O consentimento, o dom recíproco, é “pessoal e irrevogável”; a doação é “definitiva e total”. Seu local nobre, próprio, único é o matrimônio. Neste a doação é verdade! Podemos dizer que o definitivo é uma qualidade da totalidade da doação. É a superação de uma entrega parcial, a pedaços, por “cômodas quotas” que são homenagens ao egoísmo, ao amor ofuscado por uma realidade do pecado. Um amor assim perde profundidade, espontaneidade e poesia. Entre os noivos é outra a tonalidade. O amor que se promete tem ânsia de durabilidade ou, no fundo, não existe. A doação é para toda vida e para todas as circunstâncias. Assegura contra o provisório, o desgaste, a mentira.
O que dizer de quem, como um novo passo de “pluralismo” e atitude condescendente no campo jurídico, propõe introduzir legislações de matrimônios por determinado tempo? Afirmar que o amor é elemento constitutivo do matrimônio é dizer que, se não existir aquela mútua entrega irrevogável, não existirá entre os esposos a fidelidade conjugal. As leis de unidade e indissolubilidade não são exigências intrínsecas do matrimônio, mas nascem da sua própria essência. E, assim, o amor constituinte do matrimônio deve ser o amor conjugal, exclusivo e indissolúvel.
O matrimônio dá a garantia da estabilidade, da perseverança, da perpetuidade. Podemos dizer que o dom recíproco, que liga mais forte e profundamente tudo que pode ser adquirido a qualquer preço, exprime-se numa palavra de compromisso. Um cônjuge não se dá verdadeiramente enquanto não dá, em primeiro lugar e na verdade, a sua palavra. Se não, isto pode parecer uma violação. O dom do corpo não é verdadeiramente humano senão na medida em que cada um dá o seu consentimento, a sua permissão para ir além no colóquio até a intimidade. É uma palavra expressiva, que permanece e compromete profundamente os esposos, de tal maneira que uma doação limitada voluntariamente no tempo faz perder a própria qualidade de um dom total. A palavra exprime um “sim” profundo que surge da raiz de um amor que quer ser fiel em todo tempo e para sempre.