Com a solenidade de São Pedro e São Paulo a 29 de junho, fecha-se o ciclo das festas juninas. Estas festas, em que o aspeto religioso e o profano se entrelaçam, são muito sentidas em países como o Brasil e Cabo Verde, onde se tornaram elementos da identidade nacional, merecendo ser preservadas e projectados no futuro. Assim pensam Jorge C. Fonseca, mordomo da festa de São João na ilha Brava e Marilene Pereira, Diretora do Instituto Guimarães Rosa na Praia, assim como o poeta, Filinto Elísio.
Dulce Araújo – Vatican News
As festas juninas (São António, São João e São Pedro e Paulo) são festas de grande relevo religioso-cultural e são marcantes em territórios que tiveram contactos históricos com Portugal, como o Brasil e Cabo Verde, países que, no encerrar deste mês de junho de 2024, o programa “África em Clave Cultural: personagens e eventos” tomou como referência para falar da importância destas festas. Para isso contribuiu a crónica de Filinto Elísio (Rosa de Porcelana Editora) que se debruça sobre a tradição da festa de São João em Cabo Verde, sobretudo na Ilha Brava, de que o Santo é Padroeiro, coincidindo a festa com a do Município. Na opinião deste intelectual, esta festa, pela sua importância, “deverá ser classificada como Património Imaterial Nacional”.
A festa articula-se em diversas etapas e elementos, desde a celebração eucarística, à procissão, ao rufar de tambores, ao vestimento de mastro público com alimentos e enfeitos, assalto ao mesmo, a refeições típicas, a danças mesmo de cavalos, etc. E para além do envolvimento da paróquia e do Município, há também um festeiro ou mordomo, encarregado do estandarte de São João e de vários outros aspetos, também económicos, da festa.
Este ano o festeiro foi Jorge Carlos Fonseca, antigo Presidente da República de Cabo Verde, poeta, escritor e jurista. Em entrevista à Rádio Vaticano revelou ter aceite a incumbência pela sua ligação afetiva e familiar à Brava e por isso representar uma atividade nova para ele, embora já o tivesse feito em 1994, mas em moldes um pouco diferentes, ou seja, mais institucional. Desta vez, foi de caracter mais pessoal, envolveu-se profundamente em todas as fases da festa e, para além de manter o esquema tradicional, introduziu também alguns elementos novos: uma conferência sobre o significado da festa de São João, tendo como oradores Frei Bernardino Lima e o antropólogo, Carlos Barbosa, do Instituto do Património Cultural de Cabo Verde; e a apresentação de três livros relacionados com a ilha Brava. No conjunto, foi para ele um enriquecimento humano e intelectual que poderá mesmo desembocar, quiçá, nalguma criação literária – revela.
Geralmente, no fim da festa, deve ficar claro quem será o festeiro do ano seguinte. Se não houver nenhum voluntário, o que pode acontecer, devido sobretudo ao peso financeiro que comporta, o Município assume o papel. Este ano ninguém se ofereceu para o cargo. Mas Jorge Carlos Fonseca está convicto de que se houver no futuro alguma forma maior de sensibilização, as coisas poderão ser diferentes.
Ele considera ainda significativa a participação dos jovens nesta importante manifestação religioso-cultural, mas sublinha que se houver dedicação politica e maior atenção da parte dos media, essa participação poderá ser maior. Aliás, a conferência que introduziu – frisa – tem também este objetivo.
Também Marilene Pereira, Diretora do Instituto Guimarães Rosa na Cidade da Praia, considera que é preciso sensibilizar os jovens para a importância destas tradições e entusiasmá-los a participar. Algumas atividades do Instituto que dirige já vão neste sentido. Algumas tradições das festas juninas ,muito sentidas no Brasil, estão a chegar também a Cabo Verde, onde Marileme nota com prazer alguma participação de jovens.
Natural de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Marilene Pereira recorda-se das festas juninas como as mais belas da sua vida; eram organizadas e pacíficas, por isso os pais autorizavam facilmente a participação nas quadrilhas da festa, ricas de música, dança e alimentos à base de milho, produto agrícola da época. Ela sublinha ainda os aspetos políticos e económicos da festa, sem esquecer os valores cristãos que representa.