O matrimônio natural possui “certa sacramentalidade”, no sentido amplo, como sinal prenunciador do mistério de tal união, na razão da íntima unidade de uma só carne, introduzida (de alguma forma) no mistério da Aliança de Deus com a humanidade, na linguagem da criação de Deus com seu povo, de Cristo com a Igreja. “Maridos, amai as vossas mulheres como também Cristo amou a Igreja e por ela entregou a si mesmo. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher; e os dois serão uma só carne. Este mistério é grande, eu digo em relação a Cristo e a Igreja” (Ef 5, 25.31-33).
Neste texto central da Carta aos Efésios, o modelo é a doação de Cristo, na linguagem do sacrifício com que se exprime o amor supremo, sem limites: amor sacrificado! A doação total e radical, que é o modelo, é o mistério fundamental que abraça a aliança conjugal. O mistério do matrimônio refere-se ao processo que tem o seu modelo em Cristo e na Igreja. É necessário ter presente que, ao falar do grande mistério, São Paulo indica a importância do mesmo, a sua força expressiva, e não a obscuridade. O mistério da união sacramental de Cristo com a Igreja é reproduzido no matrimônio do homem e da mulher.
Estamos no âmbito sagrado de uma doação e de uma entrega que adquire sua plena iluminação em Cristo, na sua paixão redentora. Sendo assim, o matrimônio humano é algo mais que uma simples figura quando se realiza entre membros de Cristo: deve realizar a união amorosa de Cristo com a sua Igreja. Portanto, o matrimônio não é meramente figurativo, mas é participação real no que o Apóstolo Paulo chama o grande mistério.
O consentimento que os esposos se dão e se recebem mutuamente é selado pelo próprio Deus (CIC 1639). O vínculo do matrimônio estabelecido por Deus é irrevogável, de tal maneira que não está no poder da Igreja pronunciar-se contra esta disposição da sabedoria divina (CIC 1640). Infelizmente, foi divulgada a ideia de que o Papa tem poder para introduzir modificações e abrir portas a dissoluções, pelo menos em casos excepcionais. Preciso repetir esta verdade com decisão e amor: isto não está no poder da Igreja. Retorna aqui a sentença ligada ao projeto original de Deus, pensado por Cristo: “Não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19, 6). Como se poderia, pois, introduzir modificações em nome de Deus, fiel à Aliança que, na sua misericórdia, tutela e preserva o bem do matrimônio?