Era 21 de agosto de 1968 quando os tanques soviéticos e do Pacto de Varsóvia entraram na Tchecoslováquia, reprimindo à força a chamada “Primavera de Praga”. O líder do movimento dissidente, Alexander Dubcek, que lutava pelo socialismo com uma face mais humana, foi preso. Jan Palak, um jovem ativista tcheco, que se incendiou para protestar contra a intervenção em Moscou, é ainda hoje o símbolo daquele período.
Giancarlo La Vella – Cidade do Vaticano
A Primavera de Praga é um dos eventos que deixaram sua marca na história contemporânea. Era janeiro de 1968. Em um mundo dividido em blocos, as duas grandes potências – União Soviética e os Estados Unidos da América – se entreolhavam com desconfianças movidos pela ‘guerra fria’, competindo para ver quem possuía o maior número de ogivas nucleares.
Nesse clima, Moscou não poderia suportar, apenas 12 anos após a revolta na Hungria, as demandas surgidas na então Tchecoslováquia, onde o movimento liderado por Alexander Dubcek, propunha uma virada democrática, um socialismo com rosto mais humano e maior autonomia da URSS.
O Kremlin leu neste evento um grande risco para a ‘unidade’ do Pacto de Varsóvia, formado pela União Soviética e pelos países satélites da Europa Oriental. Assim, foram enviadas tropas e tanques para Praga. A capital foi invadida pelas tropas soviéticas em 21 de agosto de 1968.
O jovem ativista tcheco pela democracia, Jan Palak, com um gesto dramático, ateou fogo nas próprias roupas em protesto contra a intervenção de Moscou, tornando-se desde então emblema da luta pela democracia. Em poucos dias, Dubcek e os outros líderes da Primavera foram presos e um novo governo pró-soviético foi instaurado.
O mundo inteiro e, em particular, a Europa, olhavam com atenção e preocupação para estes acontecimentos. Segundo Luigi Geninazzi, especialista em Europa de Leste, foi uma grande decepção para o Ocidente liberal que acreditava na democracia, mas sobretudo para a esquerda, que esperava um caminho reformista na URSS e no Leste Europeu para a criação do socialismo com um rosto mais humano.
Uma desaceleração na história
Geninazzi vai ainda mais distante em sua análise da Primavera de Praga. A miopia das autoridades soviéticas não permitiu perceber em 1968 o que aconteceria de forma mais traumática para o regime, com o surgimento do Solidarność na Polônia e com a perestroika de Gorbachev, que antecipou a dissolução da União Soviética.
Mas, olhando para aqueles acontecimentos com a ótica atual, observa Geninazzi, as demandas apresentadas por Dubcek na Tchecoslováquia pareceriam bastante utópicas. Ele queria permanecer socialista, com um regime rígido do ponto de vista político, militar e econômico, querendo ao mesmo tempo conjugar isso com as ideias do livre mercado, o que teria sido impossível.
Daqueles acontecimentos, porém, permanece o entusiasmo desiludido dos jovens da época, recorda Geninazzi, a reprovação pela intervenção soviética em Praga e no território tcheco e as trágicas imagens do jovem Jan Palak em chamas na Praça Venceslau em Praga. Todas peças de uma oportunidade perdida da qual, ele observa, vemos as consequências até hoje.