em detalhes tudo o que se refere à vida de Santo Inácio, e produziu um audioguia em vários idiomas.
As exéquias do padre Cabasés serão realizadas neste sábado, 2 de agosto, na Basílica de Loyola.