O Festival de Literatura-Mundo do Sal (FLMSal 2024) teve sua abertura oficial no dia 12 de junho. Com curadoria de Inocência Mata, o evento discute a literatura e a globalização, homenageando o legado de Cabral. Destaques incluem as reflexões de Inocência Mata sobre a importância de incorporar o pensamento de Cabral nos currículos escolares e as perspectivas globais de Luca Fazzini sobre a importância de conectar culturas através da literatura.
Thulio Fonseca – Ilha do Sal, Cabo Verde
No dia 12 de junho, a cerimônia de encerramento do colóquio “Centenário de Amílcar Cabral” marcou também a abertura oficial do Festival de Literatura-Mundo do Sal (FLMSal 2024), que se estenderá até o dia 16 de junho. Com curadoria científica de Inocência Mata, o evento promete ser um marco na reflexão sobre a literatura e a globalização, sempre com um olhar atento ao legado de Amílcar Cabral. O festival incluirá momentos científicos, homenagens e mesas-redondas que abordarão temas como os desafios da globalização e a importância da ficção na literatura mundial.
Os debates no FLMSal pretendem explorar a relevância das ideias de Cabral frente aos desafios atuais da África, a influência de sua obra poética e seu papel na promoção da igualdade de gênero. A Ilha do Sal está preparada para receber participantes e visitantes de todo o mundo, num tributo que reforça a importância de Amílcar Cabral na história contemporânea e na luta pela libertação dos povos colonizados.
Herança para os tempos contemporâneos
Conversamos com Inocência Mata, curadora do Festival, professora, doutora em Letras pela Universidade de Lisboa e pós-doutora em Estudos Pós-coloniais pela Universidade da Califórnia, Berkeley. Ao falar sobre sua expectativa para o evento, Inocência Mata ressaltou que a importância de Cabral está no que ele nos ensina hoje, nos tempos contemporâneos:
“Tradicionalmente, o festival homenageia dois escritores: um cabo-verdiano e um internacional. No entanto, este ano, a magnitude do legado de Cabral justificou um evento inteiramente dedicado a ele, celebrando suas múltiplas facetas como intelectual, pensador, poeta, político, diplomata e agrônomo.”
“O festival, com sua abordagem inclusiva e reflexiva, é projetado para promover uma reflexão mais científica, acadêmica e epistemológica sobre o pensamento de Cabral”, afirma a professora. Segundo Mata, o que Cabral deixou escrito continua a nos ensinar sobre questões como desigualdades, a reescrita da história, dominação e o papel do dominado, além de como a cultura pode ser um veículo de libertação.
Inocência Mata expressou também a esperança de que Cabral seja incorporado nos currículos escolares, sendo estudado não apenas por intelectuais, mas por estudantes em geral, devido à sua significativa dimensão pedagógica:
“As políticas educativas precisam ser ajustadas para incluir escritores nacionais e outras visões do mundo, e essas políticas devem ser um desígnio nacional, e não partidário. Espero que as crianças e os jovens adquiram o gosto pela leitura, desenvolvendo assim uma conexão mais profunda com a literatura e o legado de Cabral.”
O mundo precisa de conexões humanas
Luca Fazzini, pesquisador na Universidade de Lisboa, também compartilhou suas perspectivas sobre a importância do evento. O jovem italiano destacou que o festival representa um momento extremamente rico e emocionante porque aborda a literatura numa perspectiva mundial. Para Fazzini, Amílcar Cabral foi um pensador que construiu seu conhecimento a partir de uma perspectiva planetária, estudando realidades africanas, europeias e americanas: “Cabral, assim, simboliza um ponto de conexão entre diferentes culturas e geografias, conservando em si um pouco do mundo atlântico”.
Fazzini vê o festival como uma oportunidade para conectar ainda mais um mundo que, apesar de tecnologicamente conectado, ainda precisa de mais conexões humanas:
“Conhecer novos cenários é enriquecedor tanto a nível pessoal quanto cultural. Aprender sobre outras culturas pode proporcionar um distanciamento necessário para um novo olhar sobre o próprio país, suas tradições e raízes. É um duplo ganho: aprender sobre o outro e descobrir partes de si mesmo que a proximidade pode ocultar. Espero que essa experiência inspire outros jovens a explorarem além de suas realidades e a valorizarem a riqueza das diversidades culturais.”