O matrimônio cristão tem uma relação direta com a Aliança de Cristo. Neste sentido, o consentimento não é um ato entre dois, mas a três, como um “sim” dito pelo casal dentro de um “sim” a Cristo e à Igreja. O consentimento dos esposos não pode ser separado da adesão a Cristo. O que Deus uniu transformando em “uma só carne” o homem não pode submeter aos seus caprichos nem reivindicar nenhum arbítrio.
O matrimônio não é um consenso, fruto de mutáveis acordos humanos, mas uma instituição que funda suas raízes no terreno sagrado: a mesma vontade do Criador. Não é um bonito presente dos parlamentos, como resultado de estratégias políticas dos legisladores. O domínio completo pertence a Deus e é Ele quem vem nesta direção e oferece o dom. “Não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19, 6) somente é compreensível se se partir do pressuposto que Deus é quem une todos os casais de esposos.
O dom expresso no consentimento “pessoal e irrevogável”, que estabelece a Aliança do matrimônio, põe o selo de qualidade na doação definitiva e total (CIC 2364). A doação para formar “uma só carne” é uma oferta pessoal, que se articula em palavras-promessas e se funda no Senhor; assim, os noivos não se oferecem coisas, mas a si mesmos. Porque é uma doação pessoal, não entra em jogo, no seu projeto original, a dialética do possuir, do domínio. Por isso não é destruição da pessoa, mas a realização da pessoa na dialética do amor, que não vê no outro uma coisa, um instrumento que se possui, se usa, mas o mistério de uma pessoa em cujo rosto se delineiam os traços da imagem de Deus.
Só uma adequada concepção da “verdade do homem”, da antropologia que defende a dignidade do homem e da mulher, permite superar plenamente a tentação de tratar o outro como coisa e de interpretar o amor como uma empresa de sedução. Não é um amor que degrada, elimina, mas que exalta e realiza. Só assim decifra-se e é interpretada esta categoria do dom, que liberta do egoísmo, de um amor vazio de conteúdo, que é insuficiente e instrumentaliza, e que liga a união apenas a um divertimento sem responsabilidade e sem continuidade, como exercício de uma liberdade que se degrada, alheios à verdade.
Impõe-se, com toda força, a categórica declaração conciliar: “O homem, que é na terra, a única criatura que Deus quis por si mesma, não pode achar-se plenamente senão através do dom sincero de si mesmo” (GS 24). Tem, portanto, a dignidade final, não de instrumento ou de coisa, e na sua qualidade de pessoa é capaz de dar-se, doar-se, e não apenas de dar.