Irmã Nabila: Gaza, onde a fé é mais forte do que as bombas

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Na terça-feira, no Centro PIME de Milão, o testemunho da religiosa que viveu a brutalidade da Faixa de Gaza por seis meses. Uma guerra “repentina”, de uma violência maior do que as do passado, que fez “cair o véu dos direitos humanos”. As vítimas cristãs, a destruição da escola das Irmãs do Rosário. O desafio de encontrar crianças que, em suas vidas, só vivenciaram conflitos e desenvolveram forte agressividade

Vatican News

A fé e a esperança “nunca falharam”, mesmo nos “dias terríveis” em que o exército israelense “bombardeava perto de nós”, nas proximidades da paróquia da Sagrada Família, com pessoas da comunidade “feridas por estilhaços” que não puderam ser tratadas “porque havia falta de hospitais e remédios”. É o que conta à AsiaNews a irmã Nabila Saleh, uma religiosa de origem egípcia das Irmãs do Rosário, que vivenciou em primeira pessoa o conflito entre o Estado judeu e o Hamas em Gaza, e só no início de abril conseguiu deixar a Faixa com um grupo de paroquianos. Momentos terríveis como o ataque à igreja greco-ortodoxa de São Porfírio: “Imediatamente corremos para ver como eles estavam – lembra ela -, porque todos nós nos conhecemos entre os cristãos. E novamente, quando eles (atiradores israelenses) mataram as duas mulheres diante de nossos olhos… eu mesma ajudei a nora a recuperar o corpo da mulher idosa, depois esperamos do meio-dia às quatro da tarde para podermos recuperar o segundo corpo também”.

Diferentemente de outras guerras anteriores na Faixa de Gaza, que ocorreram em um período de tempo mais curto e com menos intensidade, desta vez “foi repentina, nada a prenunciava, e nenhum lugar podia ser considerado seguro. Desta vez – conta a religiosa -, eles atacaram em todos os lugares”. A liderança israelense “sabia que nós, cristãos, éramos deslocados dentro das igrejas e foi um choque” perceber que não estávamos imunes aos ataques, às bombas: “Não acreditávamos que isso aconteceria, como quando eles entraram com tanques em Zeitoun (bairro onde fica a paróquia latina) e, atrás deles, havia franco-atiradores atacando deliberadamente”.

 

A irmã Nabila Saleh viveu 13 anos em Gaza e vivenciou na própria pele a violência do conflito israelense-palestino, embora a intensidade da guerra desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro não tenha igual no passado. A religiosa passou mais de seis meses como refugiada na Igreja da Sagrada Família, juntamente com mais de 650 cristãos deslocados, sob as bombas e em condições humanitárias desesperadoras, cuidando dos mais frágeis. Na noite de terça-feira, ela falou sobre sua experiência no Centro PIME em Milão, juntamente com algumas coirmãs, incluindo irmã Bertilla Murj e irmã Martina Bader, jordanianas, que trabalharam por muito tempo no passado na Faixa. Na manhã desta quarta-feira – em um encontro privado – ela também recebeu do arcebispo de Milão, dom Mario Delpini, o prêmio “Fogo dentro” promovido pela Igreja Ambrosiana para “Mulheres e homens que mudam o mundo”.

A “fé” demonstrada por todos foi “a fonte de nossa esperança: durante os bombardeios, íamos à igreja e rezávamos o terço, com pessoas gritando, chorando e rezando”, sem saber se sobreviveriam. “Para mim – continua – foram meses muito difíceis”, nos quais aprendi que “nada no mundo vale a pena, somente o Senhor. Nem riquezas, bens dos quais nada resta. Para eles, tentei representar a fé que vem do Senhor, ter esperança, embora eu mesma tivesse medo e chorasse”. O valor da vida é ainda maior “quando você vê ao seu redor cadáveres e devastação por toda parte, pessoas enterradas, outras morrendo por falta de assistência”, mesmo para doenças que poderiam ser facilmente curadas em outro lugar.

 

Entre os que sofrem estão, em primeiro lugar, as crianças, conforme confirmado pela religiosa cuja ordem fundou uma escola em Gaza apreciada em toda a comunidade, frequentada principalmente por famílias muçulmanas nas quais os próprios líderes do Hamas matricularam seus filhos. “As crianças passaram por cinco guerras em poucos anos e carregam as consequências. Pense em uma criança de 10 anos – diz a irmã Nabila – que só conheceu a violência. Encontramos muita agressividade na escola, e é por isso que iniciamos programas educacionais para tentar lidar com esse problema. Durante esses meses de guerra, tentamos fazê-los brincar, apesar dos horrores”. A própria escola das Irmãs do Rosário sofreu sérios danos nos bombardeios, pelo menos três milhões de dólares serão necessários apenas para consertar as paredes, entre as 37.000 vítimas do conflito estão três professores e vários alunos da escola. “Na paróquia, tentamos organizar aulas, mas foi impossível devido à intensidade dos ataques. Que futuro – a irmã Nabila se pergunta – podemos imaginar para essas crianças?”

A religiosa deixou a Faixa de Gaza no início de abril, junto com um grupo de cristãos, viajando da Cidade de Gaza até a passagem de Rafah, não sem riscos e perigos para sua própria segurança. “Foram meses muito difíceis, no início apenas o rei da Jordânia havia enviado alguma ajuda do céu e nossos jovens estavam arriscando suas vidas para recuperá-la”. Entre os poucos momentos de alegria e consolo destacam-se a visita do patriarca Pierbattista Pizzaballa e o retorno do pároco, padre Gabriel Romanelli, em meados de maio, embora “o vice-pároco, padre Yousef Asad, tenha feito um ótimo trabalho”. “Certamente, a presença do cardeal – enfatizou a religiosa – foi muito importante, porque ver que o chefe da Igreja, mesmo nestes tempos difíceis, tem a coragem de visitá-los é uma fonte de graça e infunde coragem onde prevalece o desejo de fugir”.

 

Perguntada sobre as exigências feitas hoje pelo povo de Gaza, irmã Nabila afirma com convicção: “Paz!”. “É muito difícil viver sempre em guerra. Sentimos a falta das vozes que realmente trabalham pela paz”. O Papa Francisco “sempre pede por ela, mas os poderosos não o fizeram. Todos os habitantes de Gaza dizem que, com essa guerra, o véu dos direitos humanos caiu. Ambos os povos têm o direito de viver em paz” e a esperança é de que ”esta guerra feche o livro de todas as guerras. As pessoas – conclui a religiosa – hoje não estão pensando no Hamas ou no Fatah. Elas pensam em como estar vivas amanhã, em como alimentar seus filhos”.

(DS – AsiaNews)

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