A Comunidade de Sant’Egidio prepara-se para receber o seu primeiro beato, o mártir congolês Floribert Bwana Chui, que será beatificado este domingo, 15 de junho, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros. Este jovem, morto em 2007, aos 26 anos, por resistir à corrupção, esteve muito envolvido nas atividades da Comunidade em Goma. Deixa a imagem de uma pessoa prestável que desejava o bem estar de todos, como testemunha Aline Minani, responsável pela Sant’Egídio Goma.
Stanislas Kambashi – Cidadde do Vaticano
A Comunidade de Sant’Egidio, em particular a de Goma, recebeu a notícia da beatificação de Floribert Bwana Chui, um dos seus membros, “com gratidão e felicidade“. “É comovente ver que estamos a presentear a Igreja com um beato que fez parte da nossa Comunidade. Para nós, é um motivo de orgulho, especialmente para Goma, que é conhecida por acontecimentos tristes. Agora temos notícias que nos alegram a nós e a toda a nossa Comunidade em todo o mundo“, disse Aline Minani.
O compromisso de Floribert com as “crianças da rua”
Floribert será o primeiro beato de Sant’Egídio. Na sua Comunidade em Goma, deixou a imagem de uma pessoa “que queria servir e para quem todas as vidas importavam“, diz Aline Minani. Dedicou-se particularmente às chamadas crianças da rua, chamadas “Maibobo” em língua swahili. Estes jovens não têm tecto, não frequentam a escola e não têm garantias para o seu presente ou porvir. Esta categoria recebeu grande atenção por parte do porvir beato. Aline conta o caso de Jonathan, um rapaz de 10 anos. Um dia, estava no porto de Bukavu, a brincar num barco com alguns amigos.
Quando a embarcação zarpou, os outros escaparam, deixando-o para trás. Assim, na manhã seguinte, viu-se em Goma, sem família nem rumo. Foi confiado a Floribert, que lhe prestou todos os cuidados possíveis. Nos dias seguintes, foi para Bukavu, onde pôde reencontrar a sua família e reintegrá-lo. O pequeno Jonathan testemunhou o grande interesse de Floribert por ele. Para este jovem, que agora está a crescer, o porvir Beato “foi um anjo que Deus enviou para o salvar das ruas“, relata o responsável de Sant’Egídio Goma.
Floribert Bwana Chui, homem de paz, coesão e unidade
Para além do seu empenho com as “crianças da rua“, Floribert era um homem de paz, coesão e unidade. “Ele queria ver todos juntos; dizia sempre: ‘Sonho com um Congo onde todos se sentem à mesma mesa’“, conta Aline Minani. Na Comunidade e noutros lugares, “ele queria ver felizes todos os que o rodeavam“. Numa fotografia partilhada por Sant’Egídio, pode ver-se Floribert numa mesa com crianças. Era uma ceia de Natal para os pobres organizada pela Comunidade. Nesta foto, “pode ver-se que aqueles que servem e aqueles que são servidos são um só. Era isso que Floribert queria“, sublinha a responsável de Sant’Egídio Goma.
Manter as mãos limpas e combater o mal com o bem
Floribert Bwana Chui sofreu o martírio no auge da sua vida. Tinha apenas 26 anos. Por se recusar a aceitar a corrupção, bloqueando a passagem de um carregamento de arroz estragado que poderia pôr em risco a saúde pública, foi raptado, torturado e morto. Durante a sua viagem apostólica à República Democrática do Congo, em 2023, durante o encontro com os jovens no Estádio dos Mártires, em Kinshasa, o Papa Francisco citou-o como um modelo para os jovens. “Ele podia ter deixado passar, ninguém saberia, e teria ganho dinheiro. Mas, como cristão, rezou, pensou nos outros e escolheu ser honesto, dizendo ‘não’ à sujeira da corrupção … Se alguém te passa um envelope prometendo favores e riquezas, não caias na armadilha, não te deixes enganar, não te deixes engolir pelo pântano do mal”, havia advertido o Papa.
Para Aline, os jovens congoleses e africanos em geral podem assumir este chamamento e seguir os passos de Floribert, de forma a “escrever uma nova história“. Ela sugere falar frequentemente do exemplo de Floribert, que soube conciliar a vida cristã com a vida profissional, o que o ajudou a não ceder ao dinheiro sujo e ao egoísmo, “à cultura do salva-te a ti mesmo“. Seguindo o seu exemplo, os jovens poderão decidir a melhor escolha a fazer quando se encontram em situações semelhantes, afirma a jovem congolesa. Aconselha também a leitura frequente das Sagradas Escrituras, como fez Floriberto, cuja Bíblia está guardada na Basílica de São Bartolomeu, em Roma.
Floribert Bwana Chui é também modelo para os líderes políticos
Além dos jovens, a vida de Floribert pode também inspirar e desafiar outros atores da sociedade, acredita Aline. No seu país, o Congo, ela observa que o tecido social está a enfraquecer de dia para dia. Na região oriental, em particular, onde o porvir Beato foi martirizado, a instabilidade perdura há três décadas. Hoje, as cidades de Goma e Bukavu estão sob ocupação do grupo político-militar AFC/M23, apoiado pelo Ruanda, um país vizinho da República Democrática do Congo. Muitas vidas foram ali ceifadas.
Aos seus compatriotas congoleses, Aline aconselha a trabalhar pela coesão nacional, seguindo as palavras de Bwana Chui: “Sonho com um Congo onde todos se sentem à mesma mesa“. Ela pede aos líderes da região dos Grandes Lagos que façam escolhas corajosas como Floribert, combatendo o mal com o bem, parando as matanças, parando o derramamento de sangue e construindo a paz, porque “a vida de todos importa para todos“. “Chega de mortes! Chega de vidas perdidas!” Não há mais tempo a perder “nem uma única vida“, diz ela. “Precisamos de uma África inclusiva, onde todos encontrem o seu lugar, onde ninguém se sinta isolado como uma ilha“, como diz Andrea Ricardi, fundador de Sant’Egídio. “Vamos construir pontes em vez de muros“, pede a jovem congolesa.
Na paz, todos são vitoriosos. Goma pode tornar-se um jardim de paz.
“A paz é um pedaço de bolo que se deve comer em conjunto. Pela paz, todos são vitoriosos”, afirma Aline. O porvir Beato, diz ela, costumava cantar o “canto da ressurreição para África”, um cântico da Comunidade de Santo Egídio. “Sim! Goma pode tornar-se um jardim de paz! Sim, a RDC pode tornar-se um jardim. Todos podem plantar uma árvore que dê frutos e sombra, mesmo no caos, na confusão ou no solo vulcânico negro da Goma.” Aline Minani espera que a beatificação de Floribert Bwana Chui seja um momento que traga felicidade a toda a RDC, una o povo congolês e o faça refletir sobre a situação no seu país.
E ela convida todos os que puderem a comparecer e participar na Missa de beatificação, que será presidida às 17.30 horas na Basílica de São Paulo Fora dos Muros pelo Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos. O Cardeal Fridolin Ambongo, Arcebispo de Kinshasa, e o Bispo Willy Ngumbi, Bispo de Goma, diocese de origem de Floribert, concelebrarão. A família do porvir Beato, o povo congolês de todo o mundo e a Comunidade congolesa em Roma estão a preparar-se para este grande evento. O governo congolês também anunciou a sua participação.