Os esposos, na entrega recíproca, na dialética de uma doação total, “formam uma só carne”, uma unidade de pessoas, a partir do próprio ser, com a união de corpos e espíritos. Os esposos se dão com a energia espiritual e de seus próprios corpos na realidade de um amor no qual o sexo está a serviço de uma linguagem que exprime esta entrega. O sexo, como recorda a Exortação Apostólica Familiaris Consortio, é instrumento e sinal de recíproca doação: “a sexualidade, através da qual o homem e mulher dão-se um ao outro, com os atos próprios, exclusivos dos esposos, não é em absoluto algo puramente biológico, mas diz respeito ao núcleo íntimo da pessoa humana enquanto tal. Ela realiza-se de maneira verdadeiramente humana, somente se é parte integral do amor com o qual o homem e a mulher se empenham totalmente um para com o outro” (FC 11).
É muito difícil abordar toda a riqueza que contêm a expressão “uma só carne”, segundo a linguagem bíblica. Na Carta às Famílias, o Papa João Paulo II dá um significado mais profundo à luz dos valores da “pessoa” e do “dom”, como o fará também em relação ao ato conjugal, que está incluído nesta concepção da Sagrada Escritura. Assim escreve o Papa na Gratissimam sane (12): “O Concílio, particularmente atento ao problema do homem e da sua vocação, afirma que a união conjugal – na expressão bíblica, “uma só carne” – não pode ser compreendida e explicada plenamente senão recorrendo aos valores da “pessoa” e do “dom”. Cada homem e cada mulher se realizam plenamente através da entrega sincera de si mesmo; e, para os esposos, o momento da união conjugal constitui uma experiência particularíssima de elo. É neste momento que o homem e a mulher, com a sua masculinidade e feminilidade, tornam-se dom recíproco. Toda vida no matrimônio é um dom, mas isto torna singularmente evidente quando os cônjuges, oferecendo-se reciprocamente no amor, realizam aquele encontro que os fazem “uma só carne” (Gn 2, 24). Eles vivem, então, um momento de especial responsabilidade, pelo motivo da potencialidade pró-criativa vinculada ao ato conjugal. Naquele momento, os esposos podem transformar-se em pai e mãe, iniciando o processo de uma nova existência humana que, depois, desenvolve-se no ventre da mulher”.
Nesta perspectiva, e comentando o “mistério da feminilidade”, na sua Catequese sobre o amor humano, João Paulo II observa (em relação a Gn 4, 1): “O mistério da feminilidade manifesta-se e revela-se através da maternidade, como diz o texto: ‘a qual concebeu e deu à luz’. A mulher está na frente do homem como mãe, sujeito da nova vida humana que nessa é concebida e desenvolve-se, e dela nasce ao mundo. Assim também se revela em profundidade o mistério da masculinidade do homem, o significado gerador e paterno do seu corpo”. E na nota o Papa sublinha: “A paternidade é um dos aspectos da humanidade que mais sobressai na Sagrada Escritura”. Tornaremos a este tema quando examinarmos o dom do filho.