“No Evangelho de hoje, Jesus se identifica não só com o rei-pastor, mas também com as ovelhas perdidas, ou seja, com os irmãos pequeninos e necessitados. E assim ele indica o critério do julgamento: será com base no amor concreto dado ou negado a estas pessoas, porque Ele mesmo, o juiz, está presente em cada uma delas”, disse o Papa em sua alocução dominical.
Mariangela Jaguraba/Silvonei José – Vatican News
Hoje, celebramos a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, com a qual se encerra o ano litúrgico, a grande parábola em que se desdobra o mistério de Cristo. Ele é o Alfa e o Ômega, o início e a realização da história; e a liturgia de hoje se concentra sobre o “ômega”, ou seja, na meta final.
Estas são as palavras iniciais do Papa Francisco no Angelus deste domingo (22/11), Solenidade de Cristo Rei.
Segundo o Papa, “o significado da história pode ser compreendido mantendo diante dos nossos olhos o seu ponto culminante: o fim é também a meta. E é isto que Mateus faz, no Evangelho deste domingo, colocando o discurso de Jesus sobre o juízo universal no epílogo da sua vida terrena: Ele, que os homens estão prestes a condenar, é de fato o juiz supremo. Na sua morte e ressurreição, Jesus se mostrará o Senhor da história, o Rei do universo, o Juiz de todos. Mas o paradoxo cristão é que o Juiz não é um temível rei, mas um pastor cheio de mansidão e misericórdia”.
Nesta parábola do juízo final, Jesus usa a imagem do pastor, recordando as profecias de Ezequiel, que falou da intervenção de Deus em favor do povo, contra os pastores maus de Israel. Estes tinham sido cruéis e exploradores, preferindo pastorear a si próprios em vez de pastorear o rebanho. Por isso, o próprio Deus promete cuidar pessoalmente do seu rebanho, defendendo-o das injustiças e dos abusos. Esta promessa de Deus ao seu povo foi plenamente cumprida em Jesus Cristo, que diz de si mesmo: “Eu sou o bom pastor”.
No Evangelho de hoje, Jesus se identifica não só com o rei-pastor, mas também com as ovelhas perdidas. Poderíamos falar de uma “dupla identidade”: o rei-pastor, Jesus, também se identifica com as ovelhas, ou seja, com os irmãos pequeninos e necessitados. E assim ele indica o critério do julgamento: será com base no amor concreto dado ou negado a estas pessoas, porque Ele mesmo, o juiz, está presente em cada uma delas. Ele é juiz, Ele é Deus-homem, mas Ele também é o pobre, Ele está escondido, Ele está presente na pessoa dos pobres que Ele menciona. Jesus diz: “Em verdade eu lhes digo: tudo o que vocês fizeram ou não fizeram a um desses meus irmãos pequeninos, foi a mim que fizeram ou não fizeram.” Seremos julgados com base no amor. O julgamento será sobre o amor. Não sobre os sentimentos, não: seremos julgados sobre as obras, sobre a compaixão que se torna proximidade e ajuda atenciosa.
“Aproximo-me de Jesus presente na pessoa dos doentes, dos pobres, dos que sofrem, dos encarcerados, dos que têm fome e sede de justiça? Eu me aproximo de Jesus ali presente? Essa é a pergunta de hoje”, disse o Papa.
“O Senhor, no final do mundo, irá avaliar o seu rebanho, e o fará não só do lado do pastor, mas também do lado das ovelhas, com as quais Ele se identificou. Ele nos perguntará:
Você foi um pouco pastor como eu? Você foi meu pastor quando eu estava presente nessas pessoas necessitadas, ou você foi indiferente?” Irmãos e irmãs, tenhamos cuidado com a lógica da indiferença, com o que nos vem logo à mente: olhar para outro lado quando vemos um problema. Recordemos a parábola do Bom Samaritano. Aquele pobre homem, ferido por bandidos, atirado ao chão, entre a vida e a morte, estava ali sozinho. Um sacerdote passou, viu, e foi embora, olhou para o outro lado. Um levita passou, viu e olhou para o lado. Eu, diante de meus irmãos e irmãs necessitados, sou indiferente como este sacerdote, como este levita, e olho para o outro lado? Serei julgado sobre isto: sobre como me aproximei, como olhei para Jesus presente nos necessitados. Esta é a lógica, e não sou eu quem digo, Jesus o diz: “O que vocês fizerem a este ou aquele, vocês fizeram a mim”. E o que vocês não fizeram a este ou aquele, não fizeram a mim, porque eu estava ali”. Que Jesus nos ensine esta lógica, esta lógica da proximidade, de nos aproximarmos dele, com amor, na pessoa dos que sofrem.
Francisco concluiu, pedindo “à Virgem Maria que nos ensine a reinar no servir. Nossa Senhora, elevada ao Céu, recebeu do seu Filho a coroa da realeza, porque o seguiu fielmente no caminho do Amor. Aprendamos com ela a ingressar desde agora no Reino de Deus, através da porta do serviço humilde e generoso”.
Após a oração mariana do Angelus, o Papa Francisco recordou as populações da Campania e Basilicata, “quarenta anos após o desastroso terremoto, que teve seu epicentro em Irpinia e semeou morte e destruição. Já se passaram quarenta anos! Esse acontecimento dramático, cujas feridas também materiais, ainda não foram curadas completamente, evidenciou a generosidade e a solidariedade dos italianos”.
Francisco concluiu, saudando de modo especial as famílias que estão em dificuldade neste momento, “porque não têm trabalho, perderam seus empregos” e às vezes, por causa da vergonha, “não dizem nada a ninguém”.