O fundador da Missão de Esperança e Caridade em Palermo, sul da Itália, que acolhe cerca de 600 pessoas em dificuldade na capital siciliana, pede o fim das rejeições de barcos com migrantes no Mediterrâneo e aponta o dedo contra algumas multinacionais que operam no continente africano
Vatican News
“Considero absurdo, injusto e inconcebível que há tantos anos a Itália e a Europa vendam armas no mundo inteiro, particularmente na África; não só isso, mas tantas multinacionais com interesses muito fortes, estão explorando injustamente os diversos países africanos, enriquecendo apenas 10% daquela nação, enquanto a grande maioria da população morre de fome”. Foi o que afirmou o fundador da Missão de Esperança e Caridade em Palermo, sul da Itália, que acolhe cerca de 600 pessoas em dificuldade, irmão Biagio Conte.
Não a rejeições
O irmão Biagio está travando uma batalha pessoal contra o câncer, mas isso não o asfasta de seu grande compromisso com o respeito aos direitos humanos. “Tantos africanos fogem de suas terras para buscar uma terra prometida. E nós, europeus e italianos, implementamos injustamente a chamada “rejeição, deixando-os no mar e assim à deriva”. Daí, o chamado a parar com as rejeições, empurrando suas embarcações de novo para o mar, a não implementar “estas terríveis decisões, lembremos que nós italianos também fomos imigrantes, nos períodos antes e depois da Primeira Guerra Mundial e no período da Segunda Guerra Mundial, estamos espalhados por diferentes nações do mundo; ainda hoje nossos jovens terminam seus estudos e depois, não encontrando trabalho, emigram para o norte da Itália e Europa” em geral.
Somos todos irmãos
“E assim descobrimos – continua ele – que somos todos estrangeiros em uma terra estrangeira, diz o bom Deus, e somos todos irmãos e irmãs, não deve haver diferença entre as pessoas e as nações, ajudemo-nos uns aos outros”. O irmão Biagio apela para a implementação concreta e consciente do que ele chama de “o dom da acolhida, do reencontro e da verdadeira fraternidade”, porque “somos todos cidadãos, irmãos e irmãs preciosos”. O ligioso reitera que a narrativa que apresenta os migrantes como uma ameaça está errada. “Como diz o historiador e filósofo Giuseppe Savagnone, devemos ter consciência – enfatiza ele – de que a Itália precisa de estrangeiros, porque os italianos não ocupam hoje muitos empregos, humildes, especialmente na agricultura”.
A dignidade da pessoa
O mais relevante, entretanto, é a dignidade da pessoa, de cada ser humano. “Devemos sempre lembrar que é nosso dever dar dignidade aos estrangeiros, ou seja, ajudar e sucorrer nosso próximo. Quem se considera cristão e não acolhe, não implementa o dom da caridade que o bom Deus nos convida todos a colocar em prática”. Portanto, é também nosso dever “colocar-nos a serviço dos cidadãos italianos e de outros países, para que todos possamos realmente construir juntos um mundo melhor, especialmente não produzindo e vendendo instrumentos de morte que causam guerras; em vez disso, produzamos instrumentos de trabalho, e assim, -conclui o irmão Biagio Conte – no porvir poderemos dar aos africanos instrumentos de trabalho, para que eles possam permanecer em seu próprio país, construindo uma esperança real”.