Fiorella Solares: Ação Social pela Música do Brasil

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Fiorella Solares, naturalizada brasileira nascida na Guatemala, conversa sobre a Camerata Jovem do Rio de Janeiro e a Ação Social pela Música do Brasil, projeto que co-fundou com seu falecido marido, maestro David Machado. O projeto, com 30 anos de existência, visa educar crianças e jovens de favelas usando a música clássica como ferramenta de inclusão social, evitando que se desviem para problemas comuns nas comunidades carentes.

Silvonei José – Vatican News

Recebemos na Rádio Vaticano – Vatican News Fiorella Solares, que junto com seu marido, maestro David Machado, fundou a Ação Social pela Música do Brasil em 1995, e que visa a formação musical de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.

Com uma sólida presença nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste a instituição conta atualmente 14 núcleos de ensino musical e 12 polos de musicalização, servindo cerca de 4 mil e 800 alunos em todo o Brasil.

“Eu nasci na Guatemala, na América Central, e fui para o Brasil por desejo, por várias contingências da minha vida, e então fiquei encantada com o Brasil, e o Brasil é o país que me adotou, me acolheu”, disse Fiorella. “Eu sou naturalizada brasileira há 40 anos”.

A Camerata Jovem do Rio de Janeiro, um dos frutos da Ação Social está se apresentando aqui em Roma nesses dias, mas não só em Roma, na Itália.

Fiorella Solares: Ação Social pela Música do Brasil

Fiorella Solares: Ação Social pela Música do Brasil

Toca ainda hoje? “Sim. Mas eu digo que felizmente há 10 anos me liberei de tocar, porque ser musicista demanda horas de estúdio, ensaios na orquestra. Aposentei-me pela Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro”.

Começamos então com a Ação Social pela Música do Brasil. Do que se trata? “Olha, é um projeto social que a proposta dele é educar pessoas de favelas, jovens, crianças, adolescentes, trazer a música para a vida deles. Mas este projeto não visa uma educação acadêmica da música. Nós não somos uma academia, um conservatório, nada formal. É um projeto de inclusão social que usa como ferramenta a música clássica, para dar uma infância melhor, para que os meninos e meninas não se desviem rapidamente para outros problemas que existem nessas comunidades e em todo o Brasil, em todo o mundo. Então, é bom que a infância, os infantes estejam ocupados. Crianças, adolescentes. É uma proposta de educar através da música”.

Vocês já chegaram a 15 mil estudantes? “É isso? Sim, porque o projeto já existe há 30 anos. Ele foi se formando, foi evoluindo. Claro que os últimos 17 anos já estavam todos sediados. E evoluímos muito. Mas todas as primeiras ideias foram trazidas justamente pelo maestro David Machado, que é falecido há muitos anos e que foi um grande maestro. Um grande músico que se formou na Alemanha, onde estudou oito anos, morou 15 anos na Itália já profissionalmente, foi maestro do Teatro Máximo de Palermo e depois outros anos aqui em Roma. Ele amava este país, viajou muito pelo mundo e conheceu projetos sociais de inclusão musical em outros países, especialmente na Venezuela. Então, ele quis trazer esta ideia de aprender música em grupo para pessoas que estão na linha da pobreza, que moram em favelas. Em situações de violência, para que a música viesse até eles. Porque esta população, Silvonei, não podemos imaginar que vá para o centro da cidade, para um conservatório, para uma academia, por falta de recursos de transporte, de tempo, porque as mães trabalham todos os dias, estão fora de lar, os pais também. Então, creio que uma das coisas em que o David foi muito afortunado foi em pensar o modelo brasileiro deste projeto, trazendo tudo para dentro das favelas”.

Mas como é que nasce, então, esse sonho? “Esse sonho nasceu no primeiro governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Meu marido, que tinha muito trânsito, tinha sido diretor artístico, maestro titular do Teatro Municipal de São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, viajando pelo mundo. Tinha esses contatos. E, justamente, quando ele conversou com o presidente Fernando Henrique, ele orientou que fôssemos para o Ministério da Cultura, que o ministro era Francisco Befort, na época, um sociólogo de muito destaque, e ele pediu que o projeto começasse no interior do país, que não fosse para as capitais do sudeste, etc. Então, começamos um projeto pequeno em Campos dos Goitacazes, acolhidos por uma instituição, por uma academia de música, e assim fomos evoluindo. E nisso tudo já estávamos quando David faleceu prematuramente. E eu acho que, por ser uma companheira muito apaixonada pelo meu marido, como musicista, também como violoncelista, entendi que eu teria que tomar a frente disso. Aliás, foi um pedido muito grande do José Antônio Abreu, diretor do El Sistema na Venezuela, com o qual tive grande contato, e se tornou um padrinho para mim, um irmão, uma pessoa protetora, que fez muito pelo projeto brasileiro. Então, assim que se iniciou a Ação Social por la Música, e depois desse início um pouco doloroso com o falecimento do David, mas com a ajuda de outras pessoas, começamos a implantar núcleos de iniciação musical. Agora são 14…

Qual é o resultado disso, desse encontro com as crianças? “Olha, é algo extraordinário, um trabalho de muito desafio da equipe. Temos uma equipe pequena, muito coesa, muito dedicada. Os professores que são contratados, profissionalmente, para virem a dar aula de música, são heróis, verdadeiramente, de circular neste ambiente, de se dedicar às crianças, mas nós somos muito compensados, porque recompensados, quero dizer. Porque quando você vê a evolução de um ser humano tão pequeno, sendo bem tratado, sendo bem encaminhado, dando oportunidades de que tenha uma infância melhor, essa é a grande gratificação. A gente dá muito, mas recebe muito. Tem duas mãos”….

Eis a íntegra da entrevista de Silvonei José com Fiorella Solares:

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