Haiti. Padre Nestor Fils-Aimé: "Não é nosso Deus o Deus do impossível?"

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“Nós, Viatorianos, e toda a população, continuamos a sonhar com um novo amanhecer no qual poderemos retomar todas as atividades sem dificuldade. Embora esse dia ainda pareça distante, continuamos a fazer planos. Não é o nosso Deus o Deus do impossível?”, pergunta o Pe. Nestor Fils-Aimé contando a dramática situação do país caribenho. Há quase 200 mil deslocados internos, 5,2 milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária e 4,9 milhões estão sofrendo uma grave crise alimentar

Vatican News

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O pesado estado de instabilidade, violência e terror que assola o Haiti há quatro longos anos também afeta os missionários dos Clérigos de São Viator na ilha caribenha. “Nossos missionários vivem essa insegurança como o resto da população, tentando sobreviver. Para não se exporem demais ao perigo, eles tiveram que tomar várias medidas de segurança. Entre elas, evacuaram a localidade de Croix des Bouquets, onde o coirmão, padre Jean-Yves Médidor, foi sequestrado em março passado”.

Foi o que escreveu à agência missionária Fides o padre Nestor Fils-Aimé, superior provincial do Canadá dos Clérigos de São Viator, CSV, sobre a crise galopante que está destruindo os haitianos. O missionário explicou que a situação “está ficando empantanada por causa da deslealdade dos atores que lucram muito com ela”.

“Ariel Henry, o presidente (não eleito) e primeiro-ministro interino do Haiti a partir de 20 de julho de 2021, não tem interesse em acabar com a insegurança e a proliferação de gangues criminosas. Ele permanece surdo aos gritos de toda a população feita refém. Diz-se que Porto Príncipe é 80% controlada por gangues armadas que semeiam o terror. Muitas pessoas tiveram de abandonar suas casas e tudo o que possuíam para escapar dos criminosos.

O grito não ouvido de um povo inteiro diante do abandono

Nós, coirmãos viatorianos, também estamos nos limitando em nossas saídas. Fazemos a maior parte de nossas reuniões por meio da plataforma Zoom ou de um grupo de Whatsapp. Em Croix-des-Bouquets, a comunidade não tem notícias de um imóvel destinado para o noviciado. Ele fica no coração de uma área sem lei, fora de controle, ocupada por bandidos.”

“Referindo-se à recente mensagem da Conferência Episcopal Haitiana, na qual os bispos fizeram ressoar o grito de um povo inteiro diante do abandono, o padre Nestor destacou como esse apelo também não foi ouvido ‘junto com todos aqueles gritos sufocados que deixam as autoridades governamentais completamente indiferentes’.”

“Recentemente – acrescenta o superior provincial -, os vários chefes de quadrilha gravaram uma mensagem na qual convidavam a população a realizar suas atividades livremente e prometiam não mais exigir resgates ou sequestrar cidadãos. Eles lançaram uma campanha chamada ‘Viver juntos’, mas entre dizer e fazer… Eles não dizem nada sobre as armas pesadas à sua disposição”.

“Não é o nosso Deus o Deus do impossível?”

“Vivemos apenas de esperança. Nós, Viatorianos, e toda a população, continuamos a sonhar com um novo amanhecer no qual poderemos retomar todas as atividades sem dificuldade. Embora esse dia ainda pareça distante, continuamos a fazer planos. Não é o nosso Deus o Deus do impossível?”, conclui.

De acordo com as Nações Unidas, somente entre janeiro e meados de agosto de 2023, foram registrados pelo menos 2.439 mortos encontrados nas ruas e pelo menos mil feridos, executados, desmembrados com facões, incendiados, meninas e mulheres frequentemente estupradas por gangues.

No final de junho, o número de sequestrados, inclusive estrangeiros, já havia ultrapassado mil, com um número cada vez maior de mulheres e crianças. Há quase 200 mil deslocados internos, 5,2 milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência humanitária e 4,9 milhões estão sofrendo uma grave crise alimentar.

(com Fides)

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