Na noite de 6 de agosto de 2014, aproximadamente 120.000 cristãos foram obrigados a abandonar a Planície de Nínive, deixando para trás suas casas e todos os seus pertences.
Vatican News com Agência Fides
Onze anos atrás, os cristãos, “pelas mãos de membros do Estado Islâmico, foram forçados a deixar Mosul e as cidades da Planície de Nínive, após o saque e o incêndio de suas propriedades, casas e igrejas. A ansiedade dos cristãos e a obsessão com a migração continuam a crescer, na ausência de medidas eficazes para proteger seus direitos, segurança e serviços essenciais”. Foi o que recordou o cardeal Louis Raphaël Sako, Patriarca da Igreja Caldeia, em uma mensagem divulgada no décimo primeiro aniversário da expulsão dos cristãos da Planície de Nínive.
Eles foram acordados no meio da noite pelos jihadistas e forçados a abandonar imediatamente suas casas e todos os seus pertences. Famílias inteiras foram expulsas da cama com alto-falantes. “As pessoas foram forçadas a fugir de pijama”, declarou à Fides a Irmã Luigina Sako, irmã do Patriarca, das Filhas Caldeias de Maria Imaculada, após aquela noite horrível. “Os cristãos foram forçados a abandonar tudo, até os sapatos, e foram levados à força, descalços, em direção à região do Curdistão”, contou outra testemunha. No total, aproximadamente 120.000 cristãos deixaram a Planície de Nínive naquela noite.
Entre eles, estavam cristãos que haviam fugido de Mossul algumas semanas antes. A fuga dos cristãos diante da avançada dos militantes do Daesh, na verdade, não começou em 6 de agosto, mas em junho de 2014, quando o autoproclamado Estado Islâmico conseguiu tomar a cidade. No início daquele verão, havia pelo menos 1.200 famílias cristãs somente em Mossul.
Somente em Mossul, no início deste século, havia mais de 100.000 cristãos, parte de um tecido social em que a maioria sunita coexistia com xiitas, yazidis e outras minorias. Mas mesmo antes das atrocidades perpetradas pelo chamado Estado Islâmico, o número de cristãos começou a diminuir após a primeira intervenção militar dos EUA em 2003, que levou à derrubada do regime de Saddam Hussein. Desde então, a violência sectária aumentou.
A intimidação e o assédio ética, como observa o Patriarca Sako, continuam: as cidades da Planície de Nínive estão “sob o controle de grupos armados que praticam extorsão, assédio, intimidação, bem como a usurpação de cotas parlamentares e de oportunidades de emprego no setor público destinadas a elas”.
No entanto, o purpurado iraquiano ressalta que, “apesar desses enormes desafios, os cristãos permanecem firmes em sua fé: a letra vermelha “N” (ن) nas portas de suas casas permanece gravada em sua memória e os inspira a dar testemunho fiel de Cristo, independentemente das dificuldades que enfrentam”.
O Patriarca dirige um apelo ao Governo, “que representa a todos, para que assuma sua responsabilidade de proteger esta população cristã autóctone e proteger seus direitos”. Para Sako, esta não é apenas uma “necessidade humanitária”, mas também “um imperativo nacional para o qual a proteção das liberdades e dos direitos dos cristãos e de outras minorias não deve ser determinada por considerações demográficas, mas por medidas justas e equitativas”.
Os cristãos, recorda o Patriarca Caldeu, “são os habitantes originais destas terras, portadores de uma rica cultura e herança, fiéis à sua pátria e protagonistas da vida da nação iraquiana nos campos da educação, cultura, medicina e serviços sociais”. Eles “ainda podem contribuir para o renascimento e o progresso do Iraque”. Portanto, conclui o cardeal Sako, “a comunidade cristã merece segurança e justiça. A permanência dos cristãos em sua própria terra e uma coexistência pacífica baseada na tolerância, no respeito e na harmonia devem ser garantidas”.