O assassinato na capital Porto Príncipe é mais uma amostra da “crise multidimensional” do país, que coloca as crianças em grande risco. Nos últimos dez dias, segundo a ONU, houve pelo menos uma vítima infantil a cada 24 horas devido à violência das gangues criminosas.
Pietro Piga – Vatican News
Um ataque com drones a uma festa de aniversário matou oito crianças, no último sábado, em Porto Príncipe, capital do Haiti. O assassinato é mais um episódio do vórtice da violência entre gangues que consome o país caribenho. Naquela noite de festa, as aeronaves não tripuladas também assassinaram quatro integrantes de uma gangue e três civis adultos, além de deixar sete pessoas feridas, segundo a reconstrução da Rede Nacional para a Defesa dos Direitos Humanos do Haiti. A organização acusa a polícia local de ter lançado os drones contra o líder de uma gangue, Albert Stevenson, que celebrava seu aniversário distribuindo presentes às crianças.
O alerta da Unicef
O assassinato em Porto Príncipe, que hoje tem 90% do seu território controlado por gangues criminosas, é mais uma prova do que as Nações Unidas descrevem como uma “crise multidimensional em agravamento, que afeta as esferas política, de segurança, de direitos humanos e humanitária, com implicações para a região”. As crianças estão em grande risco. Como atesta o Unicef, em dez dias, dez crianças foram assassinadas. Geeta Narayan, representante da agência da ONU no país, expressou preocupação com os pequenos que “permanecem presos em ciclos incessantes de violência”, destacou que “poucos dias antes, em 11 de setembro, quatro crianças haviam sido mortas em um ataque de grupos armados enquanto estavam dentro de sua lar” e exortou “uma ação urgente para garantir a proteção dos menores e o respeito de seus direitos fundamentais”.
As vítimas mais frágeis
Além de ter provocado – de janeiro a maio de 2025 – a morte de 4.026 pessoas, segundo a ONG internacional “Global Initiative”, a violência das gangues fragmentou o território e enfraqueceu as instituições estatais. As gangues estão expandindo seu controle na fronteira entre o Haiti e a República Dominicana, e a violência afeta principalmente as crianças. No relatório mais recente da organização sem fins lucrativos, publicado em 18 de setembro, entre os 1,3 milhão de deslocados, metade são menores. Entre os que permaneceram no país, 700 mil não têm lar, eles têm acesso limitado à eletricidade, à água potável e aos serviços de saneamento básico; 243 mil não podem estudar porque 1.600 escolas foram fechadas na primeira metade deste ano. Já a ONU documentou que meio milhão de crianças vive em territórios controlados por gangues criminosas, que teriam recrutado cerca de 30% desses menores.