Família: Dom e Compromisso (5ª Parte)

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É preciso recuperar o sentido da doação e libertá-la de uma cultura que ameaça a dignidade do homem e da mulher e que destrói a relação pessoal dos esposos, como se o processo da entrega não correspondesse a reservas profundas da personalidade e como se uma ciência, digna de tal nome, não pudesse ajudar a verdade do homem.

Não é este o momento de se tratar sobre a verdade e o significado da sexualidade humana. Esta perspectiva é também reconhecida fundamentalmente pelas conquistas da razão, pelo desenvolvimento de uma ciência que se aproxima realmente ao ser do homem. Uma projeção que supera o egoísmo e considera o outro, é altruísta, não é estranha ao pensamento de Freud. Hoje, pode-se denunciar tal banalização do sexo que se detém em estados e etapas prévias nas quais o egoísmo fecha e isola com a modalidade de uma imaturidade que destrói a linguagem do amor, a verdade, e procura sua vítima no próprio homem e mulher.

Às vezes os noivos aproximam-se do matrimônio com uma personalidade severamente perturbada por uma cultura falsa que é como uma bomba para o próprio matrimônio. O fato é que a linguagem sexual, como comportamento harmônico e articulado, que está no início da verdade, não deve reduzir-se apenas ao aspecto biológico. Permitam-me recordar aqui algumas expressões que ilustram a verdade que o Magistério quer transmitir. A linguagem dos gestos, dos contatos, passa da periferia do nosso universo ao seu centro e torna-se mais indispensável que nós mesmos; e aparece o prodígio maravilhoso, no qual vejo mais uma assunção da carne pelo espírito do que um simples jogo da carne, numa espécie de mistério da dignidade do outro que consiste em oferecer-me nesse ponto de apoio do outro mundo.

Existe então uma intuição, não exclusiva do universo da fé, que restitui ao sexo a sua grandeza e o resgata do vazio de um uso instrumental que na cultura do consumismo se parece muito ao desprezável: usa-se e joga-se fora! É a globalização da pessoa que está em jogo, na qual seus atos não são exteriores, como se quase pudesse atribuir a outro, numa forma de “irresponsabilidade” básica e infantil. O homem, que se sente incapaz e inseguro de responder pelos seus atos, assume o tom de jogos provocados por um ser sonolento.

Na linguagem sexual o homem exprime-se, modela-se e traça o seu destino. O dom, a verdade do mesmo e o seu sentido, adquirem uma estatura e proporção digna do homem. Por isso, a Familiaris Consortio sublinha este valor sem o qual o sexo se esvazia, perde sua verdade, até transformar-se em caricaturas e deformações que ferem e desfiguram o que deve brilhar no mistério de uma carne: “o amor conjugal comporta uma totalidade aonde entram todos os elementos da pessoa: chamado do corpo e do instinto, força do sentimento e da afetividade, aspiração do espírito e da vontade; o amor conjugal dirige-se a uma unidade profundamente pessoal, aquela que, para além da união numa só carne, não conduz senão a um só coração e a uma só alma” (FC 13).

Fonte: Artigo sobre “Família: Dom e Compromisso, Esperança da Humanidade” do Cardeal Alfonso Lopez Trujillo.

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